Ano passado bati meu recorde pessoal de filmes assistidos, com 80 longas. Diante disso, eu e um amigo nos colocamos a missão de chegar a pelo menos 100 neste ano. O resultado: batemos essa meta ainda em setembro e cada um tem um novo recorde para chamar de seu. Até o momento em que escrevo este post, dia 27 de dezembro, foram 147 filmes vistos – número que deve chegar a 151 se meus planos até o final do ano forem concretizados com sucesso.
Mas, apesar desse alto volume, eleger os melhores do ano acabou sendo uma tarefa mais simples do que eu previa. Isso porque tenho como regra não colocar obras que revi e, em 2021, acabei revisitando muita coisa, como você verá no texto abaixo. Tudo bem que a lista preliminar ainda tinha oito obras para fazer um top 3, mas mesmo assim foi tranquilo. E como a escolha é puramente pessoal, deixei o coração me guiar nessa brincadeira. Então, vamos a ela!
2021
O maior destaque desse ano foram duas grandes maratonas que fiz, sendo uma já concluída e outra em andamento. Em abril decidi reassistir a todos os filmes da Pixar para fazer um ranking para o blog, concluído com sucesso pouco menos de um mês depois. Como gostei do desafio, resolvi começar um novo: rever todos os longas animados da Disney. Ainda estou na metade do caminho – chegarei ao final de 2021 com 32 de 67 assistidos –, mas está sendo super divertido.
Outra maratona, essa mais tradicional, é a de filmes indicados ao Oscar. Consegui ver todos das principais categorias este ano, o que foi um feito e tanto. Além daquele que está no meu top 3, os destaques ficam com Uma noite em Miami… e os dois que quase entraram no pódio: Judas e o messias negro e Nomadland. Todos mexeram comigo de formas diferentes, valendo cada segundo na frente da tv e lembranças que me seguem até hoje. Mas foi na categoria de melhor longa de animação que veio a maior surpresa. Que me desculpe Soul, mas Wolkwalkers merecia sair da premiação com a estatueta dourada por ser um filme tão gostoso e com uma animação delicinha.
Por falar em delicinha, um dos meus filmes preferidos do ano foi Palm Springs, que entrei sem saber nada da história (não tinha visto nem o trailer) e fui surpreendido com um roteiro muito bem construído em um tema que já é batido no cinema. Outro esnobado do Oscar foi Nunca, raramente, às vezes, sempre, que trata de um tema difícil de uma forma muito honesta e bem feita. A cena que dá título ao filme, então, é maravilhosa em cada um de seus segundos. Uma das melhores do ano, na minha opinião.
Na onda de revisitar os filmes que amo, vi O gigante de ferro; Onde vivem os monstros; Pequena loja de horrores; Closer: perto demais; Os serviços de entrega da Kiki; Cantando na chuva; O segredo de Brokeback Mountain; e A rede social. Também risquei da lista alguns clássicos que nunca tinha visto, como Donnie Darko; Rambo: programado para matar; Priscilla, a rainha do deserto; Labirinto; e dois que quase entraram no top 3 deste ano: Boogie Nights: prazer sem limites (que na minha cabeça era um filme sobre a era do disco, não sobre filmes pornô) e Harry e Sally: feitos um para o outro (sim, é a melhor comédia romântica já feita).
Dos queridinhos do coração não dá para deixar In the heights de lado. O filme baseado no musical do meu homem Lin-Manuel Miranda foi um sopro de esperança e animação em um ano tão difícil. Também teve os divertidíssimos Entre facas e segredos e A família Mitchell e a revolta das máquinas, o surpreendente Amor e monstros, o bizarro Armas em jogo, o honesto Doentes de amor e a excelente atuação do Andrew Garfield com as músicas incríveis de Tick Tick… Boom.
Falando em Andrew Garfield, Homem Aranha: sem volta para casa foi meu retorno para os cinemas depois de quase dois anos e entregou tudo o que prometia e ainda mais. Quero guardar esse filme em potinho e proteger de todo mundo que ousar falar mal.
Enfim, dito isso, vamos ao meu pódio deste ano.
3º lugar – Todo sobre mi madre (Tudo sobre minha mãe/1999)
Sempre tive muita curiosidade para assistir à filmografia completa do Almodóvar e ter escolhido começar por Tudo sobre minha mãe só confirmou minhas (altas) expectativas. Tudo bem, já tinha visto Dor e glória antes, mas agora tenho um Almodóvar raiz para considerar como minha primeira experiência com o diretor. É isso que conta na minha cabeça.
Esse filme, inclusive, tinha tudo que eu esperava dele. Temos uma Madri “suja”, embrenhando no subúrbio e nos problemas que as pessoas enfrentam. Uma relação maternal que perpassa todos os âmbitos da história. Pitadas de um melodrama que só falantes do espanhol conseguem fazer. E tudo isso com um carinho pelas personagens que é difícil encontrar por aí. Todas são muito bem trabalhadas, há camadas e mais camadas de profundidade a serem exploradas com o tempo. Um filmão e uma excelente porta de entrada para quem não conhece nada dele.
2º lugar – Kimi no na wa. (Your name./2016)
Filmes sobre relações que perpassam o tempo sem têm minha atenção e Your Name nada mais é do que uma viagem sobre esse tema, explorando de forma criativa a ideia da troca de corpos para uma história que vai muito além disso. Um contraste de realidades que mostra como tradição e modernidade podem se chocar, mas que são apenas o pano de fundo de uma obra sobre memórias e como lidamos com isso. É entender-se finito, sem poderes diante do inevitável. É saber qual nosso papel e como podemos contribuir com a mudança.
Uma história simples, que se vale do silêncio e da contemplação para trabalhar temas complexos. As reviravoltas contribuem para o andamento da trama e nos deixam ainda mais preso ao que está sendo mostrado. Tudo embalado por uma animação lindíssima e uma trilha sonora igualmente bela. O filme mexeu comigo de tal forma que não tinha como ele não estar no top 3 deste ano.
1º lugar – The father (Meu pai/2020)
Desde março, quando consegui assistir a The father, sabia que ele estaria na minha lista de melhores do ano. Restava apenas saber se algum filme tiraria o posto dele, mas nada que eu vi foi mais incrível do que essa adaptação da peça de mesmo nome. E há dois fatores que me fazem colocar ele muito acima dos demais: a montagem e a atuação impecável do Anthony Hopkins.
Por ser um filme sobre um personagem com demência, a montagem dá todo o tom da confusão mental pela qual ele está passando de forma brilhante. A intercalação de cenários e personagens nos deixa tão imersos no problema que passamos a sofrer com ele, sem entender se aquilo que estamos vendo é a realidade ou não. Memórias, cenas da realidade e fantasias se mesclam para que nunca consigamos entender a totalidade do que está acontecendo – da mesma forma que o personagem também não consegue.
E tudo isso é feito com genialidade por uma das maiores atuações da carreira do Anthony Hopkins, que já tem um Hannibal Lecter no currículo e outras quatro indicações ao Oscar. Ou seja, não é pouca coisa. Um filmão que vira e mexe me faz lembrar de algumas cenas, digno de estar na primeira posição da minha lista deste ano.
Ranking dos últimos anos
2010: Empate entre Toy Story 3 e Onde vivem os monstros
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.