Veja também: Valente para sempre e Valente para todas
Quem esteve no FIQ 2013 vai concordar comigo: um dos principais nomes do evento foi o Vitor Cafaggi. Com mesas de autógrafos lotadas, o quadrinista mineiro não teve um momento de descanso. Teve um dia que, juro, ele ficou de 9 da manhã até o fim da tarde autografando ao lado da irmã, Lu Cafaggi. Só parou porque ia ministrar uma oficina sobre roteiro. Caso contrário, tenho certeza que ele estaria sentado por lá até agora.
E, impulsionado pelo sucesso de Turma da Mônica: Laços, Vitor lançou a terceira coletânea de tirinhas do Valente, um cachorro que podia ser eu, você ou qualquer outra pessoa que você conheça. Para quem não sabe sobre o que estou falando, vale explicar o que o personagem passou até chegar neste livro.
No primeiro volume, Valente conheceu a Dama, se apaixonou e não foi correspondido. Depois conheceu a Princesa e, dessa vez, foi correspondido. Mas quando a Dama o viu com a Princesa, começou a perceber que sentia alguma coisa e decidiu ir atrás.
O segundo livro mostra como o Valente precisou decidir entre os dois amores e como foram os momentos ao lado da Princesa até ela anunciar que viajaria para um intercâmbio. A história termina com ela, em uma festa, dizendo que queria conversar.
Bom, vocês já conhecem essa história de “precisamos conversar”. Valente por opção começa quando o personagem título leva um pé na bunda e precisa superar essa rejeição. Além disso, ele logo entrará na universidade e precisa passar uma imagem diferente da apresentada nos últimos anos. É um momento de transição importante, pois ele vê os amigos irem e virem de relacionamentos enquanto ele mesmo desmorona na própria dor.
Isso faz com que este um livro seja, em sua maioria, sobre superação. Talvez o que mais represente isso são as cenas em que o Valente corre. Nas primeiras vezes, ainda no início do livro, ele quer mudar e correr para superar a rejeição, mas não consegue passar de dois quarteirões ou mesmo ultrapassar os velhinhos na praça. O ponto de virada surge quando ele se vê rejeitado de vez pela primeira ex-namorada, não encontra apoio dos amigos e, ainda por cima, o motorista do ônibus que o levaria para a faculdade se recusa a abrir a porta para ele no sinal.
Em uma bela sequência de tirinhas, Valente precisa alcançar o ponto antes que o ônibus chegue por lá. Ele começa correndo com apenas duas patas e é ultrapassado por sua condução. Nervoso, recorre aos instintos básicos de um cachorro e corre com as quatro patas, atinge seu objetivo e ainda ganha o bônus de sentar ao lado da menina que ele paquerou desde que entrou na faculdade.
E uma citação do quadrinho seguinte resume bem o que é o livro: “Rocky Balboa perdeu em quatorze rounds e, apenas neste último, o décimo quinto, soca, incansavelmente, o campeão Apollo Doutrinador. Fantástica reação de Balboa!”. E as duas últimas tirinhas fazem duas rimas visuais e textuais bem legais. A penúltima se liga claramente à décima e a tirinha final faz referência direta à última tirinha do segundo livro, porém em um contexto completamente diferente.
O único problema de Valente por opção é quando observamos a história como um todo. Diferente os últimos livros, neste quase não há evolução da trama central. Por ser um livro de superação, como já mencionei, o personagem principal passa o tempo inteiro tentando se recuperar do baque que sofreu com o término do namoro. Além disso, ele demora praticamente metade do livro para entrar de fato na universidade. Isso faz com que a história da separação se arraste por mais tempo do que talvez fosse necessário. As tirinhas filler que destaquei como algo positivo no livro anterior, aqui surgem como um empecilho para que a história ande.
Porém o bom humor da obra continua o mesmo. As tiradas, tanto textuais quanto visuais, continuam muito eficientes, retornando e evoluindo elementos usados anteriormente – como os corações na cabeça do Valente que se transformam em uma nuvem tempestuosa – e inserindo novos quadrinhos-chave, como os que possuem bolhas de recordações. E não há nada a falar sobre o traço do Vitor, que continua fantástico como sempre.
A grande diferença de Valente por opção é um pequeno selo que agora estampa a capa da edição. Sim, depois de duas publicações independentes, as tirinhas do Vitor passam a ser publicadas pela Panini Comics (a mesma responsável pelas graphics MSP). Com isso, ele ganha na divulgação e na distribuição, coisas que mais pesam em um trabalho independente. Tirando isso, tudo continua do mesmo jeito. O formato de talão de cheque continua, as páginas são do mesmo material e os extras (junto com o tradicional texto da Lu) continuam presentes.
Por entrevistas que li do Vitor, parece que serão cinco ou seis livros do Valente, o que faz dessa uma edição intermediária na história. Aguardemos os próximos capítulos, pois estou curioso para saber como vai terminar a saga desse cachorrinho de coração mole.
Valente por opção
Vitor Cafaggi
Panini Comics, 2013
113 páginas
P.S.: Consegui autografar todos os meus livros com o Vitor já no primeiro dia de evento, quando ainda estava tudo tranquilo. Como Valente por Opção foi lançado somente na sexta e eu queria assistir aos painéis, perdi todas as sessões de autógrafos que tiveram depois. Uma pena, mas ainda não desisti de ter meu livro assinado.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.