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Comecei a assistir Mad Men. Sim, sei que demorou, não me julguem. Comecei e é isso que importa. Mas não estou aqui para falar do seriado e do quão foda ele é. Estou aqui para falar de uma cena específica do episódio piloto. Don Draper, publicitário e personagem principal da série, encontra-se em um dilema criativo em uma de suas contas. Após muito pensar, ele acaba indo para a reunião com os clientes sem nenhuma ideia em mente. Quando perguntado, ele simplesmente gagueja e não sabe o que dizer. O grande publicitário foi desmascarado por causa de uma simples falta de ideia. É com esse medo que vivo constantemente.
Acho que alguns de vocês sabem, mas é sempre bom lembrar que sou técnico em Química Industrial. Foi um curso que gostei muito de fazer, sempre tive facilidade com exatas e me sentia muito confortável dentro de um laboratório. Apesar disso, decidi que não era o que eu queria para o resto da minha vida. O motivo foi bem simples: o ambiente da química era muito controlado.
Eu tinha um procedimento operacional padrão para seguir. Meu uniforme era um jaleco, luvas e óculos de proteção. Os trabalhos eram repetitivos. Não aguentei e decidi não seguir em frente. Fui para uma área que era o oposto de um laboratório, onde minha criatividade era estimulada a todo instante. Precisava lidar com o novo, começar a adquirir referências, aprimorar minhas habilidades.
Desde então, tenho a sensação de que sou uma fraude ambulante. Vai soar como falta de confiança ou baixa autoestima (e talvez seja), mas acho que a todo instante posso ser desmascarado. Sinto um alívio enorme a cada acerto. E cada vez que preciso encarar um documento do Word em branco ou uma nova página do Illustrator, me vem um pequeno frio na espinha. Tenho medo do texto não ser bom o suficiente. Da peça não atender aos propósitos. Fico inseguro com o material que produzo.
Até porque, hoje, não trabalho diretamente com Jornalismo, que é a área em que me sinto um pouco mais confortável. Muito do que faço envolve Publicidade e, principalmente, Marketing. Sou um cara que acredita no poder de uma boa palavra e não sou o mais indicado na arte de vender. Gosto de produzir conteúdo, não de produzir material já considerando qual a melhor palavra para atrair o consumidor ou apelando para técnicas apelativas de vendas. A necessidade tem me feito aprendendo a trabalhar dessa forma. Não que eu me sinta confortável, é apenas o modo como precisa ser feito. E a cada vez que sento na minha cadeira e ligo o notebook, o medo de foder tudo cai em cima de mim.
Tenho certeza que este é um medo muito comum de milhares de profissionais que tenham um cargo de responsabilidade em algum lugar. Principalmente os profissionais de Comunicação, porque você pode estar em um dia ruim e o que você produziu ainda sim precisa ir ao ar. Um dos meus pânicos modernos é sair algum errinho de digitação em matérias/produtos publicitários. Para evitar isso, leio milhões de vezes antes de enviar para o editor responsável. Ou, no caso da empresa em que trabalho, revejo milhões de vezes antes de enviar para a gráfica.
E, no fundo, nunca estou satisfeito com o trabalho que produzo. Sei que o texto não é o melhor possível, que a arte podia ter sido alterada em algum ponto. Então entro na paranoia de que não sou bom o suficiente e que preciso estudar mais e mais. Junto com isso, a impressão de que vou cometer um erro tão sério que vai foder tudo. É até babaca falar isso em voz alta (ou escrever), mas é a sensação que sempre tenho.
Colocar esse texto no papel é a forma que tenho de começar a lutar contra essa sensação. Ela existe e, mesmo que tenha seus benefícios, me traz muita dor de cabeça. Precisa ser mais simples. Preciso confiar mais em mim mesmo. É um processo lento e gradual, eu sei, estou trabalhando nele. Enquanto isso, vou torcendo para não foder tudo.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.