I am not throwing away my shot
Hey yo, I’m just like my country
I’m young, scrappy and hungry
And I’m not throwing away my shot
My shot – Hamilton
Quando estava prestes a fazer vinte e oito anos, a incerteza voltou a rondar minha vida. Vi o emprego ficar na corda bamba e quase me afundei nas velhas inseguranças. Todos os medos se confirmaram na semana do meu aniversário, no presente mais amargo que eu poderia receber. Mas, diferente das últimas vezes em que algo deu errado, dessa vez me preparei.
Tracei um plano. Sabia o que deveria fazer para não voltar ao fundo do poço. Daria certo. Era hora de erguer a cabeça e começar de novo, não importava o custo. Mas, meio que sem querer, a vida se acertou sozinha. Afinal, às vezes basta uma oportunidade. Um único tiro no escuro. E eu dei esse tiro. Fiz de tudo para não desperdiçá-lo. Estou fazendo até hoje, inclusive. Mirei o alvo e acertei. Agora estou aqui, um ano depois, prestes a escrever a crônica de aniversário mais otimista dos últimos oito anos.
Não que a vida esteja perfeita. Não está, pode ter certeza disso. Mas a animação tem motivo. Estou prestes a dar o passo mais importante da minha vida. Um que julguei longe de ser concretizado nos últimos anos. Agora, ele está mais próximo do que nunca. Tudo graças ao que conquistei no último ano. Na tentativa de ser independente e viver minha própria vida. Um passo que, pela primeira vez, será dado sozinho.
Quem imaginaria que logo eu, um cara que gosta tanto de estar em meio à família e aos amigos, teria escolhido ficar sozinho por um tempo. É difícil cortar o cordão umbilical, eu sei, mas preciso fazer isso. Por mim. Para me descobrir como pessoa. Para mostrar o quanto esse ano inteiro passado na terapia me ajudou. Sem falar, lógico, das horas que vou economizar toda semana só por essa mudança de vida.
Porque, apesar de tudo estar caminhando bem, ainda sinto falta de algumas coisas. Esse tempo será importante para isso. Nos últimos dois anos, tenho produzido muito pouco daquilo que me dá prazer. Nunca escrevi tanto, isso é um fato. Mas, ao mesmo tempo, nunca escrevi tão pouco. Isso me faz falta. Faz muita falta. A tatuagem que tenho no pulso é um lembrete constante de que estou deixando de lado aquilo que mais amo. E isso me dói.
Tenho me matado de tanto trabalhar e o reconhecimento, felizmente, veio das mais diversas formas. Mas, nesse processo, tenho me esquecido de mim mesmo. Essa mudança iminente de vida também é para me lembrar disso. Lembrar de desacelerar, ter um tempo só para mim. Há alguns meses, voltei a sentir dores no peito causadas pela ansiedade. Foi horrível e não pretendo repetir. Para isso, preciso me cuidar. É uma promessa que fiz para mim mesmo. É uma promessa pela minha saúde, física e mental.
Apesar disso, começo os vinte e nove cheio de esperança. Com receio do que está por vir, mas com ânimo renovado. Como há muito tempo não sentia. Finalizei a crônica do ano passado dizendo que as mudanças só dependiam de mim. De certa forma, foi um bom conselho. Agora, a única certeza que tenho é que este ano será diferente de tudo que já vivi até hoje. Estou pronto para encarar esse desafio e chegar aos trinta como um homem melhor.
Coloquei uma nova bala e estou com o dedo no gatilho. Não pretendo perder essa chance.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.