É com muita vergonha que venho admitir meu resultado pífio no número de episódios assistidos em 2022. Não tem desculpas. Nem mesmo meu mundo ter desabado no final do ano justifica eu ter visto apenas 130 capítulos ao longo de dez meses. Para comparação, meu pior resultado até então tinha sido em 2014, com 365 episódios. É minha pior marca desde que comecei a registrar tudo em planilhas, em 2013. Foi ridículo e minha única justificativa para isso é “a vida aconteceu”.
Também não posso dizer que vi coisas tão incríveis assim. Foram poucas séries, entre elas High School Musical: The Musical: The Series, Ms. Marvel e She-Hulk – todas bem questionáveis. Também avancei bem pouco com The Sopranos (falta mais da metade da última temporada) e só pincelei a terceira temporada de Barry. Em compensação, terminei Grace and Frankie e Brooklyn Nine-Nine, que são duas queridas no meu coração.
Com poucas opções, foi até difícil fazer a lista de melhores do ano. Não preciso nem dizer que ela estará mais enxuta do que as dos anos anteriores, mas acho que atingi um bom nível nos episódios listados abaixo.
Stranger Things – Chapter Four: Dear Billy (s4e04)

A essa altura, a trama da temporada já estava montada. Os grupos foram separados, a Eleven estava buscando uma forma de recuperar os poderes, o Hopper procurava meios de escapar da Rússia e havia um ser em Hawkins tentando abrir portais a partir do sacrifício de jovens que enfrentavam dilemas psicológicos. E esse ser havia colocado Max na mira para ser o próximo alvo. Com isso, temos o ápice dessa trama de Stranger Things, naquele que considero um dos melhores episódios da série até o momento.
Vamos combinar, ninguém estava se importando muito com o que acontecia na Rússia, com os garotos ou com a Eleven. O centro de tensão estava inteiro em Hawkins e a Sadie Sink consegue carregar esse episódio inteiro sozinha. O clima é de despedida, com a menina escrevendo cartas para todos aqueles que ela amava. Ela queria viver, lógico, mas começava a aceitar o fato de que havia sido escolhida para ir. A leitura da carta no túmulo do Billy é um tapa e um abraço ao mesmo tempo. E quando ela é possuída pelo Vecna, a sensação é de que tudo está perdido, mesmo que eles tenham um plano para tentar salvá-la.
A simbologia da música favorita confortar a pessoa e a levar para um lugar seguro é linda. Quando começa a tocar Running Up That Hill, então, o episódio vira algo apoteótico. Todo desenrolar é bem feito, com a abertura de um portal de boas memórias na mente da Max para que ela possa fugir do Vecna. Um exemplo de como contar uma história e construir tensão como poucas vezes Stranger Things conseguiu fazer igual.
The marvelous mrs. Maisel – How do you get to Carnegie Hall? (s4e08)

Temporada após temporada, The marvelous mrs. Maisel tem se tornado uma das minhas séries favoritas dos anos 2010/2020. Já gostava da Amy Shermam-Palladino porque ela fez Gilmore Girls, mas aqui ela acertou a mão de tal forma que fica difícil encontrar muitos defeitos. Os textos são ágeis, os personagens cativantes e falhos e as piadas funcionam super bem. Há uma evolução natural da história, que nunca parece estar andando em círculos. E o episódio final da quarta temporada é um dos ápices disso.
Nele, Midge e Lenny finalmente se pegam, depois de muita tensão sexual entre os dois, mas esse não é o ponto central desse episódio para mim. Lenny está com apresentações esgotadas no Carnegie Hall, o principal palco para os comediantes na época. E os shows são um sucesso. Do outro lado, Midge está para baixo. Sem conseguir fazer a carreira dar uma guinada positiva, ela ainda vai lá e me recusa um trabalho indicado pelo Lenny.
É no meio de todo esse caos que ela se encontra com ele no palco do teatro e recebe a maior surra moral que ela levou em toda a série. Ele diz para ela parar de temer a falha e começar a se apresentar de fato. Ela para, olha para aquele teatro enorme, e decide virar a chave. É apoteótico sem precisar de fogos de artifício. Diz muito sem precisar falar nada. É a preparação para a quinta e última temporada, que tem tudo para terminar a série de forma incrível.
The Sopranos – Long term parking (s5e12)

O penúltimo episódio da quinta temporada de The Sopranos é um soco no estômago de quem está assistindo. Racionalmente já sabemos o que vai acontecer. Não tem jeito, é a máfia. Está avisado desde a primeira temporada. O que a personagem fez é imperdoável para eles. Mas a gente não quer ver aquilo se concretizando na tela. É cruel. É triste. Mexe com a vida de muita gente. É a despedida de alguém que acompanhamos desde a primeira temporada e que se meteu em uma enrascada da qual não podia sair. E o modo como tudo se desenrola deixa a situação mais difícil ainda de assistir.
Por isso, acho que esse é um dos melhores episódios da série até agora. Ela já tinha mostrado que não tinha medo de descartar personagens importantes se a trama pedisse isso. Aqui eles provam mais uma vez que essa premissa é real e que as ações têm consequências. Matar alguém querido se enquadra em uma das categorias mais difíceis de lidar com as consequências. Tony já teve que lidar com isso ao longo da série. Agora é a vez do Chris. É o princípio do fim e o episódio deixa isso bem evidente.
Brooklyn Nine-Nine – The good ones (s8e01)

Foram oito anos acompanhando Brooklyn Nine-Nine religiosamente. Desde o primeiro episódio, tendo que baixar a série e sincronizar as legendas tal qual os neandertais faziam. Demorei para ver a temporada final porque não queria me despedir dos personages, mas não teve jeito. Respirei fundo, dei play e fiquei feliz de ver que terminou de forma digna. Mas, de toda essa temporada, meu destaque vai para o episódio inicial, que dá o tom de como será a despedida.
Há um salto temporal que a princípio soa estranho, mas entendemos que foi devido aos acontecimentos do mundo real – que impactaram tanto fora das telas quanto dentro delas. Isso foi muito legal por parte dos produtores e roteiristas. Não tinha como ignorar as críticas sofridas pela polícia após a brutalidade sofrida por George Floyd e os protestos que se seguiram. A saída da Rosa Diaz da força policial faz todo sentido para a personagem e a discussão do episódio, sobre quem são os bonzinhos em meio à corporação, é bem desenvolvida e tem o toque de humor que Brooklyn Nine-Nine sabia empregar.
Ao mesmo tempo, é quando começamos ter um vislumbre de que aquilo é o fim. A Rosa está fora, Hitchcock aposentou e está vivendo no Brasil e, aos poucos, vamos entendendo que a 99 não será mais como era antes. É a preparação para o público, mostrando que aquela família de policiais não duraria para sempre, com cada um seguindo seu rumo no futuro.
Menção honrosa – Heartstopper

Com a vida voltando lentamente ao normal, uma série singela da Netflix ganhou meu coração e mostrou que é possível nos deixar com um sorriso bobo no rosto. Heartstopper é um romance típico, no qual os personagens se apaixonam no primeiro “olá”. Mas, ao contrário de outros romances (principalmente envolvendo pessoas do mesmo sexo), não há um sofrimento exagerado. Ninguém sai ferido. É um romance adolescente banal, no qual as pessoas ainda estão se conhecendo e estabelecendo limites pessoais antes de assumir para o mundo o que sentem. É um processo de descoberta e de entender o que você quer e merece.
Há debates pesados, como bullying e homofobia, mas tudo é feito a partir de um clima ameno e, até certo ponto, seguro. A série sopra esperança e alegria na nossa cara, mostrando que é possível ser feliz independentemente do que estiver ocorrendo. Mostra que há pessoas que nos amam e estão presentes para o que precisamos. É um quentinho no coração em um período em que tudo tende a ser muito cínico.
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Seriados assistidos em 2022
Barry, Brooklyn Nine-Nine, De volta aos 15, Grace and Frankie, Heartstopper, High School Musical: The Musical: The Series, Ms. Marvel, Russian Doll, She-Hulk: Attorney at Law, Sintonia, Stranger things, The marvelous mrs. Maisel, The Sopranos, Young Sheldon
Promessas para 2023
- Finalmente terminar The Sopranos e Mad Men;
- Maratonar The Wire e Six Feet Under;
- Eliminar todas as séries com episódios pendentes na minha lista.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.