Quando o chute do Dátolo balançou as redes do Mineirão, não tive forças para comemorar. Era o 3×1. Faltava só mais um gol. Um gol. Minha reação foi a de sentar na cadeira, cobrir a cara com a camisa e ouvir a explosão da torcida. O melhor som do mundo. O som que limpou minha alma. Naquele momento, sabia que era questão de tempo até o quarto gol chegar. A torcida inteira sabia. O time inteiro sabia. Ora, até o Flamengo sabia.
Quando consegui me levantar, não era mais eu que vestia o manto sagrado. Era impossível me conter dentro de mim mesmo. Eu era parte da torcida. Um só corpo. As 45 mil pessoas no estádio. Todos os atleticanos do país. A Massa. A Massa Alvinegra. De uma forma que eu nunca havia sentido antes. Vestida com a imortalizada camisa 12, empurrando o time para frente. A cada grito de EU ACREDITO!, o time subia com mais ímpeto. Simbiose. Time e torcida eram um só. Não era fé. Era certeza.
Como todo mundo já sabia, o quarto gol veio. Uma inédita final de Copa do Brasil. O grande rival pela frente. O maior jogo que Minas Gerais já presenciou. O mais imprevisível jogo já feito nas alterosas. O time mais disciplinado taticamente contra aquele que mais tem coração. Os times que deram espetáculo durante o ano. O prêmio para o futebol ofensivo que anda em falta. O atual (e futuro) campeão brasileiro e o atual campeão da Recopa. Os melhores times do país. O clássico dos clássicos.
Chegamos à final com a certeza que de não existe o impossível. Independente do resultado de hoje, o segundo jogo é outra história. O Galo vai enfrentar o desafio que for e vai de cabeça erguida, diferente daquilo que estávamos acostumados há alguns anos.
Tudo mudou quando Riascos partiu pra bola e o pé esquerdo do Victor fez milagre. Além de salvar o time, mandou para longe a maldição da santa. Agora o Galo tinha o próprio padroeiro e nem foi preciso pintar seu manto de preto. Não haveria punição divina dessa vez. São Victor do Horto, santificado seja teu pé esquerdo, livrai de nós os nossos pecados, faça sumir as goleadas históricas em mata-matas, as humilhações anuais, a eterna fila que amargamos na Copa do Brasil, amém.
Eliminados várias vezes pelo Goiás. Paramos em Ceará, Grêmio Prudente, Vitória. Ainda choro por aquele 3×0 que o Brasiliense fez em 2002. Tem uma vitória do Botafogo entalada na minha garganta até hoje. Dessa vez vai ser diferente. Estamos juntos. Focados. A gente acredita e vai apoiar até o fim, seja lá qual for o fim escolhido pelo deuses do futebol.
Só peço que eles voltem a olhar pelo Galo novamente. Lembrem-se da Libertadores. Lembrem-se do que fizemos com Corinthians e Flamengo. Vocês gostam de uma boa história tanto quanto a gente. Optem por quem tem a melhor delas para contar. Quem vai encher os olhos dos amantes do futebol e fazê-los acreditar. Olhem por nós mais essa vez.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.