Ser escolhido como frango garanhão reprodutor de uma granja tem várias vantagens, mas com certeza a vida escolar não está entre elas.
Para vocês que não moram em um galinheiro, vamos deixar uma coisa clara: existem dois tipos de ensino por aqui. O primeiro deles, e mais organizado, são as escolas exclusivas para galinhas. Lá elas têm aula de etiqueta, de como botar um ovo perfeito, de como engordar na medida certa para não virar comida, de história galinácea, de tricô e outras coisas que parecem legais. Além disso, passam o tempo inteiro juntas, dividindo os poleiros, fazendo guerras de travesseiro só de lingerie, cumprindo apostas lésbicas…
Pelo menos é isso que eu acho que acontece lá dentro, já que nunca me deixaram passar da porta. Sou macho e, portanto, não sou bem vindo. Meu lugar é junto do segundo tipo de ensino, e mais avacalhado: as aulas de “Como ser um galo de sucesso”.
Vocês conseguem imaginar o quão deprimente elas são? Tenho certeza que não, porque só estando nas minhas penas pra entender a gravidade da situação. Quem dá essas aulas é um galo velho-caquético que deveria ter morrido em 1974, mas continua andando pelo galinheiro para assombrar os novos frangos. Como ele está pelo menos umas quatro gerações além da expectativa de vida, os métodos de ensino dele estão meio defasados.
Meio defasados, na verdade, é elogio. Sendo bem sincero, as aulas dele são uma grandessíssima merda. De acordo com os ensinamentos do Mumm-ra, o mais próximo que posso chegar de uma galinha é quatro asas de distância. O máximo que posso ver delas é o tornozelo, isso se elas deixarem. Para dar o primeiro beijo, preciso de uma autorização por escrito do pai.
Caralho, ele vive aqui há 648 anos e ainda não percebeu que essas galinhas são todas órfãs? Pra quem ele acha que vou pedir autorização para beijar? Pro Chico Xavier? E se eu quiser levar uma delas pro meu poleiro? O granjeiro vai ter que fazer um ofício em três vias e mandar pro cartório? Vá pra puta que pariu.
Se na época dele isso funcionava, hoje é diferente. Ele dá aula há tantos anos e parece que não entendeu que a principal função do frango garanhão reprodutor é comer todas as galinhas para gerar mais pintinhos. Aliás, comer é uma palavra feia… me lembra morte. Vamos recapitular. A principal função do frango garanhão reprodutor é transar com todas as galinhas para gerar mais pintinhos. É simples. Ele devia era me ensinar como fazer isso, não como fazer serenata a luz da lua para conquistar o amor da minha vida.
Sério, enfia o amor da vida no cu. Só preciso de sexo. Não porque sou pervertido, mas porque essa é a minha única função, porra! Se eu não fizer isso, o granjeiro vai me usar como ingrediente para canja e colocar outro no meu lugar. A vida é essa, meus amigos.
Desculpem pelo pânico, mas a ideia da panela tem me passado na cabeça com muita frequência. Tenho falhado na minha missão de vida, então tô com medo do granjeiro. Não é fácil convencer essas galinhas a transarem comigo. Em minha defesa, digo que elas estão cada vez mais exigentes. Quando as únicas opções são eu e o velho caquético, ser exigente não é uma escolha muito sábia.
Acho que é tudo culpa daquelas professoras da escola para galinhas, que ensinam elas a serem mais independentes e confiantes. Lá o ensino é bom, elas aprendem coisas legais para a vida. Já aqui, tenho que me contentar com o galo velho caquético. Aliás, parabéns pelo seu dia. Atrasado, porque é assim que você merece.
Se é que merece alguma coisa.
Começou a escrever em 2008 para fugir de uma rotina massante no galinheiro e descobriu que era bom naquilo. Ou pelo menos achava que era, já que nunca conseguiu dar nenhum beijo na boca por seus textos. Dizem por aí que continua virgem, mas ele nega.