Nos últimos dois anos, assisti a um número absurdo de seriados. Foram mais de 600 episódios vistos anualmente, como se minha vida dependesse disso e eu não tivesse mais nada para fazer. Com a pandemia e um excesso de trabalho, porém, é óbvio que esse número caiu. Até o momento em que escrevo este post, no dia 26 de dezembro, registrei 481 episódios assistidos, uma média de 1,31 por dia – se esse número se mantiver até o último dia do ano, claro.
E foi um ano importante porque algumas séries que acompanhei por anos tiveram a última temporada exibida. Vi o final de 3%, 13 reasons why, BoJack Horseman, Elementary, Silicon Valley, The Good Place e, principalmente, Modern family, que acompanho desde o lançamento, em 2009. Foi um alívio e, ao mesmo tempo, uma pequena tristeza em deixar algumas dessas para trás. Agora é partir para novas.
Outra coisa que fiz este ano foi tentar eliminar a lista de séries que comecei alguma vez e nunca terminei. Nessa brincadeira, maratonei Orange is the new black, Cosmos e The Walking Dead, mas não consegui terminar The Sopranos e nem comecei Mad Men. Nessa gana de me ver produções clássicas, assisti apenas poucas coisas que foram muito faladas este ano. Ou seja, não espere ver Dark, Mandalorian ou coisas desse tipo nessa lista.
Dito isso, vamos aos melhores episódios que assisti em 2020.
Veep – Veep (s7e07)
Pelo segundo ano consecutivo, Veep marca presença em minha lista de melhores episódios. E tenho certeza que, se tivesse acompanhado enquanto ela era lançada, seria figurinha carimbada em todas as retrospectivas. Não é por menos, já que a série é nada menos do que genial. Não é algo que vai te matar de tanto gargalhar, mas o roteiro é tão afiado que você se vê fascinado com aquele universo construído. Isso sem falar na Julia Louis-Dreyfus, que é um monstro da comédia e mereceu todos os reconhecimentos recebidos.
Para quem não conhece, Veep conta a história de Selina Meyer, uma vice-presidente dos Estados Unidos que não tem muito trabalho para fazer e que é completamente mal assessorada. Como este foi o fim da minha maratona, selecionei o episódio final da série para entrar nesta lista porque ele representa tudo que o show foi ao longo das sete temporadas. Prestes a conseguir seu maior objetivo, Selina simplesmente não se importa em destruir tudo e todos que estão ao seu redor, inclusive seus funcionários mais leais e que até mesmo se consideram amigos dela.
É um final brutal de um jeito que eu não esperava, mas foi perfeito em todos os sentidos. Um fechamento para uma série irretocável, mais um dos grandes acertos da história da HBO.
The Good Place – Patty (s4e12) e Whenever you’re ready (s4e13 e s4e14)
The Good Place nunca foi uma simples série de comédia. Por trás de todo o humor dos personagens e das tramas mirabolantes, sempre houve uma discussão sobre o que é ser humano e sobre a vida em si, quais os nossos propósitos no mundo e por que há uma busca incessante por ser bom. Mas, afinal, o que é ser bom nos dias atuais? O que acontece quando somos bons? Essa ideia de um lugar para pessoas que foram boas faz sentido? Essas perguntas foram levadas até os episódios finais, que fecharam de forma perfeita tudo o que foi construído ao longo de quatro anos.
No penúltimo episódio, toda a ideia do famoso Good Place é revirada. Vemos que aqueles seres imortais estão infelizes com um lugar que não os desafia, que não os deixa dar o passo seguinte. Por isso, criar esse passo seguinte foi uma atitude inteligente da série, que passou a discutir não só a vida, mas também a ideia da morte e o que isso representa para as pessoas. Esse conceito, porém, foi melhor explorado nos episódios finais, que mostram como cada personagem lida com seu momento de passagem. É um estar em paz consigo mesmo para poder seguir em frente, seja lá o que esse “em frente” signifique. Afinal, como diz um dos protagonistas em seus momentos finais, a morte é apenas a volta da onda para o mar.
O que fica é a ideia de que não importa se você é bom ou mau, o mais relevante é se você está se desenvolvendo como pessoa. E isso é lindo demais, ainda mais vindo de uma excelente série de comédia.
BoJack Horseman – The view from halfway down (s6e15)
Para encerrar a presença de episódios finais de séries neste ranking, eu não poderia deixar de falar de BoJack Horseman. Desde que comecei a assistir, todos os anos ela tem lugar cativo nesta lista. Este desenho mexeu comigo de tal forma que vira e mexe tem figurado no top 5 de melhores séries da minha vida. E os episódios finais só consolidaram isso dentro de mim.
Em BoJack Horseman, acompanhamos um ator que ficou marcado por viver o personagem principal da série Horsin’ Around. Mesmo muitos anos depois, ele não conseguiu se desvencilhar daquela figura e viu a vida se tornar um eterno looping de álcool, drogas e sexo. Ao longo das seis temporadas, acompanhamos a derrocada e as inúmeras tentativas dele se reerguer. Tudo isso até culminar no penúltimo episódio, que considero um dos mais importantes de toda a série.
Ele é um daqueles episódios experimentais, que não trazem uma estrutura padrão que marcou a série. Nele, BoJack está preso dentro de um sonho após consumir muitas drogas e cair na piscina da própria casa. Junto com ele, diversos personagens que morreram ao longo das temporadas anteriores dividem uma mesa de jantar. Com o avançar do sonho, porém, o personagem percebe que pode estar morto e começa a lutar contra a escuridão que o persegue durante todo o episódio. E, tal qual The Good Place, há todo um debate sobre o que há depois – com uma conclusão muito mais pessimista neste caso.
Enquanto o episódio final é uma grande e digna despedida (com uma das melhores cenas da série sendo a última), o que escolhi para essa lista é um soco no estômago. É BoJack Horseman em sua essência, mostrando toda a ousadia que ela soube apresentar ao longo dessas seis temporadas.
Anne with an E – What can stop the determined heart (s3e03)
Poucas séries me encantaram tanto em 2020 quanto Anne with an E. Passada no finalzinho do século XIX, no interior do Canadá, a adaptação do livro da Lucy Maud Montgomery mostra como uma órfã de 13 foi adotada por um casal e de irmãos e precisou se ajustar e crescer em um ambiente cheio de desconfiança, mas com muitos amigos, família e amor.
Para embarcar na série, porém, é preciso entender a verborragia da Anne e relevar alguns excessos de melodrama da história. Há momentos que são sofrimento em excesso, mas os outros pontos da série compensam demais esse problema. Só para me contradizer, inclusive, escolhi um episódio que é sofrimento do início ao fim, porém é um sofrimento bem feito e muito bem construído.
No terceiro episódio da terceira temporada, acompanhamos a morte de uma personagem negra recém-chegadas na série. Além de toda uma discussão sobre a questão racial em um povoado conservador, também há um tratamento muito respeitoso com relação à morte, em uma construção feita para homenagear a personagem ainda em vida e honrar a memória dela que ficará para todos. É apenas um exemplo de como a série consegue ser singela em alguns momentos e, ao mesmo tempo, trazer discussões importantes com uma certa leveza que só a Anne consegue colocar.
É uma pena ela ter sido cancelada na terceira temporada, ainda mais tendo lido o livro que a inspirou e sabendo o que poderia vir na temporada seguinte. De qualquer forma, foi uma experiência única poder acompanhar esses personagens.
The Crown – Terra Nullius (s4e06)
Se The Crown já vinha entregando temporadas excelentes nos três últimos anos, a quarta elevou ainda mais o patamar da produção. Com a presença de Margaret Thatcher e da princesa Diana, a série trouxe para o foco duas das figuras mais polêmicas que cercaram a monarquia durante o reinado da rainha Elizabeth. A forma como elas são retratadas são o grande espetáculo dessa temporada, que é impecável do início ao fim.
O episódio que selecionei para esta lista é o da viagem do príncipe Charles e da Diana para a Austrália. Vivendo um casamento repleto de infelicidade e traição, os dois partem para tentar salvar a imagem da coroa em um país que estava quase deixando a monarquia de lado. Mas não só isso, eles partem na última chance de salvar os laços do matrimônio e da família. Cheio de altos e baixos emocionais, o episódio é perfeito em mostrar como o charme natural da princesa de Gales incomodava e o quanto a paixão de Charles por outra era destrutiva para os dois como um casal.
É, definitivamente, um dos pontos mais altos de uma temporada que teve inúmeros pontos altos. Espero que a temporada de premiações finalmente reconheça as atuações brilhantes que passaram em nossa tela e o tanto que The Crown está entregando para nosso entretenimento.
Menção especial – The marvelous Mrs. Maisel
Não há dúvidas que The marvelous Mrs. Maisel foi a melhor série que acompanhei este ano. Escrita por Amy Sherman-Palladino – a mente por trás de Gilmore Girls, a série conta a história de uma dona de casa que descobre um talento para a comédia e deseja explorar isso nos palcos. O problema é que estamos nos Estados Unidos, nas décadas de 1950/1960, e há um enorme preconceito que ela precisa enfrentar a todo momento para mostrar que realmente é boa no que faz.
Ao longo das três temporadas acompanhamos o crescimento da personagem e da sua agente, que, juntas, precisam entender como começar naquela profissão, conseguir dinheiro e novas datas para exibição. Junto a isso há uma família que não apoia a filha, um casamento em frangalhos e a natural competição do mercado. Tudo permeado por um texto ridículo de bem escrito e atuações incríveis por parte de todos os personagens.
Mas falar isso é pouco para falar de Mrs. Maisel. É preciso assistir ao primeiro episódio para entender o que estou falando. Absorver cada palavra, cada set, cada figurino, cada interpretação, cada subtexto dos episódios. Duvido você não ser fisgado pela produção logo no início.
Menção especial – Monty Phyton’s Flying Circus
Costumo colocar apenas uma menção especial nas minhas listas de fim de ano, mas não teve jeito. Maratonar todos os episódios de Monty Phyton’s Flying Circus e colocar só alguns neste ranking não faria sentido. Afinal, estamos falando de um dos pilares do humor britânico e de uma série que desafiou todos os limites possíveis – e desafia até hoje, inclusive.
Sempre divididos em pequenas esquetes, os episódios são um grande apanhado de absurdos que nos fazem rir o tempo inteiro. A inquisição espanhola, o ministério da Silly Walk (não sei como ficou em português, mas pode ser algo como andar bobo ou andar ridículo), o papagaio morto e muitas outras mostram a genialidade desse grupo até os dias de hoje. Não por acaso, muitos tentam imitá-los e não conseguem, porque o que eles fizeram foi algo muito único.
O próximo passo é assistir aos filmes feitos pela galera do Monty Phyton, mas só a série já é uma experiência que levarei pro resto da minha vida.
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Seriados assistidos em 2020
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Promessas para 2021
- Terminar o ano com minha lista de episódios pendentes zerada;
- Finalizar The Sopranos, Mad Men e Pushing Daises;
- Maratonar The Wire e Six Feet Under;
- Maratonar 30 Rock;
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.