– Cara, tu lembra da Gabi?
– Gabi? Que Gabi? Aquela peituda que tu pegou na época do colégio?
– Ela mesma. Que era gostosa pra caralho.
– Nem fala. Que tem ela?
– Puxou conversa comigo no Whatsapp ontem. A gente ficou a madrugada inteira conversando e trocando fotos.
– Nossa, tem quantos anos que tu não encontra com ela? Uns cinco, seis?
– Quase isso, nem sabia que ela tinha meu número ainda.
– Mas ela veio falar o que contigo?
– Começou com aquela conversinha mole, sabe. “Nossa, quanto tempo”, “Como tá a vida?”, “Tem contato com a galera daquela época?”. Essas coisas.
– E ficou só nisso?
– Calma que nem comecei a contar. Ela tava de conversa fiada e eu rendi o assunto porque não é todo dia que uma gostosa que nem ela vem puxar papo comigo.
– Justo.
– Justíssimo. Perguntei da vida dela, ela me contou que tá trabalhando em um escritório de advocacia lá no centro, que por sinal é perto da agência.
– Por isso que ela puxou papo?
– Foi. Ela disse que viu alguém parecido comigo saindo de lá um dia e ficou sem saber se era eu mesmo.
– Mas era só isso que ela queria? Certeza que não.
– Não era mesmo. Depois da conversa mole, ela começou a dar indiretas pra gente se encontrar de novo e tal. Falou que eu tava bem bonito no dia que me viu, que eu tinha mudado bastante daquela época, perguntou se eu tava malhando. Aí a gente começou a trocar umas fotos, nada comprometedor, mas só pra gente se ver.
– Porra, cara, ela quer muito o seu corpo nu. Você se lembra de porque o namoro terminou?
– Lógico que lembro. Foi por causa do sexo.
– Vocês chegaram a transar na época do colégio? Pensei que ela era toda santinha…
– Pois é, esse foi justamente o problema. A gente não transou. Nem pegar na bunda ela deixava direito. Lembra que eu tinha acabado de perder a virgindade com a Laura quando eu conheci a Gabi? Pois é. Tava louco pra arrumar uma foda fixa e ela não me deixava fazer nada. Nem uma passadinha de mão no peito, cara. Não aguentei.
– Opa, então agora é sua chance.
– Quem dera. Na hora que a conversa foi tomando esse rumo, fui vasculhar o Facebook dela pra ver se valia a pena investir de novo. Ela tá mais gostosa do que antes, se é que isso é possível. Mas no meio das postagens e curtidas, eu meio que desconfiei que ela era virgem ainda. A curiosidade foi tanta que eu tive que perguntar pra ela.
– Sério que tu fez isso? Caralho. E ela?
– Confirmou que era.
– Puta que pariu, tu vai descabaçar a guria. Caralho, que puta sorte!
– Sorte o caralho. Lembra que eu disse que desconfiei dela ser virgem por umas coisas que ela postou no Facebook? Pois é, não tem chance nenhuma de tirar o selinho dela.
– Algum motivo especial?
– Lógico que tem. Você acha que eu ia deixar de comer uma gostosa por qualquer besteira? Quando perguntei se ela era virgem, ela me mandou uma foto da mão dela. Tinha um anel em um dos dedos.
– Espera, ela já tem namorado e tava te cantando na cara dura?
– Preferia que fosse isso, cara. Foi muito pior. O anel que ela me mostrou era aquele do Escolhi Esperar.
– Porra, que treta. E o que tu disse pra ela?
– Tentei perguntar se era isso mesmo que ela queria, se tava certa dessa decisão, que eu podia fazer ela mudar de ideia. Ela falou que era isso mesmo, que o grupo de jovens que ela participa também escolheu esperar e que eles aguentavam a tentação pensando em Jesus.
– E tu?
– Mandei ela ir fuder com Jesus, então. Só ele ia aguentar esperar o casamento antes de poder transar. Ela nunca mais me respondeu.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.