O mágico de Oz

L. Frank Baum
Publicado em 1900
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Preciso confessar que nunca assisti ao filme O Mágico de Oz. Também nunca tinha lido o livro que deu origem ao longa. Claro que isso não me impedia de fazer referências constantes a esse clássico, só que todas elas vinham do conhecimento geral que tinha sobre a história. E como todo conhecimento geral, só sabia o básico e não podia me aprofundar em qualquer discussão. Pois bem, dei um jeito de resolver pelo menos metade desse problema e li a obra de L. Frank Baum.

Publicado em 1900, O Mágico de Oz faz parte de uma série de quatorze livros escritos por Baum que contam diversas aventuras ocorridas na terra de Oz. Logo na introdução deste primeiro livro, o autor faz uma reflexão sobre a situação dos contos de fadas na época. Segundo ele, “as fadas aladas de Grimm e Andersen trouxeram mais alegria aos corações infantis do que quaisquer outras criações humanas”, mas afirma que era hora dos contos de fadas saírem dos estereótipos já firmados e acabarem com as lições de moral sangrentas. Por isso surge O Mágico de Oz, para ser uma história que vá trazer apenas diversão para as crianças.

Antes de começar a falar do livro, vamos ao resuminho da história (se é que existe alguém que não a conheça). Após um ciclone, a casa de Dorothy e Totó é levada do Kansas para a fantástica terra de Oz. Para conseguir voltar, a menina e o cachorro têm que encontrar o grande Mágico de Oz, um feiticeiro poderoso capaz de realizar todos os desejos. No caminho eles conhecem o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde, que os ajudarão pelo caminho até a cidade das Esmeraldas.

Do filme, que ainda preciso assistir

Clássicos são clássicos porque conseguem manter a universalidade mesmo após o centenário. E O Mágico de Oz é um desses clássicos incontestáveis. A história da menina que se vê afastada da terra natal e precisa encontrar o caminho de volta faz parte da cultura popular ocidental. Várias releituras foram feitas e, por mais que elas se aproximem bastante da obra de Baum, nada é como ler o livro.

A primeira coisa a ser observada é que, mesmo que Baum tenha dito que queria construir uma história para a simples diversão, é bem claro que o livro possui uma lição de moral: “Acredite em si mesmo”.

Tanto o Espantalho quanto o Homem de Lata e o Leão Covarde partem na jornada atrás de uma coisa que acreditam não ter. O Espantalho quer um cérebro, mas é sempre ele que dá as melhores soluções lógicas para o grupo. O Homem de Lata quer um coração, mas é sempre o primeiro a se apiedar das situações. Já o Leão quer coragem, sendo que ele é sempre o primeiro a correr para salvar os amigos quando encontram alguma adversidade. Quando conquistam o direito de encontrar o Mágico de Oz, a solução para eles são apenas placebos. Eles acreditam que receberam o que foi pedido e começam a utilizar aquilo que já possuíam, em um claro exemplo de falta de autoconfiança.

A única que não consegue ter o seu pedido atendido é Dorothy, que quer voltar para casa. Para conseguir uma audiência com o poderoso Mágico de Oz, ela é obrigada a derrotar a Bruxa Má do Oeste. Depois que realiza tal feito, descobre que o mágico era, na verdade, um charlatão vindo do seu próprio mundo e que não tinha poderes para mandá-la de volta. É quando parte em outra aventura, atrás de Glinda, a Bruxa Boa do Sul.

Com essas aventuras, Baum atinge o objetivo de trazer diversão para os jovens leitores. Ao mesmo tempo em que vemos batalhas sangrentas, vemos povos e culturas diferentes, uma mitologia nova e o crescimento da amizade entre os quatro personagens. Tudo isso em uma linguagem muito fluida e descritiva, que contribui para que entremos no universo criado pelo livro.

“Toto, I’ve a feeling we’re not in Kansas anymore”

Falando nesse universo, não dá para deixar de lado a questão das cores. O contraste entre o cinzento e empoeirado Kansas com a colorida e animada terra de Oz é muito grande. Em certa altura, o Espantalho pergunta para Dorothy como era o lugar que ela morava e conclui que não entende porque ela queria tanto voltar para lá, pois deveria ser bem sem-graça. E na descrição parece mesmo, pois estamos comparando com Oz, onde os povos possuem cores distintas, a estrada é de tijolos amarelos e o centro do mundo é um castelo de esmeraldas. Fora que todo esse caminho é feito em cima de um par de sapatinhos prateados.

No final, o livro é uma leitura encantadora e que nos traz o melhor de ser uma criança. Fala sobre amizade, sobre a importância da família, sobre reconhecimento, autoconhecimento e muitos outros assuntos importantes. Sem contar que é uma aventura muito bem amarrada e que introduz um universo completamente novo que tem muito potencial para novas histórias. Já curioso para ler os outros livros escritos por Baum.

O Mágico de Oz
L. Frank Baum
Editora Leya, 2011
189 páginas
Tradução: Santiago Nazarian / Ilustrações: Alvin

P.S.: A história do Homem de Lata é uma das coisas mais bonitas em todo livro. Não vou contar aqui pra não dar mais spoiler do que eu já dei durante o texto.