Para um ano em que passei 75% do meu tempo trabalhando, o número de seriados assistidos foi surpreendente. Até o momento, tenho 464 episódios computados na minha lista, em 32 séries diferentes e várias maratonas no meio do caminho. Tudo que acompanho está em dia, além de ter inserido algumas coisas novas na minha lista. Por outro lado, deixei de ver as séries queridinhas do momento. Isso quer dizer que não acompanhei The handsmaid Tale, This is us, Big little lies, Feud, Game of Thrones ou Fargo. Minha intenção, porém, é fazer isso o mais rápido possível.
Dito isso, vamos aos melhores episódios que assisti em 2017.
Sex and the City – My motherboard, my self (s4e08) e The ick factor (s6e14)
“Nossa, mas como você, um homem hétero, está assistindo e gostando de Sex and the city?”. Me fizeram essa pergunta diversas vezes quando contei para as pessoas que estava acompanhando a série. Além de mostrar o estigma que ela carrega, também diz muito da sociedade em que vivemos. Então explicava que, por mais que se passasse em um universo feminino, era basicamente uma crônica filmada. Sim, no fim, Sex and the city não passa de uma boa crônica em formato televisivo.
Isso foi o que mais me surpreendeu positivamente. Temos a oportunidade de acompanhar as colunas semanais escritas por Carrie Bradshaw, que discutem relacionamentos, comportamentos e o sexo propriamente dito. Tudo isso de uma forma levemente exagerada, falando sobre a vida das quatro amigas sem muitos pudores, mostrando as inseguranças de cada uma e o quanto elas ainda precisam se descobrir. Apesar de bem resolvidas em suas respectivas carreiras, a vida pessoal delas ainda é uma bagunça. E o foco do seriado é em como elas vão consertar isso.
Para esta lista, escolhi dois episódios com uma pegada mais emocional e, sem querer, os dois têm foco na Miranda (minha personagem favorita). No primeiro, My motherboard, my self, temos um momento muito bonito durante a morte da mãe da Miranda, em ela desmonta e todas as personagens precisam fazer sua parte para estarem junto com ela de alguma forma. O segundo, The ick factor, envolve um pedido de casamento inesperado e um desdobramento incrível.
Sex and the city me surpreendeu pela forma de contar as histórias. Entrei cheio de pré-conceitos, impostos a mim ao longo dos anos, mas todas foram quebrados já no primeiro episódio, quando descobri o quão delicinha é essa série. Uma das maratonas que mais valeram a pena ao longo deste ano.
Master of none – New York, I love you (s2e06) e Thanksgiving (s2e08)
A primeira temporada de Master of None já tinha sido muito boa, mas essa segunda chegou chutando a porta e dizendo a que veio logo no primeiro episódio. Ainda lidando com o término do relacionamento, Dev (vivido por Aziz Ansari, que também é o criador e roteirista) está vivendo na Itália e tentado se reencontrar. É uma belíssima homenagem ao clássico Ladrões de bicicletas, com um toque de humor que soa muito natural quando assistido.
Mas apesar desse episódio ter sido incrível, os seguintes foram melhores ainda. Isso porque o Aziz Ansari se deixou experimentar mais, criar histórias em formatos diferentes e que funcionam para movimentar a trama central. Se é que há uma trama central, já que essa é uma típica série sobre o nada. Porém o nada de Master of none é um nada politizado, que vai nas feridas e dói.
Para minha lista de melhores do ano, escolhi dois episódios que brincaram com a narrativa e criaram experiências marcantes. New York, I love you é inspirado pelo filme de mesmo nome, mas ao invés de contar casos de amor, ele se foca em personagem que estão à margem disso tudo. Pessoas ordinárias vivendo suas vidas normais, com grande destaque para um segmento completamente sem som que retrata uma personagem surda.
O segundo episódio selecionado é aquele que considero um dos melhores do ano. Em Thanksgiving, vemos o início e o crescimento da amizade entre Dev e Denise (vivida pela Lena Waithe, que também assina o roteiro). Ele se passa ao longo de vários anos, no jantar de Ação de Graças oferecido pela família da moça. Com flashbacks, vemos como ela se descobriu lésbica, como revelou para as pessoas que ama e como a relação familiar foi afetada. É um roteiro incrível, acompanhado por atuações intensas e uma mensagem muito bacana por trás.
Espero que a terceira temporada (que ainda não está confirmada) venha com a mesma qualidade dessa. É difícil, mas até agora o saldo de Master of none está mais do que positivo.
Room 104 – The internet (s1e05) e Vouyers (s1e06)
Aqui nem preciso me estender muito, já que fiz um post inteiro para falar sobre o que achei da primeira temporada de Room 104. Foi uma grata surpresa de 2017, encontrada por acaso enquanto rodava no Twitter. A cada episódio, uma história diferente de 20 e poucos minutos passada dentro do tal quarto 104. A série se permitiu brincar com formatos, utilizando o pouco tempo em cena de seus personagens para elaborar tramas por vezes surpreendentes, por vezes emocionantes.
Os dois episódios que escolhi brincam justamente com isso. Em The internet, o grande destaque é o roteiro. Todo passado durante uma ligação telefônica entre filho e mãe, ele coloca duas gerações em um embate tecnológico, que termina com uma revelação bombástica. Já em Vouyers, não há diálogos. Toda a trama é contada por um balé coreografado entre as versões atual e passada da camareira do motel. A dança pelo quarto mostra como era a vida das duas e no que elas se transformaram no futuro.
Em tempos que o experimentalismo tem sido deixado de lado para dar lugar a algoritmos e a certeza sobre o que o expectador vai gostar, Room 104 é um sopro de frescor. Mesmo que você não aprecie os episódios, é impossível deixar de reconhecer o quanto eles se esforçam para serem diferentes. E isso é muito bem-vindo.
Brooklyn Nine-Nine – HalloVeen (s5e04)
Brooklyn Nine-Nine tem sido uma das comédias mais estáveis nos últimos cinco anos. Assisto desde a estreia e posso dizer com segurança: não há nenhuma temporada nem ao menos mediana. A série policial utiliza os clichês de outras obras para construir seu humor, com um elenco recheado de ótimos nomes como seu ponto mais forte. É estranho que até hoje nenhum episódio tenha parado na minha lista de melhores do ano, mas chegou a hora de reparar esse erro.
Uma das tradições mais legais de Brooklyn Nine-Nine são os episódios de Halloween, em que uma competição insana toma conta da delegacia. HalloVeen foi a quinta edição dessa disputa e trouxe uma reviravolta no final que deixou meu coração mais quentinho por semanas. Aos poucos, Jake Peralta e Amy Santiago vão se tornando um dos meus casais preferidos do mundo dos seriados e esse episódio só coroou isso. Espero, de coração, que os roteiristas continuem fazendo um ótimo trabalho com os dois, pois há potencial para virarem os meus novos Jim e Pam, de The Office.
BoJack Horseman – Fish out of water (s3e04) e Time’s Arrow (s4e11)
Uma das melhores séries que assisti esse ano foi, sem dúvidas, BoJack Horseman. No ar há quatro anos, sempre a via no catálogo da Netflix, mas adiava começar a assistir. Sou um idiota, confesso, devia ter feito isso há mais tempo.
BoJack Horseman é um cavalo que ficou famoso (e marcado eternamente) por viver o personagem principal da série Horsin’ Around. Muitos anos depois, ele percebe que a vida não andou um passo após o fim do show. É quando começamos a acompanhar a história, que mescla o humor com o drama como poucos desenhos conseguiram fazer até hoje. Tudo começa tranquilo, mas a medida em que as temporadas avançam, o desgraçamento mental cresce junto. Para mim, isso é o mais incrível. O personagem está cada vez mais quebrado e deslocado no mundo e o tom da série acompanha esse movimento.
Para mostrar como isso ocorre, escolhi dois episódios que, para mim, estão entre os melhores que assisti esse ano. Fish out of water é um episódio praticamente mudo, em uma história que remete o distanciamento cultural e a solidão mostrada em Encontros e Desencontros, mas com o humor negro característico de BoJack Horseman. Já Time’s Arrow conta o passado da família do protagonista, com foco nos acontecimentos que transformaram a mãe na pessoa que o BoJack cresceu aprendendo a amar/odiar. Talvez esse seja o episódio que mais descaralhou minha cabeça e, por isso, merece demais estar aqui. Assim como toda a série.
Menção especial – A series of unfortunate events
O lado fanboy vai aparecer com força, me desculpem. Desventuras em Série é uma das sagas literárias mais incríveis que já passaram pelas minhas mãos. Se você gosta de crianças e cachorrinhos fofinhos, recomendo nem chegar perto dela. São 13 volumes de uma história nem um pouco feliz, com a busca dos irmãos Baudelaire por um lar após a trágica morte dos pais, em um incêndio. Conde Olaf está atrás do dinheiro que eles herdaram e fará de tudo para consegui-lo. Tudo mesmo.
Os três primeiros livros já haviam sido adaptados para um filme, em 2004, estrelado por Jim Carrey e que gosto bastante. Mas quando a Netflix anunciou que transformaria a história em uma série, surtei. Foram quase dois anos de espera entre o anúncio e a estreia, mas valeu cada minuto esperado.
A cada dois episódios, a trama de um dos livros era contada. Nessa primeira temporada, os quatro volumes iniciais foram adaptados com uma precisão de fazer inveja. O tom lúdico, brincando o perigo constante, dá o tom necessário para mostrar o quanto as crianças estão fudidas. As inserções do narrador são precisas, como o tom dado nos livros. E a atuação do Neil Patrick Harris como Conde Olaf está apenas espetacular.
Não preciso nem dizer que já estou ansioso pela próxima temporada, que deve estrear no início de 2018. Os próximos cinco livros ganharão vida e já prevejo um final dramático para a temporada, quando os órfãos começarem a descobrir o passado de seus falecidos pais. Vai ser lindo!
Melhores dos anos anteriores
– Melhores de 2016
– Melhores de 2015
– Melhores de 2014
– Melhores de 2013
– Melhores de 2012
Seriados assistidos em 2017
3%, Os 13 porquês, A hora da aventura, Bates Motel, Big Mouth, BoJack Horseman, Brooklyn Nine-Nine, Club de Cuervos, Cosmos, Desventuras em série, Elementary, Episodes, Girls, House of Cards, Love, Master of None, Modern Family, New Girl, Once Upon a Time, Pokémon, Prison Break, Rick and Morty, Room 104, Sex and the City, Sherlock, Silicon Valley, Stranger Things, The Big Bang Theory, The Get Down, The Walking Dead, Veep e Young Sheldon
Promessas para 2018
– Tomar vergonha na cara de vez e assistir Mad Men, Sopranos, Six Feet Under ou The Wire;
– Maratonar Seinfeld;
– Terminar as séries que comecei esse ano: Bates Motel e Veep.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.