Canção de Susannah

Stephen King
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Quem costuma ler minhas críticas sabe que não conto detalhes importantes da história. Mas com Canção de Susannah vai ser diferente. É impossível falar do livro sem tocar neles. Então, se não quiser saber nada da história, pode ir embora. Eu deixo.

Decidiu continuar? É por sua conta e risco, estou avisando.

Em 19 de junho de 1999 (olha o 19 e o 99 aí), Stephen King foi atropelado enquanto caminhava. Depois de um período entre a vida e a morte, ele sobreviveu. Mas, como era de se esperar, o acidente marcou suas obras seguintes. Seja de forma mais leve, como em Duma Key, ou de forma mais direta, como em A história de Lisey, o acidente estava lá.

Enquanto ele estava à beira da morte, um pensamento martelava a cabeça dos fãs: ele vai morrer sem terminar a Torre. Egoísta, sei. Mas fã é fã. Ao se recuperar, King sentiu medo, decidiu ouvir essas pessoas e colocar um fim na saga dos pistoleiros.

E por que falei isso? Porque é em Canção de Susannah que o acidente e suas consequências estão mais presentes. Vamos fazer uma pausa para contar sobre a história e depois volto nesse ponto. O livro começa imediatamente após o final de Lobos de Calla. Susannah/Mia fugiu pra Nova York pra ter o seu chapinha e o resto do ka-tet precisa resgatá-la. O problema é que também precisam lidar com o terreno baldio que possui a rosa. Então eles se dividem. Roland e Eddie partem para 1977 e tentam fazer Calvin Tower passar o terreno para eles. Jake e Callahan vão para 1999 e têm a missão de encontrar Susannah/Mia antes do nascimento do chapinha.

Em um resumão, essa é a história do livro. Ele é mais curto do que os outros (“só” 405 páginas) e, talvez por isso, consiga ser o mais focado. E, como o próprio título diz, esse é um livro sobre a Susannah e nenhum personagem consegue tirar o brilho dela.

Já acostumada a lidar com sua esquizofrenia, ela precisa entrar em acordo com Mia para que as duas possam ter o chapinha sem prejuízos. Presas em uma Nova York de 1999, Mia fica acuada e é Susannah (por vezes Detta) que precisa resgatá-la. Em troca, verdades. Sim, finalmente temos algumas explicações sobre a história e sobre a própria Torre.

Boa parte disso ocorre dentro da cabeça de Susannah, o que torna esse livro mais um suspense psicológico do que qualquer outra coisa. King consegue mostrar a fragilidade crescente de Mia, que no fundo queria apenas ser mãe, e também a força de Susannah, que luta até o último segundo para se manter no controle do próprio corpo.

Do outro lado da história, o ka-tet está separado. Se fosse para apostar, diria que Jake e Callahan deveriam ir atrás de Tower e Roland e Eddie atrás de Susannah, mas é o inverso que acontece. Em momentos distintos, Eddie e Jake se perguntam exatamente isso, mas a participação dos dois nos lugares específicos é fundamental.

Vamos começar com a menor das participações: Jake e Callahan. Os dois chegam a Nova York, se livram do Treze Preto (colocado sob o World Trade Center, em um cofre, até 2002) e se preparam para a batalha no lugar onde Susannah teria o chapinha. Eu disse “se preparam” porque a batalha de fato não acontece. A história será contada, com certeza, em A Torre Negra, mas o pouco em que Jake aparece é suficiente para ver que o garoto já é quase um pistoleiro completo e, se tudo der certo no livro seguinte, boa parte vai ser por culpa dele.

Do outro lado, em 1977, a história se complica um pouco. Depois de quase serem mortos, Roland e Eddie encontram Tower sem grandes problemas e resolvem a questão do terreno baldio rápido, com uma importante participação de Eddie. É aí que entra o dedo do King na obra.

Lembram que falei lá em cima que o acidente modificou a forma dele ver a vida? Se ele já havia aparecido de relance em Lobos de Calla, quando todos descobrem que Callahan é só um personagem criado por ele, em Canção de Susannah ele aparece de fato como um personagem, e descobrimos que ele é o responsável por contar a história da Torre. Tudo que ele escreve é em prol da Torre e toda a sua obra gira em torno dela.

Por isso que o posfácio é tão importante. Nele, uma série de fragmentos de diários e notícias de jornais recontam como King escreveu os quatro primeiros volumes da Torre Negra e recriam o seu acidente, em 1999. Porém, ao contrário da vida real, King morre.

Esse final, junto ao final da história de Susannah e seu chapinha, deixam várias dúvidas ao leitor. Ainda não li A Torre Negra, então podem imaginar o tanto que tô desesperado. Li críticas de pessoas xingando o King por ter deixado o final em aberto, mas diferente de Terras Devastadas (quando a história para no meio), em Canção de Susannah são feitos vários cliffhanger que só acrescentam para a história.

O que vai acontecer com a história agora que o responsável por ela está morto sem concluir os trabalhos? E qual o papel do chapinha de Mia/Susannah nessa história? Como Roland e Eddie vão sair de 1997? O que raios aconteceu com Jake e Callahan? São só algumas das dúvidas mais básicas que ficam quando o livro acaba.

Jake fala uma coisa que será importantíssima no próximo livro: “Sob certo ponto de vista, estamos chegando muito perto dela [da Torre] e por isso é tão perigoso o ka-tet estar dividido como está. Canção de Susannah é um ótimo livro dentro da série porque traz respostas e sucinta outras tantas perguntas, que preparam o terreno para o último volume. Curiosidade a mil pra saber como termina a saga de Roland e seu ka-tet em busca da Torre Negra.

A canção de Susannah
Stephen King
Editora Objetiva, 2007
405 páginas