Quando acordei, você não estava mais aqui. Saiu no meio da madrugada e deixou para trás o espaço vazio no colchão. Mas não vou ser hipócrita e dizer que estou triste. Não estou. Sabia que você estava prestes a ir, só faltava definir o “quando”. Você fez isso por nós dois e sou grato. Teve a coragem – que não tive – de dar o próximo passo. Depois de tudo que aconteceu entre a gente, este era o caminho certo a trilhar.
Até porque, em uma de nossas inúmeras brigas, você jogou na minha cara que nunca te amei. E não parou por aí. Disse que eu nunca tinha sido carinhoso com você e que não entendia porque ainda estava comigo. No calor do momento, disse que você era uma puta falsa e que tinha te amado sim. Agora, pensando com a cabeça fria, concordo com o que você falou. Nunca te amei. Pelo menos não do jeito que você esperava que eu te amasse.
Você sempre quis um homem que te transformasse na princesa dos contos de fadas. Que te ligasse a todo instante para saber como estava seu dia. Que passasse no seu trabalho na hora do almoço só para te dar um beijo. Que fizesse grandes gestos de amor diários. Desculpe, mas não sou esse homem. Não sou o cara que vai correr na chuva só para te dar um beijo digno de comédias românticas. Não vou encher seu apartamento de rosas. E não espere que eu apareça debaixo da sua janela com uma trompa azul. Não sou esse tipo de homem.
Mas te amei sim. Do meu jeito, mas te amei. Tem algumas coisas sobre mim que não te contei. Você foi a primeira mulher a quem confiei a chave do meu apartamento. Era uma das poucas pessoas com quem eu gostava de assistir filmes junto. E foi o melhor sexo que já fiz na vida. A única com quem realmente me esforcei para dar prazer. Gostava da sua companhia, por mais que você achasse que nunca te amei.
Peço desculpas se não foi o suficiente para você. Me desculpe se não falei um “eu te amo” a cada hora. Se não gostava de andar abraçado pelas ruas. Essas coisas não fazem o meu tipo e você devia ter percebido isso desde o início. Foi o máximo que pude fazer e, pelo jeito, não significou nada.
Espero que você esteja reagindo a este término tão bem quanto eu.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.