Por mais que ainda faltem quatro rodadas pro fim, as principais posições do Brasileirão já estão decididas. Fluminense (1º) tem nove pontos de vantagem pro Galo (2º). São Paulo (4º) tem oito à frente do Botafogo/Internacional (5º/6º). Lá embaixo, o único que parece ainda lutar
para escapar da série B é o Sport (17º), quatro pontos atrás de Bahia/Portuguesa (16º/15º). As chances matemáticas existem, mas só uma grande reviravolta pode mudar esse cenário.
E se tudo continuar como está, o Galo será o vice-líder. Na pior das hipóteses, será quarto. Isso representa a melhor posição do time desde o início do campeonato por pontos corridos, que teve o seu auge com as sétimas colocações de 2003 e 2009. Se compararmos com o ano passado, então, o crescimento foi brutal: de 15º para o G4. Mas chega de estatísticas
que o objetivo do texto não é esse.
Faço parte de uma geração de torcedores que nunca viu o Galo ganhar um título importante. Nasci em 1989 e acompanhei uma década de vacas magríssimas, em 1990. A de 2000 também não foi animadora, inclusive com a queda para a Série B. Sem motivos para alegrias, o que me fez torcer para esse time, então? Digo sem dúvidas que foi a torcida.
Ninguém da minha família acompanha futebol. Pai, mãe, irmãs, tios, tias, primos, primas, avôs. Ninguém, nem mesmo meus amigos, eram fanáticos. Quem me levou ao Mineirão pela primeira vez foi meu cunhado, quando eu tinha uns sete ou oito anos. Não me lembro que jogo era, mas minhas lembranças mais felizes envolvendo futebol estão naquele dia.
Quem já foi ao Mineirão sabe que é preciso subir um lance de degraus para ter acesso à arquibancada, pelo menos para a 7A, onde fiquei pela primeira vez). À medida que você sobe, o grito da torcida fica mais alto. Aos poucos, o gramado do estádio aparece e, na primeira vez que vi isso, arrepiei inteiro.
Não teve jeito: me apaixonei na hora. A paixão pelo Galo veio logo em seguida, quando a torcida começou a gritar, quando senti a energia daquela massa de atleticanos doidos, fanáticos por um time. As bandeiras gigantes tremulavam por todo um Mineirão lotado. Quando o time entrou em campo, o hino… ah, o hino. São poucos os hinos que se comparam ao do alvinegro das alterosas. E são pouquíssimos que são entoados com tanta potência em um estádio lotado.
Dos times grandes, talvez corinthianos, flamenguistas e gremistas consigam entender a torcida do Galo. Os outros não. Desculpa, mas é verdade. Aqui em Minas tem uma torcida apaixonada, louca pelo time mesmo nos piores momentos. Eu me lembro de 2005, quando o Galo estava prestes a ser rebaixado e o Mineirão continuava lotado, apoiando os jogadores que aplaudiam a torcida ao fim de cada jogo. Em 2006, durante a Série B, o estádio ainda estava cheio. Me lembro de jogos com 40, 50 mil pessoas. E não eram finais de campeonatos, nem nada. Eram jogos do meio da competição.
Não por acaso o time está invicto em casa desde o início do segundo semestre de 2011. Aliás, o Galo foi o único que não perdeu em casa nesse Brasileirão. A receita é simples: o Independência foi transformado em um alçapão, como muitas vezes o Atlético Paranaense faz na Arena da Baixada, como a torcida do Boca faz no La Bombonera, ou como as torcidas do nordeste fazem com seus times. Quando tem o apoio da torcida, o time se torna imbatível. Em casa, os torcedores querem a vitória a qualquer custo, nem que seja suada e no último minuto.
Não consigo entender torcidas como a do Fluminense que, mesmo com o time no G4 durante quase todo o campeonato, consegue ter uma média de apenas 12 mil torcedores, apenas a 11ª entre todos os times. Ou pior, ter apenas a 13ª colocação quando se trata de ocupação do estádio. O Galo manda seus jogos no Independência, que possui capacidade para 23 mil pessoas e mantém uma média de público de 18 mil pagantes (a média de presentes é bem maior). Claro que são vários fatores envolvidos aí e não dá para limitar a discussão, mas a torcida do Galo é o grande diferencial do time.
Dito isso, é bom deixar claro que não perdemos o Brasileirão 2012 para a arbitragem ou para fatores extracampo. Sei que os erros foram exagerados, mas não é culpa deles. O Galo perdeu para ele mesmo, para o futebol que apresentou no segundo turno e para os preciosos pontos perdidos no primeiro. Perdeu quando empatou em casa com o Bahia nas primeiras rodadas; quando sucumbiu vergonhosamente diante do Inter em Porto Alegre; nos cinco pontos perdidos diante do limitado time do Flamengo; ou mesmo a última derrota para o Coritiba, em que o time foi anulado pela marcação adversária. Perdeu também para a competência do Fluminense, que mesmo jogando mal várias partidas seguidas, conseguiu sair vencedor da maioria graças a um ataque certeiro e a uma defesa difícil de ser vazada.
Sei que o Galo está esperando por um título nacional desde 71. Não vai ser em 2012 que isso vai mudar, mas pelo menos vimos um time guerreiro, que pode almejar coisas maiores do que fugir da zona de rebaixamento. Agora o torcedor pode cobrar com mais vontade, querer o time sempre na parte de cima. Mas nunca, eu disse nunca, perder a essência de ser atleticano e torcer até mesmo contra o vento, porque isso é essencial.
Parafraseando a torcida do Corinthians, a gente não vive de títulos (porque se dependesse disso, a torcida do Galo seria medíocre), a gente vive de Atlético. Ou melhor, a gente ama o Atlético. O título não veio em 2012? Paciência. Foi o melhor time que eu vi jogar desde 1999. E se já torci como um louco por times que eram lanternas da competição, por que não continuarei fazendo isso (com mais vontade ainda) por um time que é vice-líder e vai disputar a Libertadores depois de tantos anos?
Vale a pena também a leitura do texto do Gabriel Aragão sobre o desespero das torcidas adversárias.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.