Leia a primeira parte aqui
Ontem eu beijei o Léo.
Foi a Paulinha que me avisou que ele gostava de mim. Demorei um pouco para perceber, mas era verdade. Enquanto ano passado a gente nem conversava direito – mesmo sendo da mesma sala –, esse ano tudo mudou. Todo dia ele me procurava no recreio, vinha conversar e tudo mais. Então percebi que a forma como ele falava comigo estava diferente. O modo como me olhava, como se preocupava com os meus problemas, como tentava conquistar as minhas amigas. Ele estava sendo atencioso. Aparecia nem que fosse para dizer “oi” e depois ir embora. E passei a gostar dele ali do meu lado.
Ele não é como os outros garotos de que já gostei. O Vitor é legal e conversa com todo mundo, mas não quis saber de mim. Fala o tempo inteiro de futebol, do jogo que foi com o pai, do que ele assistiu na tv, do campeonato brasileiro, espanhol, francês. Essas coisas. Depois teve o Rafinha, do oitavo ano. Nunca consegui falar com ele. Sempre está cercado de meninas, cada semana com uma diferente. Eu morria de ciúmes dele, mesmo à distância.
Até que apareceu o Léo. Ele tem sido tão legal comigo que comecei a gostar dele. Gostar muito. É tão bonitinho quando ele se atrapalha todo na hora de me fazer um elogio. Quando se assusta na hora que vê todas minhas amigas por perto. Talvez ele seja até melhor que os outros. Talvez, quem sabe, goste de mim de verdade.
Foram vários meses nesse mesmo esquema. Então percebi que ele não faria nada sem um incentivo e decidi tomar uma atitude. Ontem, no recreio, ele veio para perto de mim, como sempre faz. Falei com as meninas que precisava conversar com ele sozinha e elas saíram. Foram rindo, cochichando. Isso deixou o Léo mais nervoso ainda. Parecia que o corpo dele tremia todo de medo, coitado.
Levei ele para a quadra de vôlei, que é mais tranquila. Não tinha ninguém na arquibancada, então sentamos lá. Ele ficou parado, olhando para longe e sem saber o que fazer. Foi então que segurei a mão dele e disse:
– Você gosta de mim?
Ele demorou um pouco para responder. Abaixou a cabeça, tímido e encarou o chão por um tempo. Até que eu ouvi, meio abafado e baixinho:
– Go-go-gosto. Muito.
Pedi para olhar para mim. Ele estava todo vermelho quando levantou a cabeça. Foi então que me inclinei e dei um beijo nele. Foi meu primeiro beijo de verdade e vou me lembrar para sempre.
Para ler ouvindo: Garotos – Kid Abelha
Esta crônica faz parte do Music Experience
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.