Adoro morar em um país tropical. O clima é agradável, pode começar a chover a qualquer momento e as estações do ano são mal definidas. Morar no Brasil ainda tem uns benefícios que não encontramos em nenhum outro lugar. Não tem vulcão, furacão, terremotos devastadores, tsunamis, nada disso! Isso tudo, lógico, se o aquecimento global continuar afetando o planeta. Ah, foda-se essa discussão. Deixa isso pro Greenpeace, eu tenho mais no que pensar.
Como, por exemplo, por que meu relógio cismou em adiantar uma hora desde a semana passada? No último domingo eu dormi uma hora a menos porque o maldito se adiantou e despertou antes da hora. Por mais que eu mudasse, todo dia era a mesma coisa. Odeio horário de verão. Já é o segundo ano consecutivo que meu relógio é enganado por ele.
Isso é que dá morar em um país tropical e pobre. Até nossos métodos de marcar hora são enganados por uma convençãozinha qualquer. Só pode ser lerdeza, não tem outra explicação. Só sei que acordei uma hora mais cedo de novo e nem preciso falar que dia da semana é hoje. Óbvio que é domingo, tudo de ruim acontece no domingo.
Se bobear, até a sexta-feira treze vai cair num domingo nesse ano. Eles estão amaldiçoados. Vou mandar benzer meu calendário, fazer macumba e o escambau a quatro para ver se resolve alguma coisa. Pensando bem, será que o problema está no dia ou é comigo mesmo?
Deixa eu pensar… Final de semana passado foi dia das crianças; no outro foi eleição; antes disso choveu granizo/granito, surgiu uma goteira no meu poleiro e tive que ir dormir com a galinha gorda. Tem mais de um mês que meus domingos estão zicados. Sem contar as aulas com aquele velho caquético que nunca são interrompidas.
Caralho, eu é que estou amaldiçoado. Será que sair desse galinheiro resolve meu problema? Sei lá, me divertir um pouco, distrair minha cabeça, pegar umas franguinhas. Tem tanto tempo que estou seco que acho que voltei a ser virgem. Não consigo nem exercer minha função de frango garanhão reprodutor da granja!
Antes que alguém venha falar que é só eu dar uns pegas na gorda com celulite que meu problema será resolvido, já aviso que essa não é a solução. A última vez que eu a vi foi durante a fatídica chuva e ainda tive que dormir com ela. Foi uma merda. Mesmo se eu quisesse alguma coisa, acho que acabaria broxando.
O bom é que agora eu vou ter um ótimo pretexto para evitá-la. Vou poder falar que meu organismo ainda tem que se acostumar com o horário de verão e está funcionando com uma hora de atraso. Ótima desculpa, espero que cole! Adoro essas desculpas esfarrapadas. Quase nunca funcionam, mas são bem legais de inventar. Se eu der uma usando como pano de fundo o horário de verão, a gostosa do poleiro de cima me deixa passar o resto do domingo com ela? Quem sabe eu a convido para vir ao meu poleiro, tomar um vinho, assistir a um filme e me beijar por horas, não necessariamente nessa ordem.
Deixa de sonhar, seu idiota. Se eu não fosse tão frango, faria isso agora. Mas pelo jeito vou passar meu domingo só no sonho mesmo. Como sempre.
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Vou desativar meu antigo blog, o “Memórias de um frango”. Para isso, vou resgatar as crônicas que estavam postadas lá, dar uma repaginada e trazer para cá. Essa foi escrita em 2008, quando começou o horário de verão daquele ano. Eu sempre lidei bem com essa mudança de horário, mas tinha certeza que o frango não lidaria. As reclamações dele se tornaram essa crônica.
Começou a escrever em 2008 para fugir de uma rotina massante no galinheiro e descobriu que era bom naquilo. Ou pelo menos achava que era, já que nunca conseguiu dar nenhum beijo na boca por seus textos. Dizem por aí que continua virgem, mas ele nega.