“Raise a glass to freedom
Something they can never take away
No matter what they tell you“
The story of tonight – Hamiton
Nunca tinha escrito um exorcismo tão otimista quanto o do ano passado, mas havia motivos. Apesar dos pesares, vivi um ano bom em 2017. Trabalhei bastante, consolidei minha posição e terminei com a expectativa de que 2018 seria ainda melhor. Na época, reclamei apenas da estagnação da minha vida. Era algo a ser mudado e eu estava pronto para fazer isso. Chego a dezembro e posso dizer que consegui.
Ao colocar na balança, este foi um dos anos mais importantes para mim. No campo profissional, recebi alguns reconhecimentos que não esperava receber tão cedo, que me trouxeram novos desafios. A terapia tem me ajudado a lidar com a cobrança excessiva e paralisante que faço em mim mesmo. Por mais que ainda não tenha conseguido superar o problema, estou encarando ele de frente e tentando achar uma solução. É um processo e acho que estou no caminho certo. As coisas estão estáveis e fico feliz em poder dizer isso.
No lado pessoal, a principal mudança é que comecei a morar sozinho. No segundo semestre, mudei para uma kitnet e tenho vivido de forma independente pela primeira vez em minha vida. O principal objetivo era ficar mais perto do trabalho e cortar meu tempo no ônibus, mas trouxe uma série de benefícios. Estou em uma área mais central de Belo Horizonte, o que me permite fazer as coisas com mais facilidade. Foi um passo enorme que dei e sinto orgulho de estar correndo tudo bem.
Sem falar que tenho aprendido, mesmo que forçado, a conviver comigo mesmo. Esse também era um dos objetivos quando decidi me mudar e digo que estou gostando da minha companhia. Às vezes (como é o caso de hoje, quando estou escrevendo esta crônica), bate um sentimento ruim de estar sem ninguém. Mas isso é algo que vou precisar lidar se realmente quero manter essa independência que lutei tanto para conseguir.
E se até agora fiz parecer que está tudo indo bem, tenho que admitir que este também foi um ano de muitas dúvidas. De me achar incapaz em 90% do tempo, de querer chutar tudo, de sentir que não estou fazendo nada do que gostaria. De ter certeza de que o que faço não tem sentido nenhum e que está consumido todo meu tempo e ânimo.
O principal reflexo disso pode ser visto no quão pouco escrevi por prazer. Nunca coloquei tantas palavras na tela de um computador como coloquei em 2018, mas pouquíssimas foram por lazer. É algo que amo fazer e está ficando de lado. Um dos planos quando me mudei era ter tempo para escrever. Acabei trocando por mais trabalho e ficou na mesma.
A vida amorosa também é outra que sofre. Não tive sequer um envolvimento mais intenso com alguém. Foram apenas encontros ocasionais, seguido por um profundo desinteresse. Meu cérebro entende, de forma errônea, que um relacionamento neste momento da minha vida seria mais uma obrigação. Como não estou pronto para isso, rechaço qualquer possibilidade sendo um babaca. O lado negativo é que meus sentimentos têm se transformado em uma eterna apatia. Não senti nada mais intenso por ninguém e é culpa exclusiva minha.
Com isso, tentei me agarrar ainda mais em meus amigos. Esse foi um ano difícil porque uma pessoa muito querida decidiu que seria bom cortar todos os laços com nosso grupo e simplesmente excluiu todos de seu círculo mais próximo. Em um ano em que meus amigos foram tão fundamentais para me manter de pé, esse foi um grande baque. Mas, apesar disso, os laços que mantenho ficaram mais fortes. Fiz tudo o que estava a meu alcance para ficar próximo das pessoas que amo e queria que elas soubessem o quão importantes foram nossos momentos juntos. Sei que tenho uma rede de pessoas em que posso confiar quando estiver para baixo. Ainda preciso aprender a me abrir melhor, mas (de novo) é um processo e estou caminhando para isso.
E se não falei até agora do elefante na sala, é porque ainda tenho medo do que pode acontecer em 2019 com um governo Bolsonaro. Tenho certeza de que não serei diretamente afetado, pelo menos não nesse primeiro momento. Não faço parte de nenhum grupo de risco, mas não dá para me esconder. Não é possível ignorar o quanto um governo despreparado pode fuder todo mundo e estou disposto a fazer o possível para que ninguém próximo sofra.
Isso faz com que minhas expectativas para o próximo ano estejam bem abaixo do que poderiam estar. Estou receoso. Entro em 2019 com o alerta ligado e mantendo uma única promessa: tentar ser uma pessoa melhor. Não sei qual será a consequência disso em um ano tão extremo como o que se aproxima, mas espero chegar ao final dele com a sensação de que fiz o que deveria ser feito.
*Este texto é um exorcismo, então escrevi com o coração na ponta dos dedos e não fiquei revisando. Por favor, relevem possíveis erros porque só queria tirar esses sentimentos de mim o mais rápido possível.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.