– E agora?
– “E agora” o quê?
– A gente acabou, uai. O que a gente faz depois que acaba?
– Sei lá. Nunca vi ninguém comentando sobre o depois.
– Nem eu. Será que é agora que a gente conversa pra saber se foi legal?
– Pode ser. Você gostou?
– Gostei. Para uma primeira vez foi até bom.
– Achei que a gente ia se atrapalhar, mas foi bacana.
– Foi mesmo. Com o tempo a gente melhora.
– A intimidade vai ajudar.
– É.
– …
– …
– Você não vai virar pro lado e dormir?
– Acho falta de educação. Além do mais, tô sem sono.
– Eu também.
– E um banho? Tô meio suado.
– Eu também, mas a cama tá tão quentinha.
– Tá mesmo. O chuveiro tá longe, a casa tá fria.
– Pois é.
– …
– Você fuma?
– Não. Por quê?
– Imaginei aquelas cenas de filme, com você fumando um cigarro e eu mexendo nos cabelinhos do seu peito.
– Eu nem tenho cabelinho no peito.
– É mesmo, você é lisinho. Tem um livro aqui na gaveta?
– Você quer ler agora?
– Foi só uma ideia. Pra passar o tempo.
– Nem tenho. Estão todos na estante da sala.
– Tá frio pra ir lá buscar.
– É…
– …
– E o que tá passando na tv?
– Algum filme ruim, com certeza. Não passa nada legal de madrugada.
– Nem compensa ligar, então.
– …
– Tá com fome?
– Oi?
– É, fome. Tem um biscoito aqui no pé da cama.
– Não tô a fim de biscoito. Aguento mais um pouco.
– E bebida? Quer alguma coisa?
– Depois vou lá na geladeira e pego água. Não precisa se preocupar.
– Ah tá, então tudo bem.
– …
– …
– Rola uma segunda rodada?
– Daqui a pouco. Preciso me recuperar ainda.
– A primeira foi boa, né?
– Bem melhor do que eu esperava.
– Você esteve ótimo.
– Você também. Já te falei que seus peitos são lindos?
– Para, assim você me deixa constrangida.
– Constrangida? Depois de tudo que a gente fez nessa cama você vai se constranger com um elogio?
– Sei lá, não tô acostumada.
– Então acostuma. Você é linda.
– Ai, para!
– Então esquece. Só deita aqui no meu peito e vamos ficar abraçados. É só isso que a gente precisa agora.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.