Não conseguia tirar os olhos daquele bilhete na sua frente. A Tia estava no quadro mostrando aquelas contas difíceis de multiplicação, mas ele não conseguia concentrar. Era a primeira vez que alguém mandava um bilhete no meio da aula e ele não sabia o que fazer.
“Ei Biel“
Pesando bem, achava que era a primeira vez que alguém se aventurava a fazer aquilo na sala. A Tia era brava e xingava todo mundo que não prestava atenção. Mas ele achava que bilhetes eram um forma legal de distrair no meio da aula.
“Eu sento no fundo só para olhar para você“
Aliás, pra que mandar bilhete? Todo mundo era coleguinha e podia conversar quando quisesse. Pra que tinham que mandar esse bilhete justo pra ele? Na frente só estava escrito “Para o Biel”. A letra era de menina, tinha certeza. Era muito mais bonita que a dele.
“Você é muito bonito e eu gosto muito de você“
Deu uma olhada em volta para tentar descobrir quem tinha mandado. Quem tinha te passado o bilhete era o Dieguinho. Mas ele só passou. Continuou procurando de onde ele podia ter vindo… Saulo? Mari? Ana Clara? Pedro? Gu? Não conseguia descobrir de jeito nenhum.
“Eu queria ser sua namorada, mas não tenho coragem de falar com você“
Resolveu abrir e descobrir quem tinha mandado aquilo. Começou a ler e não conseguiu continuar. O coração batia acelerado. Escutava a voz da professora bem baixinha, falando alguma coisa sobre quanto era sete vezes três, mas nada importava agora. Precisava terminar de ler e descobrir quem seria sua primeira namoradinha.
“Beijos da sua admiradora secreta“
Não conseguiu esconder o sorriso.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.