É estranho olhar para minha lista de livros lidos em 2024. Quando analiso os números de forma fria e pragmática, vejo que foram 24 obras concluídas ao longo do ano – média de duas por mês. Isso teoricamente é bom demais. Significa que mantive a leitura como um hábito, incorporado na minha rotina, e sempre tenho um livro comigo. Por outro lado, é uma quantidade muito abaixo do que estou acostumado, mostrando que preciso dedicar mais tempo para algo que gosto tanto.

Paralelo a isso, dei uma estagnada naquele plano de eliminar todos os livros não lidos da estante. Isso porque a maioria dos que li foram aquisições recentes, comprados justamente para serem lidos naquele momento. Além disso, dei preferência para as versões digitais e li bem mais no Kindle. Um ponto positivo é que não acumulei tantos livros novos, mas, por outro lado, os que estavam parados continuaram por lá. Pretendo mudar um pouco esse cenário em 2025, vamos ver se consigo.

Falando das leituras em si, duas são de autores nacionais muito falados nos últimos anos: O avesso da pele (Jeferson Tenório) e Tudo é rio (Carla Madeira). Enquanto o primeiro foi uma excelente surpresa, com uma história densa e reflexiva, o segundo foi uma decepção, com uma escrita que gosta de se ficar se mostrando mais profunda do que é. Ainda nos nacionais, li o clássico Meu pé de laranja lima (José Mauro de Vasconcelos) e fiquei encantado; o brutal e sincero Prisioneiras (Drauzio Varela); o belíssimo compilado de poemas Confissões de Minas (Carlos Drummond de Andrade); e Nascida para o trono, uma fantasia super competente do Vilto Reis.

E que fique marcado que 2024 foi o ano em que li Jane Austen pela primeira vez. Comecei com Emma e segui com Razão e sensibilidade. Estou guardando Orgulho e preconceito para o ano que vem, então podem aguardam ele na próxima lista. Também li mais um livro do Gabriel García Márquez, Memórias de minhas putas tristes, diminuindo as obras que faltam para terminar a bibliografia dele. Mas a estranheza mesmo ficou com Trilogia de Nova York (Paul Aster), que até hoje me faz ficar pensando no que li.

Além disso, li dois dos preferidos do meu melhor amigo. Ele me deu de aniversário o que aparece em segundo lugar nesta lista, mas também acabei comprando Feliz ano velho (Marcelo Rubens Paiva) – que não curti tanto assim, achei uma história de um playboyzinho que tinha tudo na mão. Isso foi antes do hype de Ainda estou aqui, que já está no meu Kindle para ler o mais breve possível.

O grande destaque, porém, está nessa reta final do ano: decidi que finalmente vou ler toda a tetralogia napolitana, da Elena Ferrante. Comecei com A amiga genial, que já tinha lido em 2019, e terminei o segundo volume, A história do novo sobrenome. Não coloquei nenhum deles neste top três porque antes quero terminar a leitura de todos, mas o potencial de entrar na lista do ano que vem é enorme. Estou amando.

Dito isso, vamos aos meus escolhidos como os melhores livros que li em 2024.

3º lugar – Um conto de duas cidades, Charles Dickens

Quando comecei a leitura de Um conto de duas cidades, fiquei muito confuso. Até mais ou menos 30% do livro, não consegui identificar para onde a história queria ir. Eram tramas meio desconexas, sem propósito de estarem ali. Apesar disso, continuei porque a leitura estava agradável e os personagens eram muito legais – embora sem muita ligação entre tudo que estava rolando. Mas, quando todas essas tramas entrelaçam, entendi o porquê desse ser um dos livros mais clássicos da literatura mundial.

Estamos tratando de um romance histórico sobre a Revolução Francesa, passado ali no final do século XVIII. Temos um autor que estudou o tema a fundo, a partir de fontes bibliográficas que falavam sobre o dia a dia da revolta. Isso traz mais humanidade para a trama, com detalhes que ajudam a imergir quem está lendo. Foi isso que, aos poucos, ocorreu comigo. Na reta final, me vi envolvido de tal ponto com os personagens que estava angustiado com tudo que poderia acontecer com eles. Isso sem falar que tem um dos melhores primeiros parágrafos da literatura.

2º lugar – Se o passado não tivesse asas, de Pepetela

Esse é um dos livros favoritos do meu melhor amigo e fui cheio de expectativas para a leitura. Não conhecia absolutamente nada sobre o Pepetela ou sobre a trama, então entrei de coração aberto para entender porque ele encantava tanto alguém que é tão importante para mim. E a obra foi me ganhando aos poucos, crescendo em mim na medida que os personagens também iam se abrindo mais e mostrando suas diversas facetas.

O mais legal, porém, foi entrar em uma nova cultura e entender aquele mundo pelos olhos dos personagens. Estamos falando de um contexto de guerra civil na Angola, em que vilarejos eram destruídos e as famílias faziam o possível para sobreviver à polícia e à guerrilha – com consequências sérias para as crianças, que muitas vezes se tornavam órfãs graças à violência constante. Matei a reviravolta da trama logo no segundo capítulo, mas não é isso o mais importante. É como eles chegaram até ali, o que tiveram que passar para continuar vivendo. É muito bonito e me pegou desprevenido.

1º lugar – Capitães da areia, de Jorge Amado

A melhor leitura do ano foi, também, o primeiro lido em 2024. Mas não teve jeito, não parei de pensar nos personagens de Capitães da areia desde que fechei a última página. Foi meu primeiro Jorge Amado, o que tem impacto na decisão de colocá-lo no topo, mas a história do grupo de meninos abandonados em Salvador é impactante por si só. Mas não é um drama pesado, apesar de ter seus momentos emocionantes. Ele é uma aventura tipicamente brasileira, divertida e com as nuances que só quem é daqui vai entender em sua plenitude.

Mas o que mais me encantou foram as pequenas tramas construídas. O livro segue uma linha geral, mas acaba funcionando quase como um folhetim, com histórias que podem ser lidas de forma independente. O primeiro capítulo é perfeito para ambientar o cenário e pincelar quem são os personagens. Você termina a leitura já doido para saber o que cada um dos meninos vai fazer. A partir daí, as histórias vão surgindo, uma melhor que a outra. E segui nesse tom de encantamento até o final da leitura, com um sentimento de orgulho por também fazer parte do bando de Pedro Bala, pelo menos por alguns dias.

Ranking dos últimos anos

2011: 3º – Desventuras em série, Lemony Snicket || 2º – Os três mosqueteiros, Alexandre Dumas || 1º – Peter Pan, J. M. Barrie
2012: 3º – A invenção de Hugo Cabret, Brian Selznick || 2º – Jogador nº 1, Ernest Cline || 1º – A torre negra, Stephen King
2013: 3º – A dança da morte, Stephen King || 2º – O encontro marcado, Fernando Sabino || 1º – Daytripper, Fábio Moon e Gabriel Bá
2014: 3º – Mrs. Dalloway, Virginia Woolf || 2º – Lolita, Vladimir Nabokov || 1º – Sandman, Neil Gaiman
2015: 3º – O velho e o mar, Ernest Hemingway || 2º – Febre de bola, Nick Hornby || 1º – O senhor das moscas, William Golding
2016: 3º – A guerra dos tronos, George R. R. Martin || 2º – Pequenos deuses, Terry Pratchett || 1º – O sol é para todos, Harper Lee
2017: 3º – Androides sonham com ovelhas elétricas?, Philip K. Dick || 2º – Anna Kariênina, Liev Tostói || 1º – A saga do Tio Patinhas, Don Rosa
2018: 3º – A guerra não tem rosto de mulher, Svetlana Aleksiévitch || 2º – David Copperfield, Charles Dickens || 1º – Cem anos de solidão, Gabriel García Márquez
2019: 3º – A redoma de vidro, Sylvia Plath || 2º – Crônica de uma morte anunciada, Gabriel García Márquez || 1° – A casa dos espíritos, Isabel Allende
2020: 3º – Valente por você, Vitor Cafaggi || 2º – Os chefes, Mario Vargas Llosa || 1º – 1984, George Orwell
2021: 3º – O grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald || 2º – As veias abertas da América Latina, Eduardo Galeano || 1º – O tempo e o vento: o continente, Érico Veríssimo
2022: 3º – Os irmãos Karamázov, Fiódor Dostoiévski || 2º – Os miseráveis, Victor Hugo || 1º – Dom Casmurro, Machado de Assis
2023: 3º – Brasil: uma biografia, Lilia Schwarcz e Heloisa Starling || 2º – As vinhas da ira, John Steinbeck || 1º – O tempo e o vento: arquipélago, Érico Veríssimo

Livros lidos em 2024

(As datas são relativas ao término da leitura)

09/01: Capitães da areia, Jorge Amado
13/01: O avesso da pele, Jeferson Tenório
27/01: Trilogia de Nova York, Paul Aster
03/02: O meu pé de laranja lima, José Mauro de Vasconcelos
08/02: Febre de cavalos, Leonardo Padura
09/03: Nascida para o trono, Vilto Reis
28/02: Magali: receita, Carol Rossetti
25/03: Fim do Império, Vilto Reis
25/03: Emma, Jane Austen
29/03: Memorias de mis putas tristes, Gabriel García Márquez
02/04: Feliz ano velho, Marcelo Rubens Paiva
14/04: Prisioneiras, Dráuzio Varella
30/04: Brand publishing e transição midiática, Paulo Henrique Ferreira
04/05: A biblioteca da meia-noite, Matt Haig
19/05: Confissões de Minas, Carlos Drummond de Andrade
26/05: 48 km, Iara Naika
07/06: Billy Summers, Stephen King
16/06: Tudo é rio, Carla Madeira
04/07: Amor(es) verdadeiro(s), Taylor Jenkins Reid
27/07: Razão e sentimento, Jane Austen
20/09: Um conto de duas cidades, Charles Dickens
30/10: Se o passado não tivesse asas, Pepetela
22/11: A amiga genial, Elena Ferrante
14/12: História de um novo sobrenome, Elena Ferrante