Esta é a 10ª lista de melhores episódios de seriados publicada de forma ininterrupta aqui no blog. É uma viagem louca ter esse tipo de registro documentado por tanto tempo. Olhar os textos antigos é fazer um passeio pela minha história e pelo que senti na época. Não tenho dados precisos de 2012, pois não anotei nada de julho a dezembro, mas somei 5.321 episódios assistidos até hoje – média de 1,43/dia nos últimos 10 anos. É muita coisa, ainda mais considerando que em nove desses dez anos eu trabalhava em horário integral.
Quando fui analisar os dados de 2021, fiquei positivamente surpreso. Em um ano que o grande destaque foi a quantidade absurda de filmes vistos, até que consegui bons índices também nos seriados. No dia da publicação deste post, atingi a marca de 483 episódios assistidos, número maior do que ano passado. Na minha cabeça, tinha assistido bem menos. Ao ver minhas anotações, porém, as lembranças voltaram. O ano de 2021 foi intenso de tantas maneiras que parecia que tinha acompanhado essas séries há bem mais tempo.
E sigo na meu objetivo de ver algumas obras clássicas que nunca tinha assistido. Estou firme na proposta de terminar The Sopranos (estou na metade da 5ª temporada), mas consegui concluir Fullmetal Alchemist: Brotherhood e A lenda de Korra. Também vi algumas mais recentes que merecem destaque, como é o caso de Barry e Sex Education. Porém das queridinhas da semana, assisti apenas às da Marvel e Round 6. O resto fica para o Bruno do futuro, paciência.
Enfim, vamos aos melhores episódios que assisti em 2021.
The Sopranos – From where to eternity (s2e09) e Pine Barrens (s3e11)
Há muitos anos luto para terminar The Sopranos. Não porque ela seja ruim ou massante, pelo contrário. É uma das melhores séries que já assisti em toda a minha vida e não falo isso da boca para fora, para pagar de entendido. O problema, para mim, é que ela não funciona no esquema de maratona. Preciso degustar os episódios, ir aos pouquinhos. Dessa forma, assisto quando bate a vontade de mais um episódio. E, assim, cheguei apenas à metade da 5ª temporada.
É impressionante como tudo em The Sopranos me agrada. A premissa de um chefe da máfia atormentado que busca uma psicóloga para resolver seus problemas psicológicos é maravilhosa. A forma como isso evolui ao longo das temporadas e as relações do Tony Soprano constrói com os personagens secundários são obra de arte. Aliás, James Gandolfini faz de Tony o papel de sua vida, entregando todo o cansaço, a ferocidade e até mesmo a doçura do personagem em diversos momentos.
Eu poderia citar a série inteira nesta lista de melhores do ano, mas alguns episódios merecem destaque. College (s1e05) é quando vemos pela primeira vez a faceta de chefe da máfia implacável. The knight in white satin armor (s2e12) é um fechamento de temporada imponente, que mostrou que a série não tinha medo em se livrar de personagens em favor do desenvolvimento da trama. Em employee of the month (s3e04) vemos a dor da Dra. Melfi após um evento traumático e como ela é firme em traçar uma linha clara com seu paciente, em um dos finais de episódios mais incríveis de toda a série até o momento. Por último, Whoever did this (s4e09) nos leva a encarar um dos antagonistas da temporada e ver Tony chegar ao seu limite após um trágico acidente.
Mas os dois episódios que coloquei nesta lista mexeram mais comigo, principalmente pela forma como eles foram conduzidos. From where to eternity (s2e09) é uma viagem da cabeça do Christopher Moltisanti, que está no hospital se recuperando de um atentado. Há todo um debate sobre ir para o céu ou para o inferno que justifica cada segundo de divação e neura dos personagens. E tudo culmina com todos eles quebrando de alguma forma. Mas é o final que me pega, trazendo uma camada extra de complexidade para a Carmela Soprano.
O segundo é o aclamado Pine Barrens (s3e11), talvez o mais cômico de toda a série. Christopher e Paulie perdidos em uma floresta congelada após perderem o russo que estavam perseguindo é algo que precisa ser assistido de qualquer maneira, ainda mais pelo formato de bottle episode – o que deixa tudo ainda mais genial. The Sopranos acaba fazendo pouco uso de recursos narrativos diferentes para apresentar as histórias, então esse episódio brilha justamente por ser diferente de tudo.
The Midnight Gospel – Mouse of silver (s1e08)
Se tem um caso em que o uso de drogas é recomendado é durante os episódios de The Midnight Gospel. Do mesmo criador de um dos meus desenhos favoritos (Pendleton Ward, de A hora da aventura), a série é um exercício de experimentação psicodélica mesclado com conversas filosóficas que perpassam temas relevantes para nossa sociedade. Da legalização das drogas à morte, de meditação ao perdão. Tudo em entrevistas bem conduzidas, que evidenciam os pensamentos dos convidados sobre os assuntos tratados.
A ideia que surgiu após Ward ouvir The Duncan Trussell Family Hour, podcast de Duncan Trussell – que dá voz ao personagem principal da série. Juntos, eles idealizaram The Midnight Gospel. Tudo gira em torno da figura de um podcaster que vive em um trailer com acesso a um simulador, que o permite viajar por diversos mundos. Nessas viagens ele encontra os entrevistados e, a partir daí, é só sentar e apreciar essa belezinha.
Assisti a cada episódio umas duas vezes, pois em uma prestava atenção na conversa e outro na animação, que bebe muito de A hora da aventura, mas é ainda mais pirada no seu desenrolar. Nesse sentido, o destaque é o 7º episódio, que mostra várias representações da morte. Mas não só ele, todos os outros valem demais. O que vou destacar entre os melhores do ano, na verdade, está entre os melhores que já vi na vida. E não é exagero.
No 8º e último episódio dessa primeira temporada, Trussell faz uma homenagem para a mãe, a terapeuta Deneen Fendig, diagnosticada com um câncer de mama nível quatro. Toda a conversa sobre aceitação e conexão é emocionante, pontuada por desenhos de ursinhos que estudam o amor e a felicidade, em uma representação de todo o ciclo da vida. Duvido você não sair tocado de toda essa experiência. É algo belíssimo do início ao fim.
Fullmetal Alchemist: Brotherhood – A angústia de um alquimista (s1e04)
Maratonar Fullmetal Alchemist: Brotherhood foi a decisão mais acertada de todo o meu 2021. A saga dos irmãos Edward e Alphonse Elric para recuperar seus corpos após uma falha tentativa de trazer a mãe dos mortos é recheada por uma trama política intensa, uma mitologia rica envolvendo alquimia e batalhas épicas em todos os sentidos. Isso sem falar nas discussões geradas, que perpassam as ligações familiares, o sentimento de pertença e o de perda.
Perda, aliás, é um dos pontos centrais de toda a trama. É um anime em que qualquer decisão, por menor que ela seja, tem consequências sérias – ainda mais quando se utiliza a alquimia para atingir os objetivos. A ideia de troca equivalente é algo a que estamos acostumados no nosso próprio mundo, mas em Fullmetal isso é levado a extremos graças às possibilidades geradas pelas habilidades dos personagens. E é impressionante como não há sequer um personagem mal escrito. Todos possuem arcos trabalhados e agem de acordo com as expectativas criadas. Um primor de roteiro.
Os episódios que levam ao final poderiam facilmente estar nesta lista de melhores do ano, pois há um ar épico que conclui a história dos dois irmãos e da guerra montada. Minha escolha, porém, é pé no chão, do primeiro episódio que evidencia o lado negativo da alquimia. Em A angústia de um alquimista (s1e04), os irmãos vão até um pesquisador que pode ajudá-los a buscar a pedra filosofal. Ele estuda quimeras, mas as pesquisas não avançam como ele espera. A partir daqui não falo mais nada, prefiro deixar você ter o coração esmigalhado como eu tive.
Big Mouth – 5ª temporada
Vou quebrar todas as regras estabelecidas por mim mesmo ao longo dos últimos 10 anos para indicar uma temporada inteira de série. Sim, não consegui escolher um episódio específico porque ela é toda consistente, do início ao fim. E, se vale a recomendação, assista às temporadas antigas também, assim você estará apto a entender um pouco da loucura que é Big Mouth.
Acompanhando um bando de jovem recém chegados à adolescência, a série não tem pudores para falar de temas que, infelizmente, ainda são tabus. E não só questões ligadas à sexualidade, mas também sobre doenças mentais, relações familiares e entre amigos e a dor do crescimento. É o verdadeiro politicamente incorreto, pois tudo é tratado de forma a não ofender os oprimidos, mas sim para colocar o dedo na ferida de conservadores. Afinal, ver um musical com caralhinhos voadores está longe de ser algo que a tradicional família brasileira aceitaria em suas casas.
A 5ª temporada trouxe um desenvolvimento maior para questões que já vinham sendo trabalhadas nos anos anteriores, com “vilões” que foram importantes em outros momentos e novos sentimentos a serem explorados (como o amor), que precisam arrumar formas de interagir com os monstros do hormônio dos jovens. Cada episódio é uma piração diferente, do jeito que gosto. Ou seja, não tinha como deixar Big Mouth de fora dessa lista.
Menção honrosa – O caso Evandro
As série policiais sobre eventos reais invadiram os serviços de streaming nos últimos anos, mas faltava uma boa produção nacional nesse sentido. O caso Evandro é resultado do trabalho de anos do jornalista Ivan Mizanzuk, que produziu um podcast sobre o desaparecimento de um menino de seis anos na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, em 1992.
Sem conclusão na época, a história passou a fazer parte do imaginário popular e intrigou investigadores e população. Mizanzuk, então, debruçou-se sobre pilhas e pilhas de documentos e realizou entrevistas com os envolvidos para tentar desembolar um pouco do nó formado. As pesquisas resultaram em uma nova visão sobre o caso, capaz de jogar luz sobre fatos obscuros e proporcionar uma interpretação extra sobre o julgamento e sobre os condenados.
Recontar uma história que já está dada, sem acrescentar nada aos fatos, é muito simples. Mas fazer o que Mizanzuk fez ao longo desses anos e concretizou na série é para poucos. Se vale uma recomendação neste fim de ano, ouça os episódios do podcast e assista à série para apreciar uma apuração bem feita e um produto audiovisual brasileiro bem acabado.
Melhores dos anos anteriores
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Seriados assistidos em 2021
Barry, Big Mouth, Cidade Invisível, Falcon and the Winter Soldier, Hawkeye, High School Musical: The Musical: The Series, Invincible, Loki, Fullmetal Alchemist: Brotherhood, Grace and Frankie, Master of None, Modern Love, Monsters at work, O caso Evandro, Room 104, Round 6, Sex Education, Soltos em Floripa, The Flight Attendant, The Legend of Korra, The Midnight Gospel, The Sopranos, The Walking Dead, Tuca & Bertie, Wandavision, What If…, Young Sheldon
Promessas para 2022
- Finalmente terminar The Sopranos;
- Maratonar The Wire e Six Feet Under;
- Maratonar 30 Rock e Curb Your Enthusiasm;
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.