Não é fácil encontrar “O Melhor Abraço Do Mundo”. Ele não está à solta por aí, se oferecendo para qualquer um. Ele precisa ser conquistado e exige um alto grau de intimidade entre as duas partes. Mas não uma intimidade igual a dos casais. É necessário uma intimidade fraternal, que só grandes amigos conseguem ter.

Eu tive sorte. Recebi “O Melhor Abraço Do Mundo” pela primeira vez com apenas 16 anos. Ele veio de uma garota que nunca havia demonstrado este superpoder e em um momento pouco oportuno da minha vida. Foi, sem exageros, um dos melhores momentos daquele ano.

A responsável por isso era uma menina risonha, baixinha e com longos cabelos encaracolados. Estudávamos juntos desde o início do ensino médio e éramos apenas colegas de sala. Fazíamos alguns trabalhos juntos, conversávamos amenidades. Coisas simples, sem muita profundidade.

O dia em que recebi “O Melhor Abraço do Mundo” tinha tudo para ser o pior da minha vida. Eu havia discutido com a Priscila, minha namorada da época, e ela disse que não tinha certeza se me amava mais. Para completar, eu tinha recebido a nota final de física e visto que teria que estudar o triplo para conseguir passar de ano direto. Em resumo, eu estava bem mal.

Sem forças para ir para casa, decidi aproveitar a tarde no colégio e pensar na vida. Deitei na grama do campo de futebol, coloquei o fone de ouvido e então a realidade me deu um soco na cara. Não consegui aguentar e chorei como eu não chorava há anos. Foi quando a dona d”O Melhor Abraço Do Mundo” chegou.

Ela sentou-se do meu lado e não disse nada. Permaneceu ali até que eu tivesse forças para me levantar e me junto a ela.

– A Priscila disse que não me ama mais. Não sei o que fiz de errado!

Um olhar de compreensão passou pelo rosto dela e um sorriso acalentador se formou. Ela se levantou e me encorajou a fazer o mesmo. Quando saí do chão, ela estendeu os braços e disse: “Vem cá!”.

Não sei quando tomei consciência de que aquele era “O Melhor Abraço do Mundo”. Talvez tenha sido quando as mãos dela se enlaçaram nas minhas costas e apertaram forte. Ou talvez quando ela encostou a cabeça no meu peito e pude senti-la se mexendo no ritmo da minha respiração. Eu só sei que, quando entendi a profundidade daquele gesto, dei o meu melhor para transformá-lo em um momento que nenhum de nós esqueceria.

Ficamos abraçados por quase um minuto, sem trocar uma palavra. Estávamos apenas abraçados, sentindo a pressão dos corpos e as respirações ficarem mais leves. Quando decidimos que era o fim, desgrudamos um pouco os corpos e nos olhamos. Olho no olho, a troca mais íntima a que duas pessoas podem se submeter. Me lembro de ter dito que aquele era “O Melhor Abraço Do Mundo” e ela respondeu com um sorriso e me deu outro abraço, melhor ainda que o primeiro.

Passamos o resto da tarde conversando. Falamos sobre a escola, sobre os problemas de um relacionamento, sobre família, sobre preocupações, sobre o futuro. Nos abrimos. Falamos sobre a vida e acabamos nos tornamos grandes amigos. A partir daquele dia, sempre que eu precisava encontrar “O Melhor Abraço do Mundo” era só estender as mãos para ela e dizer: “Vem cá!”. E ela podia fazer o mesmo comigo. Nossos abraços se completavam e os dois encontravam conforto.

Talvez ele fosse tão bom por não ter segundas intenções. Não era um abraço de cumprimento ou de adeus. Não tinha nenhum interesse sexual. Era apenas um abraço. A intensidade, a proximidade, o calor, o sentimento. Tudo na medida perfeita.

Ontem sonhei que ganhava “O Melhor Abraço do Mundo” de novo. Acordei e a primeira coisa que fiz foi ligar para ela. Porém ouvir a voz não é a mesma coisa de tê-la em meus braços. Minha vontade foi de pegar o carro e dirigir as centenas de quilômetros que nos separam só para ganhar aquele abraço de novo.

Já dividi a cama com mulheres que eram excepcionais na hora do sexo. Outras que sabiam dar o beijo perfeito. Algumas eram mestres na arte da sedução. Mas eu nunca encontrei outro abraço como o dela. Não com a mesma intensidade.

E como faz falta esse abraço.

Para ler ouvindo: Fevereiro – Rafael Fontana

Esta crônica faz parte do Music Experience