Depois de bater todos os meus recordes pessoais em 2021, não consegui repetir o desempenho em 2022. A aposta com meu amigo se manteve e minha meta era chegar a 100 filmes assistidos em dezembro, mas só dei play em 72 – marca atingida ainda em outubro. Até poderia ter feito um esforço extra para superar o número mágico que estabelecemos, mas meu mundo desabou no final do ano e, a partir disso, não tive mais cabeça para assistir nada.
Apesar disso, foi um ano com excelentes filmes (e alguns que assisti apenas para odiar, confesso). A escolha pelos melhores, como sempre, foi puramente pessoal e foi realizada de uma forma que eu nem consigo explicar direito. Fui demais com o coração e nunca tive dúvidas de qual seria o primeiro e o segundo colocados desde que os assisti. O terceiro é que foi mais disputado. Mas, chega de suspense. Vamos à lista!
2022
O ano começou com a tradicional maratona do Oscar, que durou até março. Novamente assisti a todos os indicados nas principais categorias e ainda explorei a de animação e a de filme internacional, o que me rendeu ótimos momentos. Ataque dos cães é um western moderno com o que de melhor o gênero pode trazer de forma reimaginada hoje em dia. Duna é grandioso e será uma duologia das mais memoráveis quando o segundo filme for lançado. O vencedor do Oscar Coda é uma delícia de assistir e dá um quentinho no coração (mas não merecia ser melhor filme). Flee foi uma experimentação interessante na hora de contar uma história tão difícil. Mas é na nova versão de West side story que meu coração foi arrebatado, filmado de maneira genial pelo Spielberg.
Também corrigi o erro de nunca ter assistido a alguns filmes clássicos. Tinha muitos anos que eu não revia Apertem os cintos, o piloto sumiu! que pareceu um filme novo (e maravilhoso) para mim. De Negócio arriscado eu só conhecia a cena clássica do Tom Cruise deslizando de meias e cueca na sala, mas foi uma grata surpresa. Seguindo no cara, vi pela primeira vez Top Gun e achei um filme bem anos 1980, o que não é um demérito. Tive a oportunidade de rever no cinema dois dos filmes que acho mais incríveis, M e Festim diabólico. E ainda segui a indicação do meu amigo da aposta e vi o alemão Great Freedom, que foi outra grata surpresa. Meu coração, porém, ficou com O show de Truman, que nunca tinha visto e que por pouquíssimo ficou de fora do top 3.
Ainda na lista de filmes que quase entraram no top 3 tem o incrível Argentina 1985, que mostra como nossos vizinhos deram um baile no Brasil quando o assunto é tratar os responsáveis pela ditadura. Central do Brasil é realmente tudo aquilo que disseram que ele seria, com uma atuação magistral da Fernanda Montenegro em uma personagem detestável que, aos poucos, aprendemos a gostar. Orfeu negro também é outro que faz jus à fama internacional que possui, mostrando que o cinema nacional tem obras incríveis. E, ainda no ritmo dos filmes brasileiros, Marte Um tem o gostinho de um filme feito no quintal de casa, com aquele sotaque gostoso e com uma história simples e cativante ao extremo. Mas, de todos esses, os que ficaram mais próximos de entrar no meu top 3 foram os dois do Monty Phyton. Em busca do cálice sagrado e, em especial, A vida de Brian, são incríveis de um jeito que poucos conseguem ser fazendo humor.
Dito isso, vamos aos filmes que mais curti assistir em 2022.
3º lugar – Bo Burnham: Inside (2021)
Poucos obras retratam tão bem o que foi estar preso em casa devido à pandemia do que esse especial do Bo Burnham para a Netflix. Sozinho, ele constrói um show musical que reflete de forma bem humorada e irônica (com alguns tons melancólicos e paranóicos) o mundo atual, o processo criativo e o quanto ele foi afetado por estar com a cabeça completamente fudida devido ao isolamento.
O mais legal é ver como é a progressão do show. Ele começa de forma otimista, com muitos planos, e aos poucos vai caindo na real de que aquilo ali vai durar mais tempo do que deveria. Ansiedade, depressão e revolta são apenas alguns dos sentimentos que ficam evidentes em cada uma das músicas. Elas, aliás, são o ponto alto desse especial, pois trazem uma série de críticas ao mundo da internet e às relações atuais. É uma viagem louca, assistida em um momento muito específico da vida e que faz todo sentido por se comunicar tão bem com a situação em que estávamos vivendo.
2º lugar – C’mon C’mon (Sempre em frente/2021)
Uma das minhas características favoritas é ser tio e um filme que fala sobre esse tipo de relação já me pegaria imediatamente. Mas aí temos uma história sensível de um jornalista de rádio que está percorrendo o país para entrevistar crianças em busca de entender o que elas esperam do futuro. Nesse caminho, ele precisa tomar conta do sobrinho de nove anos, porque a irmã – com que ele tem questões familiares – preciso ir cuidar do marido com transtornos psicológicos. Tio e sobrinho não são grandes amigos, a convivência é pouca devido ao conflito familiar, mas explorar o país juntos os ajuda a descobrir como cada um enxerga o mundo.
Não tenho nem palavras para dizer o quanto esse filme é lindo em cada uma de suas camadas. Os depoimentos reais se mesclam com uma história de descoberta do amor. O preto e branco deixa o clima melancólico, mas parece se iluminar à medida que o filme avança e as relações são melhor exploradas e entendidas. É um filme de diálogo, de silêncios e de sentimento, do jeito que gosto e que sempre me encanta.
1º lugar – Verdens Verste Menneske (A pior pessoa do mundo/2021)
Teve alguma coisa em A pior pessoa do mundo que me pegou de jeito, mas ainda não consegui entender bem e colocar em palavras. Acho que foi por refletir as indecisões da minha geração. Talvez tenha sido a forma como a personagem abraça a vida e segue em frente. Talvez por não ser um filme sobre chegadas, mas sim sobre mudanças de rota. Sobre lidar com as situações. Sobre o sentimento de estar fazendo merda e se sentir a pior pessoa do mundo em algum momento. Mas não sei bem.
É um filme aparentemente simples, sobre uma mulher na casa dos 30 anos tentando se encontrar em um mundo sem muitas expectativas. Uma história de romance que não é bem um romance tradicional. É feio, dói. Mas tem amor, tem vida. Tem uma personagem cheia de qualidades e falhas. É um filme sobre ações e consequências tão bem amarrado que me fez cair de amores. Era o que eu precisava, no momento certo.
Ranking dos últimos anos
2010: Empate entre Toy Story 3 e Onde vivem os monstros
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.