Achei que quando voltasse a trabalhar presencialmente, o número de músicas ouvidas teria uma queda significativa. Na prática, isso não ocorreu. Desde outubro, o fone bluetooth voltou a fazer parte do meu uniforme diário. Vou para a firma ouvindo música, sigo trabalhando com sons no meu ouvido e, nas vezes que me atrevi a voltar andando para casa, tenho quase uma hora de entretenimento garantido no caminho.
Apesar disso, os resultados de 2021 foram ligeramente menores do que nos dois anos anteriores, ficando em patamares próximos aos de 2017 e 2018. Nada preocupante, uma vez que os índices permanecem acima da impressionante marca de 30 mil canções tocadas – o que sempre causa espanto nas pessoas quando sai a retrospectiva do Spotify.
Como este é o quarto ano fazendo o ranking das mais ouvidas, já é possível perceber certos padrões no meu consumo, que vou detalhar ao longo do texto. Pode não fazer muito sentido, mas juro que há um padrão. E vale lembrar que todos os números abaixo foram retirados do meu perfil no Last.fm. Como ele é integrado ao Spotify, os resultados são bem próximos à realidade. Dito isso, vamos às listas:
Artistas mais ouvidos
Mesmo com um menor número de músicas ouvidas, este foi o ano em que mais artistas diferentes passaram pelos meus ouvidos (7.494 contra 7.062 do ano passado – e nem existe esse tanto de artistas, vamos combinar). Talvez isso ajude a explicar porque há uma diferença tão pequena entre meu top 10, com apenas 189 vezes separando o 1º do 10º. A explicação real, porém, é que não tenho muita lógica na hora de escolher as playlists do dia.
Mas algumas coisas já são tradicionais. Mc Livinho, Fresno, Calle 13 e Panic! at the Disco são figurinhas repetidas desde a primeira retrospectiva, em 2018. Quem marca três aparições são o BRAZA (terceiro ano consecutivo) e o Mc Pedrinho (de volta após ficar fora do top 10 em 2020). Djonga carimbou sua vaga pelo segundo ano seguido e, com isso, temos um pequeno cenário do meu gosto musical nos últimos tempos. É uma mistureba, mas é minha mistureba e vou defendê-la.
Desses, os únicos que vieram com novidades em 2021 foram a Fresno – com o lançamento do álbum Vou ter que me virar, que ainda não sei bem se gostei – e o Djonga – com o álbum NU, que gostei bastante. De resto, apenas singles que ajudaram a deixar o ano um pouco mais movimentado e, deles, destaco a ótima Avenida, do BRAZA. Isso fez com que os novos nomes na lista fossem poucos, mas todos de artistas que tenho grande apreço.
Em quinto lugar ficou o mega talentoso Bruno Mars, que considero o artista mais completo do pop há muitos anos. O lançamento de An evening with Silk Sonic fez com que o número de vezes que ele passou pelos meus ouvidos explodisse esse ano, em especial com a belíssima Leave the door open – disparada a que mais ouvi dele esse ano. Além disso, completam meu top 3 de mais ouvidas That’s what I like (que é minha música de dançar pelas ruas) e a antiga, porém excelente, Locked out of heaven.
A Rihanna é outra impossível de contestar o talento, embora não lance nada há muito tempo. A presença dela nessa lista se dá porque em março e abril decidi passar um dia inteiro ouvindo só as músicas dela enquanto trabalhava. Ou seja, somando com o que já ouço normalmente, foi o suficiente para atingir o top 10. Tanto que as três primeiras são apenas clássicos: Umbrella em primeiro, Don’t stop the music em segundo e um empate entre Hate that I love you e Only girl (in the world) em terceiro.
Para fechar os artistas inéditos no top 10 tem a Lady Gaga. Da mesma forma que ocorreu com a Rihanna, em março e novembro decidi ouvir várias músicas dela na sequência e, bom, ela cravou um lugar no top 10. O pódio tem Bad Romance, Born this way e um empate na terceira posição entre Just dance e Telephone.
Músicas mais ouvidas
Apesar de os números totais de músicas ouvidas estarem bem próximos de 2018 e 2019, a quantidade de faixas tocadas é bem mais alta do que nos anos anteriores (perdendo apenas para 2020, que teve 18.029). Além disso, pela primeira vez, nenhum dos artistas mais tocados conseguiu emplacar uma faixa no meu top 10. É um indicador claro de que ouço coisas diversas o tempo inteiro e, por estarem em várias playlists, as mais tocadas do ano também acabam aparecendo de tabela por aqui.
Isso explica, por exemplo, MONTERO (call me by your name) estar na primeira posição, uma vez que esta foi uma das principais músicas do ano. Até gosto muito dela, mas não é algo que coloco para tocar sempre. Ela apenas está ali e aceito de bom grado. Acho, inclusive, que posso falar a mesma coisa para todas as canções que aparecem nessa lista.
Sei a letra quase toda de Peaches por pura inércia e me pego cantarolando ela de vez em quando. Levitating e Stay com certeza apareceram por culpa do Tiktok, mas são ótimas canções – e marca mais uma música da Dua Lipa no meu top 10, depois de Don’t stop me now no ano passado. A sensação Olivia Rodrigo surgiu com duas aqui: Drive licence e good 4 you, justamente as mais famosas do álbum (que aparece entre meus mais ouvidos do ano). Já Positions, da Ariana Grande, precisei jogar no YouTube para relembrar como era, porém nos primeiros acordes já lembrei de toda a letra. Mesma coisa com Kiss me more, da Doja Cat.
Blinding lights é a única música repetida do ano passado, mas aí vai no efeito The Weeknd (e porque ela é muito boa mesmo, temos que admitir). Para fechar a lista tem Watermelon Sugar, talvez a única aqui que eu coloque para tocar voluntariamente de vez em quando. Ou seja, um top 10 que poderia ser o próprio top 10 do Spotify porque só tem as músicas de sucesso do ano.
Álbuns mais ouvidos
O que acontece com as músicas mais ouvidas não se repete com os álbuns porque aqui conta mais eu ter colocado voluntariamente para ouvir. Quando faço essa escolha, ouço de cabo a rabo sem parar, o que contribui para aumentar os números finais. Até mesmo por isso, Hamilton ocupa a primeira posição pelo terceiro ano (no ano que ele não ficou em primeiro, quem ficou foi a mixtape de Hamilton). É minha pequena obsessão há anos, então não tem muito o que fugir aí.
Os dois álbuns do BRAZA aparecem na lista novamente porque a banda precisa lançar novos para que eu possa me viciar neles e abandonar um pouco os antigos. Já o Djonga volta ao top 10 deste ano, mas com Ladrão, uma obra diferente da que apareceu no ano passado (em 2020 foi Histórias da minha área). E a Olivia Rodrigo aparece de penetra, só porque ela tem apenas um álbum e as músicas dela tocaram demais ao longo do ano.
As novidades da lista (e que devem permanecer por um tempo nos meus ouvidos) são dois musicais e uma obra autoral de um amigo. Já tinha conhecimento do musical In the Heights e tinha ouvido algumas vezes, mas o lançamento do filme me fez ficar ainda mais viciado na trilha sonora – o que dá para perceber porque as duas ocupam o restante do top 3. E, quando o meu homem Lin-Manuel Miranda lançou Tick Tick… Boom, não teve jeito e ouvi a trilha em looping infinito também.
O último ábum é especial porque é de um amigo pessoal, o Felipe dos Santos. Meu amigo tilelê diz que sou brega, mas acho isso meio problemático é o primeiro lançamento autoral dele e fiquei muito feliz com o resultado. Fico particularmente alegre vendo as pessoas que amo colocando seus projetos no mundo, então é um prazer ter contribuído para dar stream na lenda. Vocês também deveriam ir lá e ouvir essa delicinha.
Anos anteriores
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.