Com a nova funcionalidade do Facebook de agrupar quem compartilha um mesmo link, vou passar uma estatística para você: até o momento, 29 amigos compartilharam o vídeo do Carlos Nascimento, no Jornal do SBT de ontem. Dessas 29 pessoas, 16 aprovaram a atitude dele, 9 foram neutros (não escreveram nada) e 4 foram contra a atitude. Isso sem contar o tanto de “curtir” e “compartilhar” que os posts receberam, porque aí ampliaria (e muito) esses números.
Para as duas pessoas que ainda não viram o vídeo, assista antes de qualquer coisa:
Esse comentário do Carlos Nascimento me fez pensar duas coisas: que a mídia “tradicional” ainda não está preparada para lidar com a internet e que as pessoas continuam com um pensamento errado de comunicação.
Não acompanhei o estouro do vídeo da Luiza porque, por ironia do destino, também não estava no Brasil. Pelo que vi, porém, foi como o estouro de qualquer meme. Uma propaganda inofensiva chegou na internet, a frase caiu no gosto dos internautas, eles proliferaram por todas as redes sociais e todo mundo falou sobre a Luiza por um dia inteiro. Foram milhões de frase com “menos a Luiza, que tá no Canadá” e eu, sem poder assistir ao vídeo, fiquei perdido. Não vou entrar no mérito internético dos memes, porque pra isso é ler o texto do Treta. Vou me ater apenas à comunicação.
Internet e Tv mais dependentes
Um dos atuais fluxos de informações segue um padrão interessante: um assunto sai da televisão, é comentado nas redes sociais, gera discussão e volta para a televisão. Para ilustrar como isso é comum, foi o que aconteceu nos dois casos citados no Jornal do SBT.
No caso do BBB, alguém no Twitter acompanhou a cena envolvendo os dois participantes do programa e alertou que a moça parecia desacordada (ainda não decorei os nomes dos BBBs, foi mal). A partir disso a internet se mobilizou até virar um caso de polícia, expulsarem o cara e começar uma investigação sobre o caso.
Quando o Carlos Nascimento chama isso de “assunto fútil” e critica por “chamar a atenção de um país inteiro”, discordo veementemente. Ele pode criticar o BBB, pode criticar a atitude do cara, mas nunca a discussão e o espaço para o assunto nos meios de comunicação. Estupro é coisa séria e mais comum do que se imagina. Fazer sexo com alguém bêbado é estupro? Ou só é estupro se for em um beco escuro? São perguntas para se pensar e que foram feitas em um caso como esse. É a TV sendo pautada pela web e, nesse caso, uma discussão séria. (textos bacanas sobre estupro aqui e aqui)
Mais uma vez, não entro nos méritos do programa e do que aconteceu, mas sim da discussão. Por que não aproveitar o gancho e fazer uma reportagem sobre o tema? Aí entro na parte do expectador que apoiou o jornalista. Se o SBT vai e faz aquela mega matéria sobre estupro, no tom certo, certeza que a galera criticaria porque estava se aproveitando da Globo para aumentar a audiência.
Uma coisa que ouvi na aula de “Televisão, representação e práticas culturais” carrego comigo até hoje. As pessoas falam que “o povo é burro porque assiste BBB”, “o povo é manipulado pela mídia”, o povo isso, o povo aquilo. Esse discurso é recorrente em todas as classes sociais, então onde está esse tal “povo” que todo mundo fala?
Esse “povo” simplesmente não existe. Não há um telespectador manipulado pela mídia, as pessoas vêem um conteúdo e incorporam aquilo para a vida de acordo com o que já viveram, não de acordo com o que a mídia transmitiu. A mensagem é absorvida e impacta cada pessoa de formas diferentes e os meios de comunicação sabem disso (ou pelo menos espera-se que saibam). As pessoas é que ainda precisam tomar consciência disso, que independente da classe social ou da região geográfica, as notícias serão absorvidas de formas diferentes.
Com a internet e, principalmente, com as redes sociais, as vozes são amplificadas, se unem e discursos se formam. Antes isso não era tão comum. No máximo você discutia com seus amigos, no trabalho. Agora não. Há uma rede nacional interligada, em que o texto de um advogado do Pará, explicando sobre as diferentes formas de se caracterizar um estupro, pode ser lido por alguém do Rio Grande do Sul, que pode, ou não, concordar com ele.
Recentemente assisti a uma banca de defesa de TCC em que um professor de comunicação afirmou que não acreditava no poder de mudança da internet. Fiquei chocado com o comentário, ainda mais por vir de um professor que deveria estar atento a essas transformações vividas pelo mundo.
Nós que fazemos Comunicação/Jornalismo/Publicidade não podemos achar que a internet não tem força. Pelo contrário. Ela é o último Trakinas do pacote e ninguém sabe direito como trabalhar com ela. O jornalismo online está desorientado com a nova interação com os leitores, não dá para continuar produzindo conteúdo como era feito para o impresso e esperar que as pessoas aceitem.
Menos o Carlos Nascimento, que tá no SBT
Junte a essa discussão a seguinte frase: “uma pessoa que ninguém conhece vira uma celebridade da mídia somente porque o nome apareceu milhões de vezes na internet”. Sério mesmo, Carlos Nascimento? Só porque apareceu MILHÕES de vezes? Luiza não é uma celebridade, isso você tem razão. Ela é um meme (que a Globo pela primeira vez explicou bem o que era, em algum dos jornais de hoje), algo que pode ou não perdurar. Uma webcelebridade que está lá porque os internautas quiseram, não porque a mídia “tradicional” quis. E que é perene. Talvez dure um dia, uma semana, ou um ano inteiro. Nunca se sabe. E essa é a questão da internet, que parece não ter chegado aos grandes veículos.
Parabéns para a Globo, que trabalhou a imagem da Luiza e ainda conseguiu uma entrevista assim que ela voltou do Canadá. O meme cansou rápido, como é normal. Mas isso não entra na fala do Carlos Nascimento. Fato é que fizeram algo bacana para esse momento, ouvindo o que a web tinha para dizer. Ao contrário do Nascimento, que preferiu criticar quem fez isso.
Para concluir, para mim a frase mais brilhante é: “Luiza já voltou do Canadá e nós já fomos mais inteligentes”. Quando, Carlos Nascimento, quando? Só me pergunto isso e me lembro da discussão que ficou na minha cabeça depois de assistir a Meia Noite em Paris, do Woody Allen. Mas isso já é assunto para outro post.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.