O vento pela fechadura
Stephen King
Publicado em 2012
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“Uma pessoa jamais fica velha demais para ouvir histórias, Bill. Homem e menino, menina e mulher, jamais velhos demais. Nós vivemos para elas.”
O que falar sobre um livro que mal foi lançado e você já considera pacas?
Quem me conhece sabe o quanto gosto de Stephen King e, em especial, da série Torre Negra. Ela é tão importante na minha vida que fiz até uma tatuagem em referência à obra, para vocês terem ideia. Enfim, vocês não sabem o quanto eu estava feliz por voltar ao Mundo Médio.
O vento pela fechadura é uma história dentro de uma história dentro de uma história. Ficou confuso? Vou tentar explicar melhor. Tudo começa quando Roland, Eddie, Susannah, Jake e Oi (o ka-tet com o qual estamos acostumados) saem do Palácio Verde e caminham tendo o Feixe de Luz como guia. No caminho, o pistoleiro é avisado da proximidade de uma borrasca, uma tempestade tão intensa e tão fria que destrói e congela tudo ao redor. Quando eles encontram um lugar para acampar, a borrasca cai e Roland engata uma história sobre o seu passado como jovem pistoleiro.
Os acontecimentos são depois dos narrados em Mago e Vidro (o que faz deste livro o 4.5 dentro da cronologia da Torre), pouco tempo depois de Roland matar a própria mãe. Ainda sofrendo as consequências do ato, o pistoleiro é mandado para uma missão em Debaria, uma cidade próxima a Gilead que supostamente estava sofrendo ataques de um trocapele – uma espécie de metamorfo, que pode se transformar em qualquer animal quando quiser. Chegando na cidade, Roland investiga a cena de um dos crimes, que dizimou toda a população de uma fazenda. O único sobrevivente é o menino Bill, cujo pai era o cozinheiro e foi morto pelo transformista. Enquanto Roland cuida de Bill, uma tempestade se aproxima e ele se lembra de uma história que sua mãe contava quando ele era criança. Então decide transmiti-la para acalmar o garoto.
É aí que O vento pela fechadura começa. Roland conta a história de Tim, um menino que perdeu o pai, viu a mãe se casar com um homem violento e que a deixou cega durante uma das brigas. Tim então encontra o homem de preto (aquele mesmo de O Pistoleiro, que aqui está sob a forma de um cobrador de impostos), que o convence a partir em uma aventura pelo meio da selva para recuperar a visão da mãe.
Entenderam agora a ideia de uma história dentro de uma história dentro de uma história? Ela começa com o ka-tet, passa para o Roland jovem, vai até o Tim, volta para o jovem pistoleiro e retorna para o grupo. Essa estrutura é importante para situar onde se encaixa o conto de O vento pela fechadura e para termos certeza que estamos no mesmo universo. Para aumentar essa sensação de familiaridade, algumas referências são citadas, como a North Central Positronic, as referências ao número 19 e a Andy, o robô.
Mas não é nada disso que faz do livro uma leitura agradável. Além da já conhecida habilidade de King para conduzir histórias, temos um belo conto envolvendo Tim. Apesar de não ter nenhuma referência direta sobre a série da Torre Negra, é um ótimo conto, com direito a fadas sacanas, dragões, tigres, mutantes e magia. King consegue mesclar momentos de tensão com passagem assustadoras, permeados por um toque de inocência que faz com que a história do menino ganhe outros contornos.
Além disso, tudo que envolve o jovem Roland é interessante. No caso de O vento, esse trecho é ainda mais importante pois traz um elemento novo para a personalidade do pistoleiro que, obviamente, não vou revelar aqui. É algo a ser usado para a redenção e para o futuro dele no Mundo Médio. E a última frase do livro, já no posfácio, é matadora.
O próprio King diz que esse livro pode ser livro independente dos outros, mas ele tem pequenos spoilers sobre os anteriores. Não é nada muito crucial e provavelmente serão esquecidos até o leitor chegar no quarto volume, mas mesmo assim são spoilers. Apesar disso, a história realmente funciona bem sozinha (assim como o conto As irmãzinhas de Elúria, presente do livro Tudo é eventual), mas é melhor aproveitada se você conhece a saga.
Longos dias e belas noite, Sai King. Você conseguiu de novo.
O vento pela fechadura (The wind through the keyhole)
Stephen King
Editora Suma de Letras, 2013 (lançado originalmente em 2012)
283 páginas
Tradução: Adré Gordirro
ISBN: 978-85-8105-158-1
P.S.: O guardião do Feixe de Luz do leão é Aslam. Um beijo pro C.S. Lewis!
P.S. 2: “O tempo é um buraco de fechadura, pensou ele ao olhar para as estrelas. Sim, acho que sim. Nós às vezes dobramos o corpo e espiamos através do buraco. E o vento que sentimos nas bochechas quando fazemos isso – o vento que sopra pela fechadura – é a respiração de todo o universo vivo.”
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.