– Cara, o que você tá fazendo de cueca aí na varanda?
– Tava só olhando pro mar. Não consegui dormir direito.
– Ainda pensando nela?
– É.
– Ela ainda vai voltar, fica tranquilo.
– Vai nada, aquela puta. Ninguém volta depois de sumir no meio da madrugada.
– Já te falei, pode ter acontecido alguma coisa e ela teve que sair correndo.
– Aconteceu porra nenhuma. Ela não me queria mais e foi embora. Só isso.
– Mas ela levou tudo mesmo, não largou nada pra trás?
– Nada. Colocou as coisas na mala e sumiu.
– Procurou direito? Ela não deixou um bilhete nem nada?
– Não, caralho. Já te falei. Ela foi embora.
– Que puta!
– É, uma puta mesmo. A gente tava planejando essa viagem há meses e ela vai e desaparece.
– Será que ela tava pensando nisso há muito tempo?
– Não tenho a mínima ideia. Só sei que ela sumiu. Tô me sentindo um bosta, cara.
– Fica assim não, a culpa não é sua.
– Claro que é minha. Era a nossa primeira viagem juntos. Chamamos você e sua patroa pra gente curtir junto e ela vai e some. Claro que a culpa é minha. De quem mais seria?
– Dela. Ela que é louca.
– Não, cara. Ela nunca foi louca. Eu que devo ter feito alguma coisa errada. Eu sempre fodo tudo que tá em volta.
– Sem neura, cara. A coisa tava complicada com vocês dois? Tinham brigado ou alguma coisa assim?
– Nada. Tava tudo bom, pelo menos eu achava que tava. Antes dela sumir a gente deu uma e foi dormir. Acordei e ela não tava mais lá.
– Foda.
– Muito foda. Tô me sentindo o pior cara do mundo.
– Não bota isso na sua cabeça porque não é verdade. Marca aí que eu vou pegar uma cerveja pra gente.
Eram quase seis da manhã e já estavam há mais de 24 horas sem notícias dela. Nenhum telefonema, mensagem de texto, Whatsapp. Nada. Enquanto pegava a cerveja na geladeira, olhou para o amigo sentado na varanda. Coitado. Não era culpa dele, mas como fazer com que acreditasse? Se estivesse no lugar dele, com certeza também se acharia um bosta.
– Aqui sua cerveja, cara.
– Valeu.
– Calma, não abre ainda! Deixa eu tentar uma coisa. Fecha o olho.
– Pra quê?
– Caralho, não atrapalha o momento. Só fecha o olho.
– Beleza.
– Agora pensa nela. Pensa em tudo de bom que vocês passaram. Pensa na última noite de vocês juntos. Pensa no sentimento ao encontrar a cama vazia de manhã.
– Cara, cê não tá ajudando.
– Calma, porra. Agora abre o olho. Tá vendo aquele sol nascendo ali no mar? Bonito, não é?
– É. Bonito como sempre, do mesmo jeito que nos outros dias.
– Isso, do mesmo jeito! Pode estar nublado, chovendo ou até nevando, ele sempre vai nascer e sempre vai ser bonito. Não tô pedindo pra você esquecer ela. Longe de mim, o que ela fez foi filha da putagem. Mas todo dia é um novo dia e sempre é bonito. Sempre é o melhor dia de todos. A gente só precisa aproveitar ele da melhor forma possível. Agora abre essa porra de cerveja que tô ficando na vontade aqui!
– Aos amores perdidos!
– Ao futuro, amigo. Ao futuro!
Para ler ouvindo: Sol ou chuva – Forfun
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.