Em questão de segundos eu já estava completamente hipnotizado. Sentia-me como se estivesse a observar aquela imagem por toda a minha simplória existência. Uma paz imensa submergiu em minha alma enquanto aquela aura me alcançava. Foi como nascer outra vez. Como suspirar pela primeira vez. Sentir, de fato, o preenchimento dos pulmões. Mas não com ar. Não por necessidade. Foi antes um banho de leveza. Gotas e mais gotas de pura leveza girando ao meu redor e transmitindo quietude. Vibracionando sutilmente pequenos feixes de energia positiva. Carregando amor para dentro e arrastando incompreensão para fora. Transformando o que se podia ver em mandalas gigantes e cintilantes. Envoltas por uma doce fumaça rósea, perfumada com a fragrância de mil flores de primavera. Todas elas azuis. E era possível sentir a textura do mantra mavioso que emanava sem pressa de sua singela boca. Um lanoso padme-hum que seria capaz de dar fim à mais longa invernia. Igualmente capaz de acalmar o mais iracundo vulcão. Algo tão belo que chegava a me apavorar. Mas pouco a pouco fui deixando minha talassofobia de lado. Permiti que as ondas engolissem meu hedonismo enquanto tentava entender aqueles sábios gatimanhos. Desconexa coreografia iluminada. A dança imóvel de um faquir. Uma espada à espera de coragem para brandi-la. Reluzente diante de mim, mais brilhante que qualquer Cefeida e pronta para me nomear Sir. Norb Nigaa, com os cumprimentos de Miguel Arcanjo. Dignando-me a ocupar o mais alto posto entre os mortais. Tomando-me como capaz. Seria eu? Humildemente trêmulo pela dúvida. Sem pernas físicas e de joelhos. Descobrindo-me sincero. Olhos de gêiser… Mas não intermitentes. Orbes preenchidos por uma espiral imensa de emoções. Transbordando. Descortinando a chegada do momento tão aguardado. Espera eternamente inexistente a partir de agora. De agora em diante. Daqui até sempre. E pela força do amor pude me levantar. Sustentado pela eufórica alegria contida em meu peito. A ponto de explodir em trilhões de estrelas rumo ao infinito. Muito forte, lá no alto. De onde eu podia ver a fonte daquela luz que incandescia meu coração. Iridescente centelha divina. O mais precioso dos grãos cósmicos. A mais encantadora das nebulosas. Minha filha.
Viajo há muito tempo percorrendo vários sistemas bem diferentes. A gravidade do planeta Química exerce forte atração sobre mim, mas o astro chamado Literatura é aquele no qual me sinto mais confortável. Nos entremeios e desencontros do caminho, músicas e histórias me ajudam a não perder o rumo.