Quando o assunto é quadrinhos, tenho que admitir a minha ignorância quase que total. A última grande imersão que tive nesse mundo foi aos 12 ou 13 anos, ao doar toda a minha coleção de revistinhas da Turma da Mônica. Por diversos motivos que não valem ser citados aqui, deixei-os de lado e me dediquei aos livros. Foi só quando comecei a trabalhar diretamente com literatura que senti falta de um maior conhecimento na área e tive que correr atrás.

Apesar de ter passado no FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) em 2011, a experiência de 2013 foi algo sem comparações. Foi a primeira vez que fui com gana de aprender algo, de conhecer novos quadrinistas, de conversar com as pessoas e tentar entender aquele mundo até então distante de mim. Assisti ao máximo de palestras que meu tempo permitiu, comprei o máximo de quadrinhos que meu salário aguentou e pude trocar ideia com muita gente boa e conhecer outras tantas igualmente talentosas.

Aliás, para quem não conhece, o FIQ é o maior festival de quadrinhos da América Latina e traz quadrinistas de todos os lugares do mundo para discutir sobre seus trabalhos, sobre o mercado ou sobre como é o trabalho com quadrinhos. Além disso, é o grande espaço para que artistas independentes possam apresentar seus trabalhos para o grande público e encontrar os companheiros de profissão.

E como tinham trabalhos independentes na edição deste ano! Como destacado no painel intitulado “Faça você mesmo”, há uma facilidade muito grande para se produzir quadrinhos atualmente. Você mesmo pode fazer todo o trabalho, inclusive o de contato com gráfica (isso se você não tiver seu próprio meio de impressão, como o Marcatti) e de distribuição, que 109% dos participantes do FIQ citaram como um dos principais problemas atuais do mercado de quadrinhos. Isso faz com que existam muitos trabalhos sendo lançado e com uma qualidade impressionante.

Outro problema que ficou bem claro até mesmo para quem é leigo (eu) foi a ausência das grandes editoras. De destaque apenas o da Editora Nemo, daqui de BH. A Panini, por exemplo, foi com um estande mequetrefe que pretendia vender assinaturas. Outras nem deram as caras, como é o caso da Globo, Conrad ou Companhia das Letras.

Isso é uma coisa que não dá para entender, já que o número de quadrinistas presentes era tão alto e a possibilidade de fechar negócios por ali era grande. A impressão que passou é que as editoras estão pouco se importando com os autores nacionais e com os trabalhos deles, já que nem no maior festival do país elas se dignaram a comparecer.

Cantinho da vergonha

Por outro lado, a qualidade dos independentes é tão alta que se equipara (e muitas vezes ultrapassa) à qualidade de um trabalho feito por editora. Muitas das HQs que foram lançadas no FIQ teriam condições de ir direto para as livrarias e bancas de todo o país. Falta só alguém que corra atrás dessas pessoas, já que a parte dos quadrinistas já está sendo feita.

Aliás, é nesse hora que eu dou parabéns para a Maurício de Sousa Produções e para o Sidney Gusman. O trabalho que eles vêm fazendo com estes autores independentes é algo louvável. O painel da MSP foi, disparado, o mais emocionante de todos. E olha que estamos falando de um evento que contou com Marvel, DC, George Pérez, Geoff Johns, Ivo Millazo e outros nomes de peso. Tudo começou quando o próprio Maurício de Sousa apareceu de surpresa no evento e se sentou junto com os autores das graphic novels já lançadas.

(Só um parênteses: eu quero ser amigo do Maurício. Apertar a mão dele todos os dias de manhã, dizer bom dia, ouvir ele contar uma piada e ser tão simpático e humano quanto ele foi na uma hora de painel. Ele tirou fotos, interrompeu a apresentação, sentou no meio das crianças. Simpatia define.)

Quando chegou a hora dos autores das graphics falarem, a choradeira correu solta. O momento mais owwwn foi quando o Vitor e a Lu Cafaggi (autor de Laços) falavam, aos prantos, e uma criancinha levantou da plateia, foi até a Lu e entregou um lencinho para ela. O auditório inteiro ficou em silêncio acompanhando a menininha e soltou um suspiro em conjunto. Foi lindo.

Enfim, além da participação da galera que fez a primeira leva de graphics, foram anunciadas as próximas a serem lançadas e o auditório foi abaixo. O Sidão, demonstrando toda sua habilidade de showman, fez a galera levantar com as prévias de Papa-Capim, Penadinho, Turma da Mata, Bidu, Turma da Mônica 2 e Astronauta 2. A minha preview preferida é a do Bidu, que ficará a cargo do Eduardo Damasceno e do Luis Felipe Garrocho, autores do ótimo Quadrinhos Rasos. As outras também ficaram sensacionais, então já estou louco para aumentar a minha coleção de Graphics MSP.

Já quero poster emoldurado e autografado no quarto

Outro ponto bem legal foi o estante dos webcomics. Por ser uma galera que publica seus trabalhos online e que acompanho há muito tempo, foi bem legal ter a oportunidade de conversar pessoalmente, trocar as impressões sobre as tirinhas que eles produzem ou mesmo conversar sobre banalidades. E eles podem se orgulhar que foram um dos estandes mais cheios de todo o evento (e o Digo Freitas, do Esboçais, merece o prêmio de funcionário do mês. Toda vez que eu passava na frente do estande era ele que tava recebendo o povo). Fora que a melhor HQ que li durante o FIQ inteiro saiu da lá, mas isso é assunto para outra postagem.

Isso sem falar nas exposições que estavam rolando no festival. A exposição das aquarelas do Lelis, ilustrador e quadrinista mineiro, era de encher os olhos de tão bonita, com paisagens que nós, que viemos da terra das montanhas, estamos bastante acostumados. Já a Ícones dos quadrinhos trouxe 100 personagens clássicos dos quadrinhos mundiais interpretados por 100 outros artistas. Um desenho mais bonito que o outro, com um texto explicativo sobre a obra original e sobre o autor responsável pela releitura. Lógico que não resisti e trouxe o livro com as ilustrações para casa.

Já a homenageada do evento merece um parágrafo à parte. Exuberante, ela passeava pelo evento tranquila, assistia à palestras, fazia perguntas, tirava fotos na maior simpatia do mundo, abraçava, recebia beijos. Essa era Laerte – e vou me referir sempre no feminino porque é assim que ela faz, mas as convenções de gênero não podem ser levadas em considerações quando falamos de Laerte. O painel que ela participou (“Translaerte”) estava tão cheio quanto o da MSP e foi recheado de perguntas para uma artista que está visivelmente em crise com o próprio trabalho e tentando se reinventar mesmo depois de tantos anos de carreira.

É isso mesmo que você está vendo. Laerte vestida de Capitão América no FIQ.

No total, foram 10 painéis assistidos, 22 novos quadrinhos na estante, muitos posts para serem escritos no blog e a certeza de que BH devia ser chamada de Capital Nacional dos Quadrinhos. Um evento digno desse nome já existe!

E quem sabe um dia eu escreva um roteiro para uma HQ. Vontade não falta!

Painéis assistidos
13/11, às 18h – “Mercado atual”
Com Afonso Andrade, Sidney Gusman, Jal, Ryot e Mitie Taketani

13/11, às 20h – “Por que quadrinhos?”
Com Paulo Ramos, Sônia Luyten, Lucas Ed e Erick Azevedo

14/11, às 16h – “Quatro cores que valem por um milhão”
Com Giovanna Guimarães, Cris Peter e Rod Reis

14/11, às 18h – “Webfunding Crowdcomics”
Com Ryot, Fábio Coala, Paulo Crumbim, Luis Otávio Ribeiro e Rodrigo Maia

15/11, às 11h30 – “Quadrinhos não são mais só para adultos!”
Com Chantal, Fábio Yabu, João Marcos e José Aguiar

15/11, às 16h – “Graphic MSP”
Com Sidney Gusman, Danilo Beyruth, Cris Peter, Lu Cafaggi, Vitor Cafaggi, Gustavo Duarte e Shiko

16/11, às 16h – “Brasil em HQ”
Com Lucas Ed, André Diniz, Marcelo D’Salete, Alves, Wellington Sberk e Ana Koehler

17/11, às 11h30 – “Faça você mesmo”
Com Gabriel Góes, Fábio Zimbres, Marcatti e Gustavo Duarte

17/11, às 14h – “Faroeste”
Com Fabiano Barroso, Ivo Millazo, Rafael Albuquerque, Magno Costa e Marcelo Costa

17/11, às 18h – “Translaerte”
Com Rafael Coutinho, Marcelo Miranda, Mariamma, Letícia Barreto e Laerte

** Se quiser trocar ideia sobre o FIQ, conversar sobre os painéis, quadrinhos, autores ou só mandar um oi, pode mandar um e-mail para blogestamosemobras@gmail.com que a gente conversa com calma =]