Não sei bem como estruturar este texto sobre A cidade do sol sem entrar demais no sentimento que tive durante toda a leitura: um nó na garganta. De volta após vários anos do lançamento do best seller O Caçador de Pipas, Khaled Hosseini retorna às terras do Afeganistão e explora um dos lados mais esquecido desse país, as mulheres.
O livro conta duas histórias “independentes”. Mariam é a filha bastarda de um homem rico, que vê sua família desmoronar quando tenta, a todo custo, atrair a atenção do pai. Já casada e mais velha, conhece Laila, que também tem sua família destruída graças às constantes guerras. Quando essas histórias se cruzam, a nova relação se torna uma forma de suportar os sofrimentos diários, criando um forte sentimento de amizade e proteção.
O resumo aí de cima não é nada se comparado à história. Não dá para fazer uma sinopse decente sem revelar detalhes. Quem gostou de O caçador de Pipas vai ficar feliz em saber que Hosseini manteve a mesma pegada emocional em A Cidade do Sol. Aliás, arrisco dizer que ele conseguiu algo a mais aqui.
Minha opinião é baseada nas personagens fascinantes criadas pelo autor. Em um país que as mulheres são tratadas pior do que uma pilha de esterco, Mariam e Laila mostram a força guardada dentro de cada afegã. Suas vidas se entrelaçam com a história do próprio país. Suas perdas acompanham os momentos políticos, as reviravoltas, as tomadas inesperadas de poder.
O livro é mais do que um apanhado de palavras. Ele passa emoção. Sofrimento, medo, coragem, amor, tristeza, pequenas alegrias e, talvez a palavra que melhor caracterize o livro, amizade. É ela que resiste a anos de separação, que enfrenta os perigos e que é lembrada para toda a vida. Tudo isso em uma narração que acaba se arrastando em algumas partes, mas depois você entende a importância para a composição dos personagens.
E uma coisa posso falar: o Khaled Hosseini conseguiu concentrar toda a emoção de forma eficiente apenas em uma página. Aconteceu com O Caçador de Pipas e também acontece em A Cidade do Sol. Parece ser uma marca registrada do autor.
A cidade do sol (A thousand splendid suns)
Khaled Hosseini
Nova Fronteira, 2007 (originalmente em 2007)
364 páginas
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.