Não sei que graça tudo mundo vê em comemorar o aniversário. Cada dia que passa fico mais perto de ir pra panela. Tô começando a sentir os sinais da velhice. Será que isso do lado do meu olho é um pé de galinha? Calma, frangos também têm pé de galinha? Isso deve ter outro nome na gente.
Ah quer saber de uma coisa? Pouco me importa que nome tenha. Amanhã mesmo vou marcar uma aplicação de botox. Vou aproveitar e dar uma polida no bico, que tá meio arranhado. Aposto que esse surto de metrossexualidade vai atrair alguma galinha pro meu lado.
Na verdade, espero que atraia alguém pra perto de mim, já que ninguém se lembrou de me dar parabéns hoje. O motivo é o mais estúpido de todos. O granjeiro resolveu comprar duas galinhas d’angola pra colocar aqui no galinheiro e elas viraram a sensação do dia. Fui deixado de lado por causa daquelas dálmatas de penas.
Tá, não vamos perder a calma. Não vou deixar meu ódio por aquelas bichinhas transparecer. Vou ter que conviver com elas agora, não é mesmo? Tenho certeza que seria bem mais fácil se elas não ficassem gritando “tôfraco” a cada cinco segundos.
É sério, elas me irritam. Elas são até bonitinhas, meio exóticas, mas de que adianta? Elas são insuportáveis! Prefiro uma mais ou menos e legal a uma gostosona e chata. Na verdade eu quero mesmo é a galinha do poleiro de cima. Isso sim é que é perfeição.
Ao contrário daquela maldita galinha gorda com celulite. Falei que ninguém lembrou do meu aniversário, mas é mentira. Tinha me esquecido dessa infeliz. Ele me acordou antes do meu horário normal pra me dar uma cesta de café da manhã, com vários produtos feitos de… milho! M-I-L-H-O! Aquela filha da puta sabe que eu odeio milho e ainda assim veio tentar me doutrinar.
Ela não deve ter achado muito simpático quando a enxotei do meu poleiro, devolvi a cesta e voltei a dormir. E consegui fazer isso só um pouco porque as malditas “tôfraco” chegaram e me acordaram de novo. O granjeiro devia obrigar elas a acordar o galinheiro inteiro, não eu. Acho que vou treinar uma pra fazer meu serviço. Ia me poupar tanta preocupação e aumentaria minhas horas de sono. Isso ia ser um ótimo presente de aniversário, inclusive.
Nossa, é mesmo, aniversário. Nem um mísero parabéns que preste no dia de hoje. Vou é voltar pro meu poleiro, colocar um tampão no ouvido e tentar dormir mais um pouco. O que eu queria mesmo era um bolo de chocolate com bastante cobertura. Mas como ninguém lembrou do meu aniversário…
Ah, ainda mato aquelas galinhas d’angola.
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Vou desativar meu antigo blog, o “Memórias de um frango”. Para isso, vou resgatar as crônicas que estavam postadas lá, dar uma repaginada e trazer para cá. Essa foi escrita no primeiro aniversário dele, por isso o tema festivo. Ela traz uma ideia que acabei nunca mais usando, que é a das galinhas d’angola, mas que um dia quero voltar com elas.
Começou a escrever em 2008 para fugir de uma rotina massante no galinheiro e descobriu que era bom naquilo. Ou pelo menos achava que era, já que nunca conseguiu dar nenhum beijo na boca por seus textos. Dizem por aí que continua virgem, mas ele nega.