Acreditei que essa pandemia não chegaria até aqui. Fiz de tudo para tentar evitar. Boicotei os distribuidores, compartilhei imagens de protesto no Facebook, organizei um twittaço, fiz um dia sem Globo. Mas não teve jeito. O livro-praga 50 tons de cinza foi lançado no galinheiro.
A última vez que me senti tão ameaçado por um pedaço de papel foi quando lançaram Crepúsculo. Imediatamente se espalhou o que gosto de chamar de “Febre Cullen”. As galinhas ficaram apaixonadas por aquele vampiro brilhante e, como eu não correspondia aos novos “padrões de beleza e cavalheirismo”, elas simplesmente não quiseram mais saber de mim. Tudo porque eu não parecia uma fada e não brilhava no sol.
Ah, vai se fuder. Foi o pior período de seca que já passei em toda a minha vida. Elas olhavam para mim com desprezo, como se eu não prestasse. Culpa daquela maldita Stephenie Meyer. E agora vem outra escritora querendo ditar as regras sexuais aqui do galinheiro? Vá pra puta que pariu!
Tudo bem que agora é um livro que prega que as galinhas façam sexo (aleluia irmão, valeu Deus pelas preces atendidas), mas quem disse que eu correspondo ao novo estereótipo? Ao contrário do tal Grey do livro, não sou o pica das galáxias. Não sou rico, não tenho helicóptero, não sou o mais lindo do universo. E não curto sadomasoquismo.
Aliás, sempre que eu escuto “sadomasoquismo” me vem à cabeça a imagem da gorda com celulite vestida com uma roupa de couro, um chicotinho e gritando para eu bater mais forte. É involuntário. E tomara que vocês tenham imaginado essa cena, porque eu imaginei e não quero sofrer sozinho.
Fico pensando o que vai acontecer se ela ler esse texto. Do jeito que é burra, vai achar que eu tô tendo sonhos eróticos com ela e vai aparecer fantasiada de filhote do demônio, tentando me seduzir. Credo, essa é a verdadeira visão do inferno. Quero nem pensar nisso mais.
Onde eu estava mesmo? Ah sim, no granjeiro. Como se não bastasse as galinhas estarem com essa onda de sou liberal e quero fazer anal giratório amarrada de cabeça pra baixo em uma árvore, o granjeiro também resolveu brincar de 50 tons.
O problema é que aquele desgraçado comprou um livro chamado 50 tons de frango. Seria lindo se fosse uma história das nossas dificuldades de vida, mas não é. É a porra de um livro de receitas. Isso mesmo, 50 formas diferentes de preparar seu frango. Pânico define minha atual situação. Qualquer um pode ser vítima daquele maníaco. Fujam para as colinas!
Na verdade, eu espero mesmo é que ele coma a galinha gorda e morra de indigestão. Só isso. Eles se merecem.
Começou a escrever em 2008 para fugir de uma rotina massante no galinheiro e descobriu que era bom naquilo. Ou pelo menos achava que era, já que nunca conseguiu dar nenhum beijo na boca por seus textos. Dizem por aí que continua virgem, mas ele nega.