Sentado naquele banco com seu fiel iPod ligado no talo, lembrou-se da primeira vez que esteve ali {O último romântico – Lulu Santos}. Era 2001 e tinha sido recém contratado como VJ da MTV. Foi para os Estados Unidos ter a prova de fogo: realizar a cobertura de um dos shows mais aguardados do ano, daquela que seria a maior banda de 2001, o Linkin Park.
No camarote de imprensa conheceu Alice, a repórter mais bonita que já vira {Beautiful Girl – INXS}. Conversando, descobriu seu cargo na Billboard, o que ela estava fazendo por ali e, o principal, que ela estava indo para o Brasil em dois meses para cobrir o submundo do rock paulista. Era tudo o que ele precisava para se apaixonar {Kiss me – Sixpence None The Richer}.
Conquistou o primeiro beijo ao som de In the end, enquanto todos ao seu redor pulavam alucinados. Mal sabia ele que só de escutar aquela música, tempos depois, seria motivo para o choro começar.
Se despediram com a promessa de se encontrar no Brasil, de continuar em contato. Foi o que aconteceu e, em julho, Alice veio {Ela vai voltar – Charlie Brown Jr.}. Trocou o apartamento de luxo pago pela revista e foi morar no apartamento do VJ. Levou-a para conhecer os principais points do rock paulistano {Envelheço na cidade – Ira!}, fez um entrevista exclusiva para o Disk MTV com ela, passearam e se amaram de um modo que nunca haviam feito antes.
Perto da despedida, o VJ estava disposto a jogar toda sua vida para o alto e partir para Nova Iorque {Vermilion part. 2 – Slipknot}. Sabia que precisava apenas terminar seu contrato para partir para a nova vida. E assim faria.
Ela foi embora no início de setembro com uma reportagem fantástica e grandes sonhos nas mãos. Enquanto não podiam se encontrar, trocavam e-mails diários. Ele se lembra muito bem do último que recebera:
“Vou fazer uma entrevista com um puta empresário musical amanhã. Me deseje sorte, eu volto à noite.”
Nunca mais voltou. Era 11 de setembro de 2001 e a entrevista era no World Trade Center. Quando recebeu a confirmação da morte, não podia acreditar no que ouvia {Boulevard of broken dreams – Green Day}. Seus ouvidos, sempre acostumados a boas músicas, não estavam preparados para notícias tão ruins. Precisou voar para Nova Iorque só para ver os destroços que consumiram a mulher que ele amara tanto.
Pelo menos uma vez por ano, repetia essa viagem e fica sentado no mesmo banco, em frente às obras no local da tragédia {Goodnight, goodnight – Maroon 5}. Fones no ouvido e lágrimas nos olhos, ele nunca conseguiu superar a perda. Sabia que teria que continuar vivendo, mas sabia que in the end, it doesn’t even matter. {Scar Tissue – Red Hot Chili Peppers}
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.