Sim, sei que tem um tempão que não escrevo minhas reflexões aqui no blog. E não, não vou pedir desculpas por isso. Meu sumiço teve um motivo justificável e vocês vão me dar razão por ele: eu estava fazendo sexo. Muito sexo. Nunca fiz tanto sexo na minha vida quanto fiz nos últimos meses. Entendo que é irritante ver os outros se gabando e tal, mas como nunca pude contar vantagem sobre isso, me deixa curtir a boa fase em paz.

Mas vamos com calma, me deixa contar a história desde o início. Não sei se vocês se lembram, mas o granjeiro trouxe um galo novo pra cá. Na mente doentia dele, isso iria resolver o problema da “Grande Depressão dos Pintinhos” e, de quebra, se livraria de mim. Coitado! Mal sabia ele que fez uma terrível compra. Ou uma compra excelente, se quiser ver pelo meu ponto de vista.

Fiquei com medo quando o galo novo chegou. Não era pra menos. Aquelas galinhas safadas ficaram loucas e diziam que ele era tudo que sonharam. Boa pinta, sarado, penas bem tratadas, crista empinada, simpático. Não dá nem para estranhar elas terem gostado tanto dele, já que a outra opção sou eu. Mas quando ele descobriu que havia um outro frango no galinheiro, a primeira providência foi conversar comigo e forçar uma amizade. Confesso que relutei um pouco no início, mas agora parece que nos conhecemos desde pintinhos.

A amizade surgiu aos poucos. No começo eu o odiava por achar que ele ia roubar todas as minhas galinhas e, depois, que eu seria servido no almoço de domingo. Minha depressão só piorava, pois todos os dias, sem falta, ele teimava em vir aqui no poleiro conversar comigo. Começava a falar sobre a vida no galinheiro, sobre ele, sobre mim. Mas aos poucos me acostumei com a presença dele e a gente passou a ter ótimas conversas no fim de tarde, jogamos vídeo-game e falamos mal dos outros.

A única coisa que ele não contava era das galinhas com que ele estava transando. Preferia guardar a informação e eu respeitei. Depois de três meses de convivência, porém, percebi que alguma coisa estava errada. As galinhas estavam muito amiguinhas dele. Cercavam, pediam opinião, riam juntos. E apesar dele estar lá há um bom tempo, não conseguia ouvir o barulho irritante dos pintinhos.

Ao que tudo indicava, ele não estava fazendo o serviço para o qual foi contratado. Então em uma das nossas conversas de fim de tarde, pressionei um pouco sobre o que ele estava achando das galinhas. Ele desconversou e eu pressionei mais um pouco. Foi quando ele, meio tímido, me confessou o maior segredo dele. Era gay!

Pelo jeito, fui o último a saber da novidade. As galinhas todas já sabiam. Até o granjeiro estava desconfiado. Eu não tinha nem ideia e vocês não imaginam o meu alívio quando ele confessou isso. Garanti para ele que aquilo não fazia diferença nenhuma na nossa amizade e, na mesma hora, se formou um plano completo na minha cabeça.

Ele me ajudou a convocar todo mundo para a II Assembleia Geral das Galinhas e, dessa vez, era eu que iria presidir. O argumento que eu ia usar era bem simples:

As galinhas gostaram de ter um amigo gay >
Ele era incapaz de fazer pintinhos >
Se continuasse daquele jeito, ele iria pra panela >
Eu faria o sacrifício de transar com todas elas pra manter ele no galinheiro >
Problema da Grande Depressão dos Pintinhos resolvido
(e o problema da minha falta de sexo também, mas isso eu não precisava falar)

Por mais incrível que pareça, elas toparam. Desde então, tenho me mantido ocupado, cada dia com uma galinha diferente. Ou até com mais de uma nos dias de sorte. Além disso, o granjeiro não tem reclamado de nada. Todo mundo está feliz e eu mais ainda. De quebra ainda ganhei um melhor amigo. Acho que nunca vivi um período tão bom por aqui.

Só me recusei a transar com a galinha gorda. Sei lá que tipo de pintinho vai sair daquela demônia…

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Este é o último texto da “Saga da Grande Depressão de Pintinhos”. A ordem de leitura é a seguinte: Reflexões virginais de um frango, Reflexões indignadas de um frango e Reflexões ciumentas de um frango.