– Necrofilia, Genaro? Essa é a sua melhor resposta?
– Do que você tá falando, mulher?
– Isso mesmo. Fica aí falando que vai cortar minha cabeça, que vai fazer e acontecer. No fundo é tudo pra foder com a porra do meu cadáver?
– Maria Chiquinha, para de inventar. Você me trai com sei lá quem no meio do mato, eu descubro e você vem se fazer de coitadinha pra cima de mim? Paciência tem limite, né.
– Genaro, meu bem, quem está fugindo da conversa é você. Estou aqui abrindo meu coração. Cheguei toda animada para te contar o que fiz durante a tarde, aí você vem e começa a brigar comigo?
– Ah é? Então me diz o que você fez durante a tarde. Tô curioso pra saber se sua história vai coincidir com o que eu vi.
– Aí venho toda feliz para te contar o que fiz durante a tarde e você briga comigo, diz que quer arrancar a minha cabeça e fazer sexo com meu corpo MOR-TO. Porra Genaro, nunca achei que você fosse tão podre.
– Epa, espera aí? Quem é que está desvirtuando a conversa mesmo?
– E pensar que dividi a cama com você todos esses anos. O que você imaginava quando a gente se beijava? Você achava que estava em um filme de zumbi ou dentro do IML?
– Para de escândalo, meu amor. Você entendeu tudo errado.
– Meu amor é o caralho. Não me vem com carinho agora. Você me ofendeu muito. Todo esse tempo transando com você e sua tara era em me imaginar morta na cama. Se soubesse disso, tinha parado de gemer e de me movimentar tanto. Teria feito você mais feliz desse jeito.
– Sério, para de escândalo. Desculpa, tá. Não quis te ofender nem nada. Só fiquei nervoso porque achei que te vi lá no mato com outro homem.
– Sabe o que é o pior? Ainda por cima não acredita em mim. Primeiro quer foder com meu cadáver e depois me chama de mentirosa. Genaro, quero o divórcio. Estou subindo para arrumar minhas malas e estou indo embora.
– Nem brinca com isso, Maria Chiquinha. Olha, acredito em você. De verdade. Se você diz que não estava no mato com ninguém, eu acredito. Realmente vou acreditar. Você não estava no mato com ninguém. Pronto. Satisfeita?
– Um pouco. Mas nem pense em tentar fazer sexo comigo essa noite. Ainda estou com nojo de você, seu comedor de defuntos. E ai de você se resolver sair pra suas pagodeiras hoje. Se pisar fora dessa casa vai dormir na rua, ouviu?
Para ler ouvindo: Sandy e Júnior – Maria Chiquinha
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.