Um buraco no tempo foi aberto. O espaço que havia entre o agora e meu eu perdido foi preenchido por luzes de neon cuja existência cria pontes. Transportando-me para o exato momento do salto. Até a fímbria intransponível que separa o já ido do que ainda não foi. A réstia do que poderia ser. Guardada pela esfinge de cordas que petrifica quem contesta o destino. Uma maravilhosa barreira invisível de onde se vêem galáxias, mas é impossível enxergar um palmo à frente. O ponto multiincolor da viragem, ao qual não se sobrevive; a menos que se use o escafandro cáqui feito do mais tênue material produzido em REM. O limiar de todas as emoções, sutil como um suspiro. Minha nova morada, mesmo que temporária…
Oito anos. Agora vagos; como se simplesmente nunca houvessem existido. Obliterados por uma das mais fascinantes obras do destino. Desprezados pelo tempo; tratados como oito pequenos detalhes sem importância. Oito minúsculos grãos retirados da grande ampulheta da vida. E que nesse instante não fazem falta, absolutamente. Que parecem não ter ocorrido senão em uma febre. Flutuando como uma pluma, ou uma frase incerta em uma avenida ruidosa. Que dançam atrás das íris dos corpos mortais pelo amor eternizados. Lutando contra si próprios, pois desejam nunca ter acontecido. Mas que sabem de seu peso. Que conhecem seu sabor amargo. Que latejam, choram, berram de dor e arrependimento. Inapeláveis. Causando desespero, tremor, receio… Pressionando os crânios contra os cérebros, testando a fibra de cada um até o extremo. Perfurando os esTômagOs, Rasgando as garganTas, apUnhalando os coRações, cegANdo os ouviDos, ensurdecendO os olhOs, Arrancando os Membros, enfORcando o fôlego; torturando o amor. A ponto de explodir! Mas negligenciados.
Não fica longe de mim. Você já passou muito tempo longe. Chega mais perto. Não me deixa te soltar outra vez.
E então eu podia ouvir seu abraço através de sua respiração carregada. Envolvendo-me com algo muito mais corpóreo do que somente braços. Um sentimento destilado, forte, lapidado no calor da saudade. Uma felicidade inaudível preenchendo melodiosamente o quarto. Claves de sol materializadas a partir de sinceros suspiros de afeto. Uma verdade etérea, sibilando fantasias intangíveis, porém sentidas. Ondas de arquejantes toques, sensíveis e minimalescos, redescobrindo, reconquistando. Sonhando vigilantemente o que nem em Devaneio se poderia criar. Movendo-se como pétalas ao sabor da brisa. Acariciando as fragrâncias dos olhos, sempre tão vivos! Beijando sorrisos saborosos e tão espontâneos! Os mais belos sorrisos jamais vistos. Atrás dos quais se guarda a plangência de uma bela voz. Magnífica… Valsando à luz de sua alma, que, brilhando, ofuscou o luar. Guiando-me de volta para dias de sol e sorvete. Tardes de mãos dadas e passeios oníricos, onde caminhávamos entre árvores brancoalgodoadas. Rodopiando minha mente num movimento elástico dentro e fora de portais. Viajando rumo ao passado e depois caminhando em busca do infinito. Movimentando o futuro, mas nunca no presente. Um breve piscar de olhos, suspiro efêmero, mas de extrema felicidade. Toques, sussurros novos; velhas e confortantes sensações. Quase perdidas nos becos de cada memória. Brandas, enérgicas, coloridas e desbotadas memórias. Do tipo que não é possível lembrar o gosto, mas que nunca deixam o coração.
Viajo há muito tempo percorrendo vários sistemas bem diferentes. A gravidade do planeta Química exerce forte atração sobre mim, mas o astro chamado Literatura é aquele no qual me sinto mais confortável. Nos entremeios e desencontros do caminho, músicas e histórias me ajudam a não perder o rumo.