Se fosse enumerar os grandes prazeres da vida, criar novos personagens com certeza estaria entre eles. Gostava das narrativas que construía em detalhes, mas sabia que elas nada seriam sem os personagens. Eram eles que, de alguma forma, tornavam tudo interessante.
Enquanto alguns autores se detinham na forma de contar a história, outros se preocupavam com o ambiente. Ele, por outro lado, passava horas com seus personagens. Tudo precisava estar bem definido para eles nascerem em paz.
Eram muitas questões envolvidas, mas se dedicava a responder todas com afindo, tudo para transformar seus personagens em figuras complexas. E, depois de horas de trabalho, conseguia criar algo praticamente perfeito.
Era tão perfeito que as figuras quase saiam do papel e ganhavam vida. Se olhasse para o lado durante a descrição de um personagem, tinha certeza de que o veria ao lado. No fim de um trabalho, nem conseguia imaginar que fora ele o autor daquilo, tamanha a qualidade.
Depois de ter criado muitos personagens, sentia que todos passavam a acompanhar seu trabalho de alguma forma. Quando abria um documento em branco, todos eles apoiavam em seus ombros e assistiam. Viam surgir cada palavra, acompanhavam cada parada e cada dúvida, sofriam com as frases que desapareciam nos momentos de dúvida.
E, a cada novo texto, mais personagens se juntavam aos anteriores. A cada novo texto, a pressão em fazer algo a altura dos anteriores aumentava.
Sabia que enquanto a pressão de seus personagens fosse positiva, continuaria a escrever. Mas só enquanto ela fosse uma pressão positiva e não prejudicasse ninguém.
Texto baseado livremente em Duma Key, do Stephen King. Assim que possível, faço a crítica dele por aqui.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.