O final de semana em Hockenheim foi perfeito para a Ferrari. O pacote de mudanças do meio da temporada fez efeito no GP da Alemanha e a equipe italiana voltou a andar entre os primeiros colocados, cotando-se como uma das favoritas para a prova. Tudo isso se confirmou nos treinos. Na sexta, os dois carros vermelhos estavam na ponta. No treino classificatório, Alonso em segundo e Felipe em terceiro, atrás apenas do excelente carro de Vettel, da RBR.
A largada mostrou o que todo mundo já esperava. Vettel não largou bem, tentando prensar Fernando Alonso contra o muro e acabou perdendo a posição pro espanhol. Com isso, Massa conseguiu pular da terceira para a primeira posição.
E nunca nessa temporada os carros da Ferrari foram tão bons. Mesmo o ótimo desempenho de Vettel, que seguia firme na terceira posição, conseguiu atrapalhar o foco das câmeras de transmissão que a toda hora tinha que mostrar os carros vermelhos brigando pela melhor volta da corrida.
A reviravolta
Tudo ia bem até o momento que Alonso, enfim, preparou o bote em cima do Massa e os dois disputaram a primeira posição. O brasileiro defendeu até o último momento, quando conseguiu abrir novamente uma pequena vantagem em relação ao companheiro de equipe. No rádio, pouco tempo depois, Alonso dizia que aquilo era ridículo.
Dúvida no ar. O que era ridículo? A atitude do Massa de defender a posição ou alguma coisa que a Ferrari havia dito pro espanhol. Muita dúvida, mas passou. E Alonso continuava muito rápido, com Massa tentando responder a altura. Isso até a 48ª volta, quando o engenheiro do Massa, Rob Smedley, disse a seguinte frase: “Fernando… is… faster… than… you” e perguntou se ele podia confirmar que o piloto brasileiro entendera a mensagem. E os três pontos na frase não foram obra minha, mas para explicar o quão pausado foi dito isso (eu, que nunca entendo aqueles rádios, consegui entender perfeitamente, de tão claro que foi).
Pouco tempo depois vimos um Massa não acelerando e um Alonso passando a toda velocidade ao seu lado. E, desde então, o brasileiro que vinha fazendo voltas abaixo de 1:17:000 começou a virar acima disso. O engenheiro ainda voltou no rádio para dizer que Massa tinha tomado uma boa decisão e que eles tinham que continuar daquele jeito. Pra completar, um “sorry” com uma das vozes mais pesarosas que eu já ouvi nos rádios de equipes.
O jogo de equipe
A partir de então, Alonso abriu mais de quatro segundo em cima do Massa e o piloto brasileiro quase viu Vettel chegar com perigo para ameaçar a segunda posição, mas a corrida acabou assim. No rádio final, Alonso tenta soltar uma desculpa, perguntando no rádio se o câmbio do Massa tinha quebrado e desligam a transmissão na cara dele. No rádio do brasileiro, o engenheiro falando que ele foi magnânimo e que coisas boas estavam por vir para ele (ou algo assim, se entendi bem o rádio). Na saída, um cumprimento de Alonso com Massa e, no pódio, um brasileiro visivelmente deprimido.
Particularmente não sou contra o jogo de equipe. O que aconteceu em 2007, quando Kimi Räikkönen foi campeão com a ajuda do Massa, foi perfeitamente normal e sim, foi jogo de equipe. Estratégia.
Alonso é hoje o piloto da Ferrari que está mais perto de brigar pelo título. Que o espanhol estava mais rápido, não dá pra negar, pois isso dava pra ver na pista. Porém, só por esses fatos, não justifica induzir a troca de posições. Lembrem de 2002, quando o Rubinho deixou Schumacher passar na última curva. Foi a partir daí que começaram a proibir o jogo de equipe descarado porque havia sido demais.
Em 2010 já tivemos exemplos de que o jogo de equipe não é o que as equipes estão priorizando. Na McLaren, líder do campeonato de pilotos e de equipes, Button e Hamilton já deram uns bons encontrões lutando com garra pela primeira posição. Na RBR, os carros de Vettel e Webber já chocaram no final de uma prova, atrapalhando a equipe e a sua própria prova por causa da briga pela liderança.
Na corrida de hoje, tudo se encaminhava para acontecer algo parecido. Mas no comando estava a Ferrari, que todo mundo sabe que preza demais por sua imagem e, principalmente, pelo título de construtores (“Tragam as crianças para casa”, lembram?). Tudo se encaminhava para uma disputa na pista, mas pra que arriscar acontecer o que aconteceu com a RBR? A equipe é muito mais importante.
Já disse e volto a dizer. Não sou contra jogo de equipe. Não estou defendendo o Massa, principalmente porque minha torcida sempre foi pelo Alonso, mas casos como esse são demais. Se a F1 está tentando mudar suas regras ano após ano para aumentar a disputa nas pistas, se as equipes estão deixando isso acontecer com seus pilotos, porque não deixar isso acontecer na Ferrari?
A escuderia merece punição por essa atitude. A FIA e a FON deixaram claro na transmissão o que aconteceu, mostrando até o gráfico de desaceleração do Massa no momento da ultrapassagem. Lógico que ela vai negar, como Stefano Domenicali já disse que Massa “tinha problemas com os pneus e Alonso andava mais rapidamente”, mas é difícil provar que não foi uma ordem.
Além do mais, só me resta imaginar se a situação fosse contrária, se o Alonso fosse mais lento que o Massa. Será que o talentoso, porém esquentado e competitivo piloto espanhol deixaria que o brasileiro passasse?
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.