Desde 2019 eu não tinha um desempenho tão pífio no quesito assistir filmes. Tudo bem, foi um ano bem atípico na minha vida, em que as coisas não se encaixaram pelo simples fato de eu estar triste a maior parte do tempo. Com isso, uma das coisas que mais gosto de fazer perdeu um pouco de brilho. Não tive vontade, ânimo ou tempo para sentar e ver um filme. Quando eu conseguia fazer, estava tão cansado que não tinha pique para continuar e dormia. Acabou que só vi 48 obras – muito longe da minha meta de 100 –, e vários outras não coloquei na lista porque dei uma cochilada no meio e não voltei para terminar.
Apesar disso, consegui ver alguns filmes bons. Coisas recentes e coisas antigas que já me tinham sido recomendadas, mas que finalmente decidi dar play. Mas também reassisti bastantes coisas que são confortos para mim, quando eu precisava só dar uma relaxadinha na cabeça. E, apesar de ter ótimas indicações aí embaixo, o top 3 foi muito fácil de decidir.
Enfim, chega de enrolação. Vamos à lista.
2023
Minha mãe não tinha costume de ver filmes comigo, mas o primeiro que vi este ano ela esteve presente na maior parte dele, enquanto a gente almoçava. Deu tempo até de zuar meu sobrinho por ele ter chorado ao assistir só uns poucos minutos, sem saber nada da história. Poucos dias depois, ela morreu. Ao olhar pra minha lista, vejo como um marco do meu ano, marcado por antes e depois de Pinóquio, do Guilhermo del Toro. Ele por si só já é um filmão, que merecia ter ido para concorrer a melhor filme no Oscar, mas ter esse fator pessoal pesa muito ainda.
Ainda vivendo meu luto, não consegui realizar a tradicional maratona do Oscar. Assisti a Os banshees de Inisherin (outro filmão) e mais nada, estava preocupado em conseguir levar minha vida do jeito que dava. Com isso, os filmes vistos não têm uma lógica evidente, são apenas o que eu estava a fim de ver naquele momento. Nessa brincadeira vi uns filmes tipo O garoto na bicicleta, Arábia e Rainha de Copas, que só passaram pela minha frente e dei o play. Um deles, inclusive, tinha todos os requisitos para entrar no meu top 3, mas ficou de fora: Close.
Também aproveitei esses momentos em que eu queria ficar sozinho para rever alguns filmes que são uma espécie de conforto para mim, como Legalmente loira, Superbad, Moulin Rouge, Cinema Paradiso e Juno. Ou que eu sabia que amaria, como Encanto e Nimona (que quase ganharam um lugar no meu top 3). Ou que eram clássicos e eu nunca tinha visto, como Todo mundo quase morto e Pixote. Esse último, inclusive, foi assistido durante uma madrugada de insônia e me deixou boquiaberto com a crueza e com o quanto ele era incrível.
As experiências no cinema também foram bem selecionadas e só para ver coisas boas. O filme do Mario foi a grande surpresa, porque eu não imaginava me divertir tanto o que me diverti, mesmo ele não tendo o melhor roteiro ou as melhores técnicas. No quesito de animação, esse título fica com o Homem Aranha através do Aranhaverso, que deu sequência ao primeiro longa com maestria e me fez ficar doido pra ver o terceiro logo.
A despedida de James Gunn da direção de Guardiões das Galáxias também foi muito especial, mostrando que a Marvel ainda consegue sair do mais do mesmo. E o que falar do fenômeno Barbenheimer? Dois filmes igualmente bons, embora eu, pessoalmente, prefira Barbie a Oppenheimer. Mas quem quase beliscou um lugar no top 3 foi Assassinos da Lua das Flores, mais um filmão do Scorsese que nem parece que tem mais de três horas de duração de tão bom que é.
Feita essa longa introdução, vamos aos filmes que mais gostei de assistir em 2023.
3º lugar – The apartment (Se meu apartamento falasse/1960)
Todo mundo sempre falava que Se meu apartamento falasse era um dos melhores filmes de todos os tempos, uma comédia sem igual, mas confesso que não sabia nada sobre a história. A única coisa que tinha certeza é de que haveria um apartamento porque, bem, tá no título. Por isso, nada me preparou para quando entrei no Cine Santa Tereza para ver esse clássico e fui surpreendido com uma trama divertida sobre um cara que empresta seu apartamento para os chefes terem encontros casuais com suas amantes.
Me peguei dando risadinhas em vários momentos, mesmo sendo um filme de mais de 60 anos nas costas. Ele é charmoso como a história pede, não tem um humor bobo e é extremamente bem filmado, principalmente pelas locações serem em um espaço bem restrito, na maioria dos casos. Entendi porque ele é tão aclamado e com certeza verei de novo em diversas situações.
2º lugar – Marcel the shell with shoes on (Marcel, a Concha de Sapatos/2021)
Toda vez que penso em Marcel, a concha com sapatos, fico com um sorriso bobo no rosto. Dei play sem pretensão nenhuma, em um dia em que não estava muito bom e saí com o coração quentinho e a sensação de que dá para ser feliz com pouco. Nunca imaginei que aqueles curtas que saíam no YouTube há mais de dez anos pudessem dar origem a um filme tão sensível, bem produzido e que passa uma mensagem linda.
Filmado em um estilo de falso documentário, ele foca nas coisas do dia a dia. Nos pequenos momentos, nas coisas íntimas e nas reflexões diárias que nos ajudam a conhecer profundamente alguém. Nos aproximamos de tal forma do Marcel que entendemos seus sofrimentos, sua solidão e sua esperança com uma vida melhor. É lindo e adorável de um jeito que eu não sabia que uma concha com sapatos poderia ser.
1º lugar – Aftersun (2022)
Desde que assisti a Aftersun, sabia que ele estaria na minha lista de melhores do ano. Em um primeiro olhar, é uma história simples das memórias de uma filha sobre a viagem de férias que realizou com o pai para a Turquia. Passando essa primeira camada, vemos o quão quebrado o pai estava durante esse período, camuflando os próprios sentimentos para a filha não perceber e ter uma experiência memorável com ele. Mesmo não sendo perfeito, ele faz o possível para estar ali com ela.
No meio disso, cenas lindas passam pela nossa frente. Há dois momentos envolvendo músicas, inclusive, que são lindíssimos cada um à sua maneira. Mas o charme maior é ver tudo isso muitas vezes pelas lentes da menina, que está gravando trechos da viagem e flagra o pai em momentos reflexivos, mas não entende bem o que está acontecendo. É sensível, é um show de atuação do Paul Mescal. É meu filme preferido do ano.
Ranking dos últimos anos
2010: Empate entre Toy Story 3 e Onde vivem os monstros
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.