Se mais uma lágrima fugisse de seus olhos, morreria. Desidratada. Havia chorado o dia inteiro. Talvez fosse essa a sua vontade. Desaparecer. Se desintegrar. Derreter. Escorrer para um bueiro escuro e solitário, onde não precisaria ser mais nada. Deixar a brisa levar seus ossos, soprar sua pele. Mas nada se resolve dessa forma. Em tudo há algo de complexo. Há tantas leis regendo o universo que é difícil explicar por que, de fato, as coisas mudam. Às vezes repentinamente, e isso dói. Mas nunca estamos preparados para algo não desejado. Alguns foram feitos para o fogo, mas também ardem. A água mata a sede, mas também afoga. Talvez fossemos melhores se soubéssemos que tudo é dual. Ou melhor, tudo pode ser dual. A muralha que separa os dois lados é tão grande quanto um grão de areia. E ela descobriu da pior forma.
Mas não se tratou de uma história comum de decepção. Bastou um olhar para que percebesse. Não foi preciso ouvir. Não foi preciso dizer. Sentir foi mais do que suficiente. Em uma fração de segundo o vinho voltou a ser água e então teve certeza de que seus caminhos nunca mais se cruzariam. Pelo menos não da forma como havia fantasiado. Daí em diante não seriam mais corpomentealmaecoração. De acordo com meu amigo, que também se chama Darvin, os dois seriam a imagem de um futuro passado. A sessão que já passou. E não haveria mais nuvens brancas com as quais poderiam brincar. O céu seria um constante temporal, cobrindo os sonhos que um dia tiveram. Transformando-os em pesadelos disformes, diante dos quais ninguém teria coragem de se manter desacordado. E foi por isso que veio à tona.
Talvez houvesse algum motivo cruel por trás de tudo. Talvez não. Mas isso só importaria para o usurpador da verdade. E só. O sol por vezes se esconde, assim como o faz a lua. Mas é certo que, em algum momento, reinarão soberanos e todos saberão de sua existência. Mesmo que prefiram ocultá-la. Assim como Meteora fazia nesse momento. Culpava a si própria, tentando justificar a dor que sentia. Mas, em sua essência, sabia que estava sendo injusta. Contudo, dessa forma sentia-se menos incomodada. E isso é compreensível. Não aceitável; compreensível. Mas isso era necessário. De tudo se extrai uma lição. E a vida, às vezes, não é uma professora muito boazinha. Mas toda cura vem da dor. E do sofrimento nasce a libertação.
Viajo há muito tempo percorrendo vários sistemas bem diferentes. A gravidade do planeta Química exerce forte atração sobre mim, mas o astro chamado Literatura é aquele no qual me sinto mais confortável. Nos entremeios e desencontros do caminho, músicas e histórias me ajudam a não perder o rumo.