Um fato curioso sobre minha pessoa é que uso músicas como plano de fundo para tudo que faço. Como me desconcentro fácil quando tem alguém falando perto de mim, ter algo nos ouvidos é o alívio de que nada irá me incomodar. É a certeza de que poderei sentar e escrever uma matéria sem ser interrompido. Uma fórmula para tornar meus dias mais sadios.
Apesar de ouvir muito, entendo pouquíssimo de música. Não é algo que eu domine e, sinceramente, não é algo que eu queira dominar. Então sigo feliz sendo um grande amador, ouvindo apenas as coisas que me deixam feliz – independente do que você considera como “música de qualidade”. Por isso, Beatles e Mc Papo conseguem conviver em harmonia nas minhas playlists, por mais estranho que possa soar para quem vê de fora.
Além disso, mantenho um registro bem acurado do que andei ouvindo desde 2008. Meu perfil no Last.fm é integrado com meu Spotify (o dinheiro mais bem pago do meu mês, com certeza) e guarda tudo que passou pelos meus ouvidos durante o dia. E como todo mundo me fala o quanto meu gosto musical é bizarro, decidi trazer para o blog os artistas, músicas e álbuns mais ouvidos do meu 2018.
Artistas mais ouvidos
Foram mais de 5 mil artistas ouvidos ao longo deste ano, o que é coisa para um caralho. Às vezes suspeito que nem existe esse tanto de artista e o Last.fm está rindo da minha cara. Mas, enfim, essa imagem acima mostra qual é o meu top 10. À primeira vista, não parece fazer sentido – ou faz, se você entende um pouco dos meus gostos peculiares. Mas eu juro que tem uma lógica aí, então acho que vale destrinchar um pouquinho para explicar como funciona minha cabeça musical.
Calle 13 é uma paixão antiga, que voltou com força para meus ouvidos há uns três anos. Todo mundo que me conhece sabe da minha paixão por espanhol e encontrei no Calle 13 minha banda preferida nessa língua. Os raperos porto-riquenhos têm músicas incríveis como Latinoamérica, Vamo’ a portarnos mal, La vuelta al mundo e Ojos color de sol.
A segunda colocação foi para a Fresno. Toda vez que disso isso, causa estranheza em muita gente. Quando a banda estourou, lá para os anos de 2006 a 2008, o rótulo “emo” espantou a galera. Ninguém queria ser associado àquele visual com franjinha e maquiagem. Mas a banda segue produzindo música de qualidade, de forma independente. Hoje, são uma das minhas favoritas. Um dos últimos singles que eles lançaram, inclusive, é uma das coisas mais lindas que eles já soltaram. Ouçam Onde fica a estrela e se encantem.
Na sequência, dois MCs. Sei o que você pode estar pensando, mas ouço funk de livre espontânea vontade para trabalhar enquanto balanço a raba. Nesse cenário, ninguém melhor para compor o Top 10 do que Mc Livinho e Mc Pedrinho. Acompanho a carreira dos dois há alguns anos (o Pedrinho, então, sigo desde que ele tinha uns 12 anos) e me divirto bastante com as músicas. É ótimo cantar Fazer Falta, Hoje eu vou parar na Gaiola, Azul piscina, Fim de semana na quebrada e Bumbum bate a plenos pulmões e não me arrependo nem um pouco deles estarem nessa lista.
A 5ª e a 6ª posições são ocupadas por duas bandas que surgiram na mesma época e são confundidas até hoje. Por volta de 2005/2006, o Fall Out Boys lançou Sugar, we’re going down e o Panic! at the Disco soltou I write sins, not tragedies. Desde então, as duas estouraram, saíram do estrelato e começaram a fazer umas coisas diferentes. Eu, particularmente, gosto mais do trabalho do Panic!, que trouxe músicas como Emperor’s new clothes, Say amen (Saturday night) e a incrível High hopes. Já o Fall Out Boys lançou Uma Thurman, Centuries e City in a garder, que também são bem bacanas.
Continuando a lista, voltamos para o funk e para o homem com a voz mais grave do cenário nacional. Jerry Smith, para mim, foi um dos grandes nomes do ano, com músicas como Menina Braba, Kikadinha e Não se apaixona. Isso sem falar em Troféu do ano e Pode se soltar, que, apesar de terem sido lançadas ano passado, estão ecoando nos meus ouvidos até hoje.
Um estreante nos meus ouvidos é o Belchior. Já tinha ouvido algumas músicas dele, mas nada de forma ordenada e prestando atenção. Esse ano fiz isso e, olha, achei uma das coisas mais maravilhosas desse mundo. Além das letras doídas, ouvir Belchior traz uma tristeza extra ao me lembrar de uma amizade que terminou. Como bom novo ouvinte, estou mergulhado no álbum Alucinação, com suas belíssimas Velha roupa colorida, Como nossos pais, Apenas um rapaz latinoamericano e a própria Alucinação.
A 9ª posição é enganosa. O Lin-Manuel Miranda devia estar bem mais acima, mas como ele não canta todas as canções do musical Hamilton, nem tudo é creditado para ele. Não preciso falar da minha paixão por essa obra-prima, então vou poupar vocês da minha babação. Peço apenas que ouçam My shot, Satisfied, Wait for it e It’s quiet uptown. Aliás, ouçam o musical inteiro lá no Spotify. E a mixtape também.
O último artista desta lista é o Drake, mas preciso confessar uma coisa: não sei como ele chegou à 10ª posição. Minha única explicação é a onipresença. Sim, o Drake foi um dos artistas do ano em todo o mundo, porém não me lembro de ter colocado voluntariamente para tocar. Mas como ouço muitas playlists prontas e ele estava em muitas delas, justifica a entrada neste ranking. Não é por acaso que a música mais tocada do meu ano foi God’s plan.
Músicas mais ouvidas
O Last.fm contabilizou 31.534 músicas ouvidas este ano – o que o Spotify marcou como mais de 104 mil minutos tocados. É uma média de 87 canções por dia e nem sei como isso foi possível. Meu Top 10 é um reflexo desse enorme volume, em que nenhuma música se destacou de fato como a mais ouvida com folgas.
Quando fiz a lista dos artistas, citei a maioria das que estão presentes, então vou me concentrar apenas nas que não falei ainda. Por coincidência, todas são funks, que uso para me animar a escrever. Amar, Amei foi lançada pelo Mc Don Juan no fim do ano passado, mas foi um dos mais bombados do carnaval e permaneceu ao longo de todo 2018. A mesma coisa com Ritmo mexicano, do Mc Gw, que encontrou seu espaço este ano. Vai malandra foi lançada no apagar das luzes de 2017 e se tornou um dos principais sucessos recentes da Anitta. E o Mc Kevinho (aquele de todos os hits) se juntou com o Matheus e Kauan, no melhor estilo funknejo, para lançar a grudenta Deixa ela beijar.
Álbuns mais ouvidos
Há pouquíssimas surpresas aí. O musical Hamilton aparece três vezes, Calle 13 outras três, Fresno uma e Panic! at the Disco outra. As outras duas vagas são ocupadas pelo Forfun e pelo Ira!. A primeira é uma banda que gosto muito, mas que acabou ficando um pouco de lado esse ano. A segunda é uma obsessão de quando eu tinha uns 15, 16 anos, que de vez em quando ainda bate uma vontade de ouvir.
Para você que me vê falando do meu Spotify no Twitter, esse foi apenas um recorte das minhas músicas mais ouvidas. Foi menos bizarro do que eu previa, mas consolidou a presença do funk no meu dia a dia. Era algo que eu já tinha notado um crescimento nos últimos anos, mas em 2018 bateu todos os recordes. Acho que estou feliz com os resultados e que venha 2019!
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.