“We find out what we’re made of
When we are called to help our friends in need“
Count on me – Bruno Mars
Em um ano de tanta reflexão – em que, na maior parte do tempo, me achei uma péssima companhia para meus amigos, meus interesses amorosos e meus colegas de trabalho –, é importante escrever essa crônica de redenção para ver que, sim, parece que o saldo de 2024 foi até positivo. E estou tranquilo para dizer isso, por mais estranho que pareça. Como esse é o último texto que escrevo para a retrospectiva do blog, acabei colocando muita coisa em perspectiva no caminho. Sei que andei muito negativo ao longo de todo o ano, como bom morador de Tadim/MG que sou, mas olhar para trás me faz ver que foi uma boa jornada.
A começar com essa parte de refletir sobre meus problemas. Tinha muito tempo que estava incomodado com algumas coisas que se passavam na minha cabeça e, agora, consegui colocar boa parte delas para fora. Foi simples? Não. Foi da melhor maneira? Não. Foi justo com quem estava muito perto de mim? Não. Mas foi do jeito que deu, aos trancos e barrancos. Entender um pouco mais desses sentimentos incômodos fez eu me abrir mais com meus amigos, experimentar algumas coisas, me arriscar mais em alguns âmbitos da vida. E, principalmente, começar a trabalhar naquilo que quero e não quero fazer. Um esforço consciente de olhar um pouco mais para mim e menos para o outro.
Essa, aliás, é mais uma expectativa do que algo que realmente concretizei em 2024. Ainda estou muito longe de conseguir me priorizar, sei disso. Ainda mais quando falo sobre trabalho e sobre para onde estou levando a minha vida, sou uma negação. Apesar de ter ganhado uma alta temporária da terapia este ano, tem uma questão pendente que preciso responder em 2025: qual o meu propósito? Entender isso vai me ajudar a parar com esse sentimento de vazio e de solidão que venho sentindo e que se intensificou após a morte da minha mãe. Talvez esse seja meu maior objetivo daqui para frente. É algo que falei na redenção do ano passado, que “estou cansado da sensação de ser levado”. Tenho algumas ideias, mas preciso tateá-las melhor para saber se será possível. Mas quero tentar – e só isso já é muito mais do que fiz nos últimos anos todos.
Isso exigirá renúncias, lógico. Exigirá escolhas. Vai doer, com certeza. Vou precisar me acostumar com perdas e novas realidades. Mas espero que também haja algumas conquistas. Não precisam ser muitas, não peço demais nesse sentido. Só quero terminar 2025 com a sensação de que dei alguns passos nesse caminho de descobrir melhor o que quero do futuro. Para alguém cujo única meta de ano novo é tentar ser a melhor versão de si mesma, esses pequenos passos são importantes para mostrar que há um processo de melhoria contínua sendo implementado.
Para isso, vou precisar contar muito com o apoio dos meus amigos e da minha família. Já disse inúmeras vezes que tenho a sorte de ter os melhores amigos do mundo e, mais uma vez, pude confirmar isso. Voluntária ou involuntariamente, estando perto ou longe, foram eles que me ajudaram a superar os piores momentos deste ano. Meu melhor amigo, coitado, aguentou alguns surtos meus que não deveriam nem ter existido em situações normais de temperatura e pressão – nunca vou me cansar de pedir desculpas para ele por isso. Já minha família foi esse porto seguro no meio do caos. A gente segue vivendo nosso luto silencioso, tentando fazer nosso melhor para garantir que todos fiquemos juntos mesmo depois de a cola que nos unia não estar mais aqui. Mas, no fim, todas as pessoas que passaram pelo meu ano foram essenciais para garantir que eu chegasse ao final de 2024 com um mínimo de sanidade.
Sei que 2025 não será fácil. Falei sobre isso no exorcismo e volto a afirmar aqui: será um ano de decisões difíceis. Mas estou tranquilo de que deverei tomá-las em algum momento. Vou me estruturar para isso, pensar bem em como fazer, mas sei que vou precisar encarar o chamado para a ação. É como se na minha jornada do herói pessoal, eu tivesse chegado em um dos marcos de mudança do roteiro. Vai ser na marra, mas tenho que continuar esse processo doloroso de me conhecer melhor.
*Como no exorcismo, não vou revisar ou editar este texto. O objetivo é ser um desabafo, não uma aula de literatura ou gramatical.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.