“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro“
Belchior – Sujeito de sorte
Se eu pudesse definir o ano de 2019 em uma palavra seria cansaço. Estou física e mentalmente cansado há alguns meses, por diversas decisões que tomei e por pura incapacidade de me impor quando deveria. Meus olhos pesam, meu relógio biológico está desregulado e meu humor não é o mesmo de tempos mais tranquilos. E sei que a culpa é apenas minha.
A cobrança vem da minha própria cabeça. Ela é a arqui-inimiga, aquela que possui a kryptonita e não hesita em usar quando precisa. Quanto mais ela me pressiona, mais os sintomas pioram. E isso reflete na forma como lido com as pessoas no meu dia a dia, em como trato meu próprio corpo e até mesmo nas relações amorosas.
A vantagem – se é que há uma – é ter transformado todo esse surto em momentos funcionais. O tratamento terapêutico me fez entender qual era o problema e como lidar com ele. Se tenho conseguido ser um adulto funcional nesse período tão conturbado é porque aprendi a identificar a chegada de um ataque de ansiedade e canalizar as forças para resolver os problemas, um por um.
Não tem sido fácil e, ao longo do ano, fui absorvendo mais coisas para fazer do que uma pessoa normal conseguiria aguentar. Isso tem seus lados positivos, com reconhecimentos importantes sobre o trabalho realizado, mas tem cobrado seu preço. Os prazos não são cumpridos como deveriam, as coisas acumulam e o cérebro começa a cobrar que isso seja feito. Sempre às 3h da madrugada, quando eu deveria estar tendo uma boa noite de sono.
Passei alguns momentos difíceis, questionando tudo o que estava fazendo e com vontade de recomeçar do zero. Mas, analisando com calma, sei que é só uma fase a ser vivida antes de chegar onde quero. O caminho é tortuoso e parece que não vai dar em nada, mas sei que não é bem assim. É só meu cansaço falando mais alto.
E as perspectivas para 2020 não são de melhoras. Se no lado profissional ainda há alguns pontos em aberto que me preocupam, no pessoal as coisas estão ainda mais nebulosas. Tenho tomado algumas atitudes que não são sustentáveis em longo prazo e preciso rever muitas coisas antes de dar o próximo passo. Minha intenção é só não machucar ninguém no caminho, como acabei fazendo este ano com algumas pessoas.
E para começar a caminhada rumo ao que realmente quero, vou precisar sacrificar algumas coisas – inclusive parte da minha sanidade. É uma aposta calculada, da qual sei quais são todos os prós e contras. Estou disposto a correr esses riscos e tentar. Caso contrário, ano que vem o texto de exorcismo será mais frustrado do que este.
Mas sei que, apesar de tudo que falei aqui, minhas reclamações são pequenas. Meu lado racional sabe que 2019 foi um ano incrível para mim, mas nem por isso consigo ficar 100% seguro. E diante de um cenário político tenebroso, sei que as coisas poderiam estar bem piores para o meu lado, mas não estão. Poder arriscar para escolher um caminho nos dias de hoje não é para todos, porém tenho as condições necessárias para isso. É um baita privilégio que preciso aproveitar.
Entro em 2020 com a certeza de que ele será um ano decisivo para muitas coisas que quero fazer, mas não tenho porque mentir para você: estou sentindo um medinho de começar. Assim que eu colocar as engrenagens para funcionar, não terá mais volta. Espero apenas sobreviver a isso tudo da melhor forma possível.
*Este texto é um exorcismo, então escrevi com o coração na ponta dos dedos e não fiquei revisando. Por favor, relevem possíveis erros porque só queria tirar esses sentimentos de mim o mais rápido possível.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.