Assassinatos na Academia Brasileira de Letras

Jô Soares
Publicado em 2005
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Eu devia ter uns doze anos quando li Sherlock Holmes pela primeira vez. Desde então, minha admiração por romances policiais só aumentou, principalmente quando tinha um detetive envolvido. Hercule Poirot, Miss Marple, Auguste Dupin… me divertia seguindo as pistas e tentando descobrir o culpado. Até mesmo quando era uma solução óbvia, as deduções valiam a pena.

Falei isso para que vocês entendam a minha paixão pelo gênero e para avisar que me decepcionei muito com Assassinatos na Academia Brasileira de Letras. Vou explicar com calma porque isso aconteceu, mas antes vamos ao resumo da história.

O senador Belizário Bezerra acaba de se tornar o novo membro da ABL, graças a seu livro “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras”. Porém, em seu discurso de posse, ele morre. Começa então uma caçada aos “imortais”, que aparecem mortos por aí, sem explicações. Cabe ao comissário Machado Machado descobrir quem está por trás dos crimes.

Como esse é o terceiro livro do Jô Soares, publicado em 2005, dá para perceber que todos seguem um padrão: contexto histórico + crimes + humor. Vamos destrinchar cada um eles.

O contexto histórico é sempre um dos pontos fortes. Em cada página é possível perceber as inúmeras referências e as extensas pesquisas envolvidas. Há muitos detalhes sobre venenos, sobre alfaiataria, arquitetura, momentos importantes do Rio e da própria Academia. Como a história se passa na década de 1920, então muita coisa de lá é resgatada.

Porém quando falei sobre As Esganadas, comentei que a parte histórica não se ligava com a trama. A mesma coisa acontece em Assassinatos, no qual crime não interage com o contexto. É como se o autor se preocupasse mais com esbanjar referências sem utilizá-las a favor da história, ou mesmo utilizá-las em excesso em algumas partes, transformando páginas e páginas em pura descrição histórica.

O prédio da Academia, construção datada de XXXX, com estilo XXX

Já na parte do crime é que se encontra minha maior decepção. Para alguém vacinado em romances de detetives, fica claro desde as primeiras páginas quem é o responsável. Quando a investigação prossegue, fica mais claro ainda. Não porque as pistas indicassem, mas porque o culpado é a única pessoa em toda a história que tinha uma real motivação. Nenhum dos outros suspeitos apresentados tinha isso e Jô deixa isso bem claro o tempo todo.

É então que entra a figura do comissário Machado Machado, responsável pelas investigações e que, além de policial, é leitor voraz. Apesar de todos acreditarem que os “imortais” estavam morrendo de causas naturais, ele bate o pé e resolve investigar o caso. E para por aí, porque ele não consegue nenhuma pista de fato. Quem as dá é sempre o assassino e, com isso, o comissário não desvenda o crime.

Como disse, nenhum dos suspeitos elencados tem motivação para cometer os crimes. Ele só descobre o significado das pistas graças a um deus ex machina que resolve o crime de uma hora para outra, tirando toda a parte da dedução. Isso sem contar que ele transa com todas as mulheres que investiga, sem nenhuma explicação. Ele vai, entrevista e come. Parece até simples.

Quase isso

O último ponto é o humor. Dos livros do Jô que eu li (falta apenas O homem que matou Getúlio Vargas), Assassinatos é o mais fraco nesse quesito. Muitas piadas não funcionam e algumas situações são mais embaraçadoras do que cômicas. Com isso, a tríade de elementos utilizados sempre por Jô não funciona e Assassinatos não se completa.

Assassinatos na AcademiaBrasileira de Letras
Jô Soares
Companhia das Letras, 2005
252 páginas