Ao dar início às retrospectivas de 2023, tenho que me lembrar o tempo inteiro de que este foi um ano atípico na vida. Qualquer análise dos resultados obtidos terá, obrigatoriamente, o viés da morte da minha mãe, em janeiro. Foi um evento que impactou – e ainda impacta – minhas vontades, a forma como enxergo o mundo e as minhas prioridades. Além disso, como voltei todas as poucas forças que tinha para o trabalho, isso também gerou efeitos diretos sobre tudo nessa retrospectiva.
Apesar de toda essa justificativa, porém, fiquei surpreso ao ver que o número de músicas ouvidas este ano ficou muito próximo ao de 2022, apenas com uma leve queda (28.346 x 28.595). Ao ver o gráfico mês a mês, percebi que me mantive mais constante em 2023, com cerca de 2 mil músicas tocadas por mês. Isso é abaixo de anos anteriores, lógico, mas também sei que a demanda por reuniões e trabalhos presenciais aumentou muito nesse período, o que me impede de ficar ouvindo música o tempo todo.
E é sempre bom lembrar que os indicadores abaixo foram retirados do meu perfil no Last.fm. Como ele é integrado ao Spotify, os resultados acabam sendo bem próximos à realidade. Enfim, vamos às listas:
Artistas mais ouvidos

Uma questão que venho observando no Spotify é o aumento de playlists montadas só por algoritmos, baseadas no que já estamos acostumados a ouvir. Por um lado isso é bom, porque nos deixa em um território confortável. Por outro, atrapalha minha maior diversão, que é descobrir coisas novas. Ao ver os números, essa tese acabou sendo confirmada. Com 247 músicas, o Mc Pedrinho teria sido o 4º artista mais ouvido de 2022, por exemplo, não o 10º. O número absoluto também caiu de 8.139 para 5.777, mesmo com praticamente o mesmo número de canções tocadas. Ou seja, para ficar no top 10 deste ano precisou ter tocado bastante no meu ouvido.
O grande destaque de 2023, para mim, fica com o padrim. O lançamento de O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta me deixou obcecado. Fui ao show de lançamento aqui em BH e não tirei mais o álbum dos ouvidos (spoiler: foi o mais ouvido do ano). Músicas como Estante de livros, O que te faz ir para outro planeta? e Químico amor fizeram parte da minha trilha sonora oficial. E ter assistido tudo ao vivo tornou essa experiência ainda mais marcante.
Outra experiência marcante ao vivo foi com o Emicida, que acabei assistindo duas vezes ao vivo em 2023. Na primeira, estava em São Paulo e um amigo me chamou para ir: foram quatro horas de show. Na segunda, estava em um evento e ele foi a atração surpresa: fiquei a menos de cinco metros dele. Dois momentos que eu precisava desopilar. Poder cantar “quem tem um amigo tem tudo” abraçado com pessoas que eu amo como irmãos não tem preço. E A ordem natural das coisas, Hoje cedo e Levanta e anda são apenas alguns dos muitos destaques nas minhas playlists.
Para encerrar os artistas inéditos no top 10 tem o Don L. Ele é o preferido do meu amigo Lucas Txai e, por influência dele, comecei a ouvir e curti bastante – a ponto de ter ficado na 6ª posição em um ano bem disputado. Fui em um show dele ano passado, inclusive, o que ajuda a explicar como ele veio parar aqui. Depois das 3, Beira da piscina e Bingo ficaram no top 3, mas outras valeriam menções honrosas também.
Os outros são figurinhas carimbadas no meu top 10 e não vou ficar falando muito sobre eles porque já fiz em anos anteriores. Djonga subiu oito posições e alcançou o pódio pela primeira vez. Fresno e Forfun também galgaram alguns lugares em relação a 2022 e ficaram em 4º e 5º, respectivamente. Braza saiu da primeira posição, mas este ano acabei ouvindo mais os caras do que ano passado – e fui a um show deles também. Baco Exu do Blues e Charlie Brown Jr. saíram do pódio para ocupar as últimas posições do top 10. Fechando a lista está o Mc Pedrinho, que retorna com o lançamento do álbum PXP.
Músicas mais ouvidas

A maior bizarrice da minha lista de mais ouvidos do ano são sempre as músicas. Enquanto os artistas e álbuns ainda tenho um certo controle, aqui é onde ouvir playlists aleatórias mais dá impacto. São músicas que entram por inércia e, quando assusto, estou cantarolando sem saber como adquiri conhecimento da letra. Aliás, não tem absolutamente nenhuma música que apareceu no top 10 que eu tenha colocado de forma voluntária para tocar. Nenhuma. Todas são resultado do algoritmo do Spotify me enfiando coisas da moda para ouvir – e eu as aceitando passivamente.
Mama.cita, por exemplo, está em primeiro e não sei como foi parar lá. Juro que não tem nada a ver com toda a polêmica envolvendo a Luísa Sonza e o Chico, foi só coincidência mesmo. Flowers em segundo é mais explicável, porque foi uma das músicas do ano. Já Sereia, do Orochi, tá em terceiro e tive que dar play para lembrar qual era. Quando fiz isso, porém, percebi que sei a letra inteira. Aliás, isso vale para absolutamente todas as canções que aparecem na sequência.
Talvez a única que eu tenha feito um movimento para ouvir seja Ai Papai, da Anitta. Isso porque tenho uma memória vívida de estar parado, de bobeira, e minha cabeça começar a tocar AI, PAPAI, MACETEI do mais puro nada. E ficava assim por horas, até eu tomar vergonha na cara e ouvir a música. Ou seja, foi mais por insistência do meu próprio cérebro do que porque foi uma das minhas músicas preferidas do ano mesmo.
Álbuns mais ouvidos

Pela primeira vez, a lista de álbuns mais ouvidos não possui a trilha sonora do musical Hamilton. Será que, enfim, consegui me livrar desse vício? Só o tempo dirá, mas o top 10 continua seguindo a tradição de acompanhar os artistas mais ouvidos. O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta, do FBC, está disparado na frente. Mas ainda tem espaço para um antigo do Forfun (Teoria Dinâmica Gastativa), dois do Don L (Caro vapor e Roteiro para Aïnouz), um do Emicida (AmarElo), um do Djonga (Ladrão), um do Baco (Bluesman) e um do Braza (Tijolo por tijolo). Dois álbuns, porém, destoam.
Sei bem porque Admirável chip novo está ali. Com o lançamento do especial de 20 anos, com as músicas originais reimaginadas por outros artistas, me deu muita vontade de ouvir aquele que foi um dos álbuns da minha adolescência, então acabei fazendo isso algumas vezes. O outro está ali pelo simples fato de que um dia decidi trabalhar ao som da trilha dos jogos de Pokémon e ele ficou no repeat algum tempo, então por isso aumentou a contagem de músicas. Nada especial, apenas loucuras da minha cabeça mesmo.
Anos anteriores
- Músicas mais ouvidas em 2022
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Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.