“Aí ela me bloqueou, véi.”
“Como assim?”
“É! Depois de ter falado um monte na minha cabeça, a desgraçada ainda teve a pachorra de me bloquear em tudo. Sumiu a foto do Zap, parou de receber mensagem, apagou do Instagram, do Twitter. Até do LinkedIn aquela filha de puta me excluiu.”
“Eita. Mas vamos combinar que cê fez por merecer, né.”
“Mereci o caralho. Eu amo aquela vaca.”
“Cê acabou de me contar a história toda, cara. Foi tudo errado desde o início. Não tinha jeito. Cês terminaram tem o quê? Quatro meses? Larga mão, tá na hora.”
“Até parece. Ela não merece aquele carinha que tá com ela.”
“Já disse, larga mão. Ela tá bem.”
“Tá bem o teu cu. Eu conheço ela. Tá lá fingindo que tá de boa, achando que porque leu uns dois livros de autoajuda e foi em umas sessões de terapia pode me tirar da vida assim. Nunca ela teve tão errada.”
“Parece que o único erro dela foi ter aceitado seu pedido de namoro.”
“Cê é meu amigo ou não é?”
“Sou, mas cê vacilou demais.”
“Tá, posso ter feito uma coisa ou outra errado. Mas ela também tem culpa, porra. E não muda o fato de que ela tinha que estar comigo, não com aquele merdinha.”
“Olha cê sendo possessivo de novo. Esse foi um dos motivos dela ter te chutado.”
“Esquece, cê não entende. Sabe do que ela precisa? De mim. Precisa é sentir de novo uma fungada minha no cangote, passar a noite em claro comigo igual a gente fazia lá no início.”
“Deixa de show, até parece que você aguenta mais de uma numa noite. Tem mó cara de quem mete, vira pro lado e dorme.”
“Vai se fuder, o pai é uma máquina! E aquele corpo dela é uma droga mais potente que tadala. Eram noites e noites sem dormir direito, amigo.”
“Vou fingir que acredito. Mas o que cê pretende fazer agora?”
“Vou na casa dela, né? Preciso ouvir da boca dela porque aquele zé droguinha tem que eu não tenho.”
“Caralho, bloquear não foi um recado forte o suficiente?”
“Ela fez no impulso. Já não te falei que amo aquela desgraçada? Aposto que ela tá achando que me odeia, mas adoraria que eu tivesse lá do ladinho dela. Fala que nunca mais em pegaria e tals, mas no fundo ia amar repetir. Tem melzinho aqui na pica, véi.”
“Tenho que ser muito seu amigo pra ficar ouvindo essas asneiras, viu. Mas não vou deixar cê ir lá não, vai ficar aqui no bar comigo.”
“Sabe o que ela falou antes de me bloquear? Que tinha que fazer isso porque eu já tava entrando demais na cabeça dela. Eu tava quase conseguindo, véi. Quase. Aí ela foi lá e me bloqueou. Ela tem saudades de mim, só não consegue admitir.”
“Tem saudade porra nenhuma, cê consegue ser insuportável quando quer. Eu te amo, cê é meu melhor amigo, mas sabe que é verdade. Se fosse eu no lugar dela, teria te bloqueado também.”
“Mas cê já viu foto do sujeito que tá comendo ela agora? O caboclo, além de tudo, é feio pra porra.”
“E você é o galã de Beagá?”
“Não, mas o pai tem mel, já disse.”
“Odeio quando cê fica se chamando de pai.”
“Eu sei, é de propósito. Mas esquece isso, me fala como vou fazer pra ela me desbloquear? Tô morrendo só de pensar nela, sei lá, no barzinho com outro numa sexta à noite. Pior, indo pro motel com aquele horroroso num domingo à tarde.”
“Cara, ela não vai te desbloquear. Desencana disso.”
“Mas eu amo aquela desgraçada.”
“Sim, cê já falou isso mais de uma vez. Segura seu pau na calça pelo menos uma vez e usa a cabeça. Ela não te quer. Ponto. Acabou.”
“Acabou o caralho.”
“Acabou. Bebe essa cerveja aí e relaxa a cabeça. Na hora que você pegar outra vai ver que a vida vai muito além dela. Aliás, olha aquela mesa ali.”
“Qual?”
“Do seu lado, 9 horas. Duas mesas depois da nossa.”
“Ah, carai. Deu um déjà vu aqui. Foi assim que eu conheci ela. Cê quer me deixar mal, é isso?”
“Esquece. Só bebe e depois a gente vê o que faz.”
“Mas, pensando bem, elas são muito gatas, né?”
“Ô, gatas para um caralho. Sei nem o que fazer se pego uma delas.”
“Vamos lá, então?”
“Cê não tem jeito…”
Para ler ouvindo: Luan Santana (feat. Ana Castela) – Deja vu
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.