Granta #9

Vários autores
Publicado em 2012
Compre aqui


A revista Granta foi fundada em 1889, por alunos da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Começou como um periódico para artigos políticos e sobre a vida universitária, mas, no final da década de 1970, passou por uma crise econômica forte e precisou se abrir. Isso acabou transformando-a em uma das revistas literárias mais famosas do mundo.

Vez ou outra a revista lança um especial com “os melhores jovens escritores” de determinado lugar. Em 1983 foi publicada a edição com escritores radicados na Inglaterra. Em 1996 e 2006 foi a vez dos Estados Unidos. 2010 foram os escritores em espanhol que ganharam uma versão. A surpresa é que, durante a Flip 2011, foi anunciada a versão brasileira da revista, que contaria com 20 jovens escritores nacionais (com idade abaixo de 40 anos).

O projeto já nasceu recheado de críticas, que foram desde os métodos de seleção até o júri. Quando os nomes dos selecionados foram anunciados, mais reclamação. Minha ideia nessa resenha é fugir delas (que já foram abordadas em excesso na época e podem ser encontradas facilmente pela internet) e focar no livro em si.

Aliás, antes de falar do livro, vamos comentar da iniciativa de fazer uma edição da Granta só com brasileiros. Estamos passando por um momento que a literatura nacional busca uma exteriorização, então ter esse reconhecimento de uma das revistas literárias mais importantes do mundo é importantíssimo. Essa edição especial é um reflexo de que os olhos do mundo, mais do que nunca, estão voltados para o Brasil. Reflexos da crise econômica, Copa do Mundo ou Olimpíadas? Quem sabe… o fato é que precisamos aproveitar cada uma dessas situações. A Granta foi uma delas.

Por isso que, deixando de lado as polêmicas envolvendo a seleção dos escritores, a leitura dessa edição é importante para os amantes da literatura. Seja para saber quais os rumos que a literatura nacional pode tomar ou apenas para conhecer autores contemporâneos com que temos pouco contato. Pode ser que daqui a 20 anos ela não faça mais sentido, mas serve como registro histórico, ao menos.

Admito que conheço muito pouco dos escritores selecionados. Já tinha lido algumas coisas do João Paulo Cuenca, Daniel Galera, Vanessa Bárbara, Antônio Xerxenesky e Carola Saavedra. Dos outros 15 não sabia quase nada, a não ser o nome e algumas informações avulsas. Então o livro foi meu primeiro contato com muitos deles e digo que foi um bom primeiro contato.

Prazer, Xerxenesky

Lógico que, como em toda coletânea de contos, alguns se sobressaem em relação aos outros. Isso é uma das coisas mais comuns do mundo. Não vou fazer uma análise detalhada de todos os contos porque isso seria complicado. Vou fazer apenas algumas observações gerais sobre a obra, para contextualizar.

Para ser uma seleção dos “melhores brasileiros”, achei os contos bem normais e homogeneizados. Muitos apresentam a figura de um escritor (ou alguém ligado às artes/comunicação) como personagem principal. Vários se passam fora do Brasil e não fazem referências a coisas daqui. Elementos biográficos estão presentes em abundância. O estilo narrativo é, na maioria dos casos, bastante comum, sem espaço para inovações ou aplicação de um estilo marcante. Senti falta de uma maior regionalização da seleção, mas, pensando bem, talvez não seja esse o momento da literatura nacional. Fica essa informação para se pensar sobre.

Outra grande crítica que tenho com relação a essa edição são os textos que, na verdade, são fragmentos de livros. Em quase todos os casos onde isso acontece (excluo da estatística apenas Apneia, escrito por Daniel Galera), o conto soa incompleto. Falta história, faltam informações. Sabemos que aquele universo vai ser melhor explorado, mas não temos a chance de ver isso acontecer. Falta alguma coisa e isso é deixado bem claro pro leitor.

Mais um questionamento que me fiz durante a leitura foi o porquê da ordem dos textos. Eles parecem ser distribuídos aleatoriamente, mas em nenhum lugar isso é explicado. Será que eles estão colocados por ordem de importância, por classificação na seleção, por idade, por beleza? Aliás, custava ter colocado em ordem alfabética (de preferência dos nomes dos autores)?

Sei que nem todos os autores que estão na Granta podem ser considerados os “melhores jovens escritores brasileiros”. Sei que tem muita gente aí fora que sequer mandou um texto para a seleção e que poderia estar entre os selecionados. Mas a revista não deixa de ser importante por causa desses poréns. Basta ser lida da maneira correta.

Granta em Português #9 – Os melhores jovens escritores brasileiros
Antonio Prata, Antônio Xerxenesky, Carol Bensimon, Carola Saavedra, Chico Mattoso, Cristhiano Aguiar, Daniel Galera, Emilio Fraia, J.P. Cuenca, Javier Arancibia Contreras, Julián Fuks, Laura Erber, Leandro Sarmatz, Luisa Geisler, Michel Laub, Miguel Del Castillo, Ricardo Lísias, Tatiana Salem Levy, Vanessa Barbara e Vinicius Jatobá
Editora Alfaguara, 2012
287 páginas