Pra que existe física? Não sei pra que estudar gases ideais, superfícies sem atrito. Isso nem existe! Aposto que é lenda de físico, tipo Saci Pererê ou Mula sem cabeça. Se bem que acredito mais no Curupira do que no vácuo.
Nenhuma professora me fez gostar dessas coisas inúteis. Até a chegada da Tânia, lógico! Ah, a Taninha! Tá certo que ela não conseguiu ensinar nada até hoje, mas pelo menos ela é gostosa. E bota gostosa nisso! Ela pode ser quase cinquentona, mas eu pegava fácil. Continuo sem saber física, mas pelo menos presto atenção nas aulas. Desculpa, não quis dizer na aula. Agora presto atenção na Tânia. Que corpo! Que rosto perfeito, quase sem rugas! E que bunda!
A melhor parte da aula é a resolução de exercícios no quadro. Ela nunca sabe responder, mas pelo menos tenta. E ela é tão boa tentando! Na verdade ela é boa de qualquer jeito. No final, ela acaba desistindo e chama alguém para responder. Mas nada disso importa. O que importa é a calça jeans apertada e a blusa decotada que ela sempre usa.
Nunca fiquei tão calado em sala e também nunca tive tantas dúvidas. Estou até estudando a matéria em casa pra ver se elas aparecem. Afinal, é só levantar a mão que ela vem rebolando direto para minha carteira. Que tesão.
Mas ela só tem um defeito: é carrasca. O último bimestre está quase acabando e tenho só trinta pontos em setenta e cinco. Preciso de doze para ficar de recuperação! São dois pontos acima da minha média. E com a Tânia isso é praticamente impossível.
Ainda bem que metade da sala também está precisando e isso me tranquiliza. Tenho certeza que ela vai levar todo mundo para a recuperação e, segundo boatos, não vai reprovar ninguém. Dizem que a prova de recuperação é a mais fácil de todas. Vejamos, então.
É só isso que me deixa mais tranquilo. Tranquilo para viajar naquele mulherão. Linda. Sua voz doce pronuncia alguns sons melosos que dizem alguma coisa como prova… prova!? Em dois dias!? Lá vem ela com terrorismo. E eu já disse que acho terroristas muito sexys?
Passou a prova e eu, para variar, me fudi. Mas pelo menos consegui ir para a recuperação. Doze, na pinta! Passar de ano já era certo, então sofria por antecipação. O que faria sem a Taninha toda semana? Mas um dia antes da prova, recebi uma ligação que me deixou empolgado. Era a secretária dela me chamando para uma conversa particular no gabinete dela.
Cheguei mais cedo do que o horário marcado. Havia um sugestivo aviso na porta do escritório de minha deusa: “Entre sem bater”. Obedeci cegamente e fui entrando. Vazia! Era uma salinha aconchegante, mas o que me chamou atenção foi a cadeira. Sabe aquelas cadeiras dos chefes de filme? Altas, acolchoadas e reclináveis? Pois é, era uma dessas.
Lógico que não resisti e sentei. Sentei e senti o doce perfume de minha professorinha. Nessa hora, ela e a secretária chegaram. Levantei correndo, ensaiando milhões de desculpas. Ela disse para não me importar e me mandou puxar uma cadeira (que não fosse a dela) para conversarmos com calma.
Adrenalina a mil. Não tinha nem reparado o quanto ela estava linda. E era a primeira vez que via a secretária dela. Aquilo que era secretária! Minha boca ficou aberta por um bom tempo até que escutei o doce som da voz da Tânia me trazendo para a realidade:
– Ygor, você sabe por que está aqui?
“Com certeza não é para ver seus peitos”, pensei, tirando o olho do decote dela.
– Bem – continuou – você deve saber melhor do que eu que seu caso é quase perdido. Se você não fizer algo realmente bom, você provavelmente repetirá o ano. Te chamei para saber o que você tem para me oferecer para que eu mude de ideia.
Enquanto a secretária trancava a porta, fiquei olhando para a Tânia, surpreso. Foi quando ela levantou da cadeira e fechou as persianas do escritório.
– E então? – repetiu, abrindo um botão da camisa que estava vestindo – O que você tem para me oferecer? Eu nunca tinha entendido o porquê do apelido de baronesa do sexo até aquele momento. Da secretária nunca tinha ouvido nada, mas estava gostando das carícias que ela me fazia.
Vida dura, né? As duas me deixaram louco. Foi quando escutei uma sirene que cortou todo o clima. Era hora da prova. Elas se levantaram como se nada tivesse acontecido e saíram. Demorou um pouco para que eu voltasse ao meu corpo (e encontrasse minhas roupas), mas vesti o uniforme e voltei pra sala.
Quando cheguei, ela já estava lá. Poderosa, sedenta por sexo. Foi a prova mais fácil que fiz na vida. Ela estava corrigindo na hora e entregando as notas. Coloquei minha prova na mesa, ela me olhou por inteiro, olhou para minha prova, deu aquele sorrisinho sarcástico que é característico dela e escreveu: “eu queria algo realmente bom”. Fui reprovado.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.