Quando fechei o último volume da Torre Negra, parei em silêncio por um tempo. Foram mais de quatro mil páginas lidas e muitos questionamentos ficaram na minha cabeça. Dentre eles, um me veio como o mais pertinente de toda a série: até onde devemos ir para alcançar nossos objetivos?
Para quem não sabe nada sobre a Torre Negra: série de sete livros escrita por Stephen King, considerada por ele mesmo como sua obra mais importante. Conta a jornada de Roland Deschain, o último pistoleiro, em busca da Torre Negra, o pilar de sustentação de todo o mundo. Fim da informação
O que Roland mais quer é chegar até o topo da Torre e descobrir o que há por lá. É por isso que ele vive, por isso que ele continua caminhando e enfrentando os mais difíceis dilemas. Tentando fazer um paralelo da história de Roland com a nossa, a Torre seria nossos objetivos, aquilo que vislumbramos para o futuro e que trabalhamos para atingir, seja a curto ou longo prazo. É ter uma família formada, um bom emprego, comprar o carro do ano, conseguir uma namorada, arrumar o almoço ou simplesmente um lugar para passar a noite.
Em certo ponto do caminho da Torre, ainda no primeiro livro, Roland precisa se decidir entre salvar alguém que amava e prosseguir em busca do objetivo. É um caso extremo, mas não são em casos extremos que nossos instintos se manifestam? Roland escolhe a Torre e, por muitas vezes, se questiona se fez o certo. É uma coisa que o livro fala o tempo todo: até onde ir por seu objetivo?
É então que volto a outra série de livros que, mesmo indiretamente, aborda essa questão. Quem se lembra da relação entre Dumbledore e Grindelwald, em Harry Potter? Sob o lema de “pelo bem maior”, os dois pretendiam dominar os trouxas (não-bruxos) e se tornarem poderosos. O único ponto de discordância entre os dois era exatamente o quanto eles precisariam usar de força para isso. Mas tinham certeza de que precisariam usar a força e tomar o poder a qualquer custo. Sem dúvidas.
Recorro aqui à velha frase “os fins justificam os meios” e todas as complicações que ela exige. Será que os fins valem mesmo qualquer atitude durante os meios? A todo tempo, Roland se questiona se os caminhos que ele trilhou foram os corretos. Se as pessoas que se ele teve que sacrificar no caminho precisavam realmente ter morrido.
“Muitos tinham feito o melhor que puderam por ele, não era verdade? Realmente muitos, começando por Susan Delgado, tantos anos atrás”
Roland acredita piamente no destino (ou no ka, como ele diria). Outras pessoas, como eu, acreditam que são donos do próprio futuro. Mas é um fato que, até chegarmos aos nossos objetivos, muita coisa precisa acontecer. Como cada pequeno ato traz consequências, agir pensando no que causará o menor impacto não é uma solução. Mas então qual é? Em casos mais drásticos, em que é necessário machucar alguém (física ou psicologicamente) ou sacrificar seu objetivo para sempre, o que fazer?
Sinceramente, não tenho uma resposta para isso e seria pretensão demais. Mas fiquei pensando sobre isso depois de ler A Torre Negra. Às vezes os fins justificam sim os meios, mas talvez essa não seja a resposta de um milhão. E você, o que acha?
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.