As esganadas
Jô Soares
Publicado em 2011
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As Esganadas é um livro típico do Jô Soares. Por ser o quarto dele, já é possível perceber um estilo muito característico: ficção misturada com história misturada com comédia. O grande problema de As Esganadas é que isso não dá liga.
Antes de falar do livro, vamos a um pequeno resumo da história. Caronte é dono da famosa funerária Estige, herdada do pai e com fama de ser a mais importante do Rio em 1938. A mãe engordou muito durante a gravidez do filho e, desde então, passa a controlar a alimentação do menino. Então um dia, depois da morte do pai, ele se cansou e decidiu matá-la. Por ver a mãe em qualquer mulher gorda, ele se torna um serial killer de mulheres com esse tipo de corpo. A história de As Esganadas conta como aconteciam os crimes e as desventuras da polícia para descobrir o culpado.
Como deu para perceber, o assassino é revelado no primeiro capítulo. A motivação também é dada de mão beijada e, por mais que ela seja boba, é suficiente para o surgimento de um serial killer. Mas o maior problema em revelar o vilão no início é que é necessário que ele seja muito interessante para tudo funcionar, coisa que Caronte não é.
Nem vou comentar sobre as referências óbvias do nome do personagem e da funerária, ou mesmo da rua em que realizava as mortes (Elpídio Boamorte). O problema é que não há um aprofundamento do personagem. O máximo que sabemos é que tem uma doença raríssima e que é um músico frustrado. Isso prejudica a autoestima e o faz se esconder do mundo. Como as partes em que ele aparece se resumem a planejar e executar as mortes, nada é bem explorado.
Com um vilão insosso, que sabemos desde o início quem é, resta saber como a polícia chegará até ele. Por ser um crime complicado de desvendar, pois o seria killer não deixa pistas, a polícia é até esperta o suficiente para descobrir o culpado. Isso tudo graças ao Sherlock Holmes português que Jô colocou na história: Tobias Esteves (em uma referência ao poema de Fernando Pessoa sobre o Esteves sem metafísica).
Tobias usa os mesmos métodos de dedução do Sherlock, chegando até mesmo a citar Doyle pelo menos duas vezes durante a história. Os outros personagens principais são o delegado Mello Noronha, que não tem nada de marcante para citar aqui; o assistente Calixto, um medroso policial que, com sua malandragem, acaba ajudando as investigações sem querer; e Diana, jornalista d’O Cruzeiro que está na história para cumprir a cota de mulheres que não serão mortas.
Um ponto a ser destacado é a pesquisa histórica que Jô faz para cada um de seus livros. É um extra, com informações interessantes para entender certos aspectos da obra. Admito que isso é muito legal, mas em As Esganadas não funciona. A história do serial killer não tem ligação com o período histórico, muitos trechos de descrições não acrescentam em nada e servem apenas para mostrar um intelectualismo do livro. Isso fica pior quando Jô usa diversas frases em outras línguas (latim, italiano, alemão) e não coloca a tradução nem em notas de rodapé.
Apesar disso tudo, é uma leitura divertidinha e algumas piadas funcionam. Mas não vá achando que é um livro que te fará chorar de rir porque não é. A falta de um clímax e o contexto histórico inoportuno são bem broxantes. E isso faz com que o livro perca muitos pontos comigo.
As esganadas
Jô Soares
Companhia das Letras, 2011
262 páginas
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.